Trânsito na casa 6
Cheguei com antecedência: 13 minutos antes do agendado. 12 minutos depois, chamam meu nome e a pessoa se apresenta; é quem vai me entrevistar. Ela começa dizendo que viu no meu currículo minha roda da fortuna na casa 10 em Capricórnio e por isso estamos aqui, agora. Me pede pra contar um pouco sobre minha experiência com o retorno de Saturno — que já passou da metade, estou com 29 anos e 11 meses — e como eu pretendo me preparar para o próximo.
A lua, neste momento, está em Libra fazendo um trígono com meu Mercúrio natal em Gêmeos. Então não tenho problemas em responder suas perguntas e ainda fico com uma imagem de “pessoa simpática e articulada”.
Até aqui, passei boa impressão. Mas em uma entrevista, é importante não só conhecer o melhor do candidato como também buscar por características que a pessoa não vai revelar de primeira. São breves minutos pra tentar extrair a experiência completa de convivência, maneira de trabalhar e de se relacionar com futuros colegas. Por isso, não me ressinto quando ela pergunta sobre meu Marte fazendo conjunção de apenas 1 grau com o ascendente justamente onde? Pois é, em Áries.
Não posso admitir minha impulsividade e nem que não sou a melhor das pessoas para trabalhar em grupo. Como minha lua em peixes não me deixa esconder nada, escolho lembrá-la — meu currículoestá logo ali do outro lado da mesa, com suas mãos apoiadas — que esse Marte está bem aspectado com aquele Saturno na casa 10. Um Saturno e um Marte domiciliados, trabalhando juntos. Espero que ela não esteja nesse momento pensando sobre e chegando à conclusão de que trabalho de forma individual para o meu próprio império.
Foca na lua em Peixes (lua em Peixes, lua em Peixes). Tão humana, tão humanitária. Tudo bem que ela está bem na casa 12, escondida e sem grandes atuações com o restante do mapa. São formas de interpretar. Prefiro ir na linha de que eu sou uma pessoa religiosa — não sou — e de que a dor do mundo dói em mim também. Não é justo acharem que toda a pessoa com ascendente em Áries tende ao egoísmo. Meu sol é em Aquário, eu saberia se estivesse sendo egoísta. E não estou (achei importante registrar).
Conto um pouco sobre minha Vênus em Virgem. Essa é uma parte que costuma fazer sucesso em entrevistas. Como aprecio organização e rotina; que concluir projetos é comigo mesma(até parece que um signo mutável termina alguma coisa.)
Na minha pesquisa antes de vir pra cá, descobri que esta pessoa que me entrevista agora tem sol em Leão, ascendente em Peixes e lua em Libra. Elogiei seus sapatos logo que nos cumprimentamos e conto com esse ascendente para ela não perceber minha quadratura Vênus em Virgem-Saturno em Capricórnio, fortíssima.
Ela me faz uma última pergunta, sobre como eu lido com a falta de ar no meu mapa, tão tomado por terra e fogo, e encerramos o papo ambas rindo e trocando olhares de cumplicidade.
O retorno sobre essa entrevista vai demorar um pouco pra vir, ela me lembra. Mercúrio está prestes a ficar retrógrado; só daqui um mês e meio pra assinarmos um possível contrato.
Saio confiante: afinal, é Lua Nova.
