Universo de Cinzas
“Entre o preto e o branco existe um universo de cinzas.”
Era o que você costumava me dizer todas as noites, deitada ao meu lado na grama, observando as estrelas no quintal de casa. Naquele tempo eu não compreendia e, com a resposta na ponta da língua, rebatia.
“Comigo é preto no branco.”
E você ria, com lágrimas se acumulando no canto dos olhos levemente arredondados. Suspirava fundo como quem se prepara para dar uma aula sobre o funcionamento das engrenagens do mundo e soltava o ar devagarinho, como se tivesse medo que a verdade me atingisse como um tapa na cara.
E atingiu.
Todas as noites, anos após sua partida, eu ainda me sentava sob o céu estrelado na esperança de que você me visse.
Você partiu muito cedo e eu nunca mais fui a mesma. Queria ter tido a chance de sentir seu cheiro mais uma vez. Daria tudo para ouvir sua voz e o quentinho do seu abraço.
Um buraco se abriu em meu peito no dia em que sua luz se apagou e meu coração caiu num abismo sem fim. A escuridão me acariciou e eu, abandonada, deitei em seu colo.
Os dias estão cada dia mais difíceis e agora eu entendo.
Entre o preto e o branco existe um universo de cinzas.
E as cinzas estão me enterrando viva.