Ser criativo é para os fortes

Abrace o desconforto criativo

Tales Gubes
Ninho de Escritores
3 min readNov 16, 2017

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Em meu trabalho dentro do Ninho de Escritores, encontro muitas pessoas que desistem cedo demais e por isso não terminam suas obras. Em algum lugar, foram alimentadas com a ideia de que o trabalho criativo é gostoso, empolgante e inspirador, daí se fecham quando percebem que, apesar de ser tudo isso, também é perseverança, insistência e cabeça na parede.

Todos os dias, quando acordo mais cedo do que precisaria para ter meus minutos (às vezes, horas) de escrita, sinto vontade de continuar dormindo. Dormir é tão macio! Dá vontade de continuar repousando até o corpo dizer chega! e depois disso mais um pouco.

Muitos dias, ligo o computador, dou de cara com a tela em branco e fico pensando em desistir, em só hoje não escrever, em copiar um texto antigo — ninguém ficaria sabendo!

A zona de desconforto

Nos cursos do Ninho, falo muito sobre entrar e sustentar a zona de desconforto por tempo o suficiente para a criação acontecer. Embora ter uma ideia seja prazeroso, é o ato de moldá-la em algo que possa ser sentido e/ou compreendido por outra pessoa que realmente a torna valiosa. Ideia sozinha é adubo; a arte está em cultivá-la.

Entrar e ficar na zona de desconforto envolve uma série de escolhas e resistências. É como uma turbulência intencional. Neste momento estão passando pela minha mente incontáveis frases de desestímulo. Esse texto está ficando ruim. Todo mundo vai odiar. Por que tu não apaga tudo e começa de novo? Olha a hora, vai atrasar, larga disso. Essas são algumas, há muitas outras de onde elas vieram.

O que é curioso é que escrevo há anos e essas vozes da resistência criativa sempre estiveram aí. Arrisco dizer que sempre estarão, elas são o preço de entrar na zona de desconforto.

Entrar e ficar na zona de desconforto também envolve dizer sim para uma ação e dizer não para todas as outras possibilidades do universo. Se entro na zona de desconforto pela metade, é sofrimento gratuito. Como nunca sei qual será o resultado criativo de um esforço, tem horas que não vai dar em nada, mas preciso estar ciente disso e fazer mesmo assim.

Acho francamente triste quando encontro pessoas que não conseguem escolher. Geralmente elas estão presas em um ciclo eterno de não querer perder nada — e essa é a receita para perder tudo. Até uns anos atrás, talvez meses, eu não conseguia escolher. Toda escolha era uma novela, mas e se isso, mas e se aquilo… Somente quando entendi que a vida é aquilo que acontece depois que escolhi alguma coisa é que comecei a escolher mais rápido. Às vezes ainda me pego avaliando possibilidades, mas tenho adotado uma prática de experimentação contínua em vez de reflexão a priori. Confio que saberei quando algo for além dos meus limites.

A criatividade é para os fortes

Tomar uma decisão e sustentá-la por tempo o suficiente para que ela dê frutos é um baita ato de força. Infelizmente, não é qualquer pessoa que consegue. Mas sabe o que é mais legal? O que define esse tipo de força é justamente entrar e ficar na zona de desconforto por tempo o suficiente para render frutos.

A gente não é forte até que seja.

Sem atalhos, sem truques, sem manhas. Para mim, ajuda saber que outras pessoas já fizeram coisas parecidas. Também é bom ter um grupo de apoio, parceiros de jornada que me deem a mão quando a zona de desconforto ficar intensa demais. A comunidade de escritores-leitores do Medium me dá sustento, tanto quanto meus clientes-amigos no Ninho e as pessoas queridas que me estimulam. Mas no final do dia (ou no início dele, que é quando estou com a força de vontade recarregada), quem entra e fica na zona de desconforto sou eu, independentemente de alcançar os resultados desejados.

Desafio

Faça uma escolha e sustente-a por pelo menos um dia. Melhor se forem três. Experimente, veja o que acontece, depois me conte em um comentário.

Enquanto isso, se chegou até aqui, bata palminhas no Medium para eu saber que valeu a pena e comente — porque eu sei que você não voltará aqui mais tarde para comentar, a vida é muita coisa ao mesmo tempo pra gente sustentar esse tipo de compromisso.

Obrigado ❤

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Tales Gubes
Ninho de Escritores

Um olhar não-violento para uma vida mais livre, honesta e conectada. Criador do Ninho de Escritores, da Oficina de Carinho e do Jogo pra Vida.