A comunicação das coisas
Gosto muito do texto de abertura da introdução do livro do pesquisador André Lemos, que se intitula A comunicação das coisas: teoria ator-rede e cibercultura. Trago aqui para compartilhar com vocês:
“Humanos comunicam. E as coisas também. E nos comunicamos com as coisas e elas nos fazem fazer coisas, queiramos ou não. E fazemos as coisas fazerem coisas para nós e para outras coisas. É assim desde o surgimento do humano no planeta. Na cultura contemporânea, mediadores não-humanos (objetos inteligentes, computadores, servidores, redes telemáticas, smartphones, sensores, etc), nos fazem fazer (nós, humanos), muitas coisas, provocando mudanças em nosso comportamento no dia-a-dia e também, em contrapartida, recursivamente, mudamos esses não-humanos de acordo com a nossa necessidade”. (p. 19).
Parece confuso, mas é muito simples de entender…quando falamos hoje em interação, é preciso destacar a interação entre humanos, entre humanos e coisas e entre as coisas. Portanto, o que muda hoje é que temos coisas interagindo não só com humanos, mas entre elas!
O nosso smartphone troca informações com o computador, com o equipamento do som do carro, com a televisão….sensores podem detectar que chegamos em casa e acender automaticamente as luzes (tá certo que isso ainda é caro de fazer aqui no Br).
Uma busca no site da Amazon.com.br com a string “casa inteligente” nos mostra uma série de dispositivos, desde a assistente virtual Alexa até diferentes dispositivos para iluminação e segurança.
Para saber mais sobre a Alexa: https://tecnoblog.net/295738/o-que-e-a-alexa-ou-melhor-quem-e/
A possibilidade de comunicação entre as coisas por meio de tecnologias digitais é o que fundamenta o conceito de Internet das Coisas (ou Internet of Things — IoT)
“Isso é possível por meio das tecnologias de computação ubíqua, que integram a mobilidade (computação móvel) com os sistemas de computação distribuídos no ambiente de forma (im)perceptível aos usuários (computação pervasiva). Mark Weiser, cientista pioneiro na área de Computação Ubíqua, já dizia em um artigo publicado em 1991 no journal Scientific American e intitulado The computer for the 21th century, que as tecnologias que têm impacto mais profundo são aquelas que desaparecem. Desaparecer, neste caso, significa ficar transparente, ou seja, podemos usá-las sem pensar nelas, elas se entrelaçam na vida cotidiana até que sejam indistinguíveis (WEISER, 1991)” (BASSANI, 2019).
Esse vídeo desenvolvido pelo NIC.br (Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto br, articulado ao Comitê Gestor da Internet — CGI.br) explica de forma fácil o desenvolvimento da internet até chegar ao conceito de IoT.
Conforme Lemos (2013, p. 21), “a comunicação das coisas entre elas e entre nós só aumenta”. O autor destaca, ainda, que com as coisas cada vez mais inteligentes, as redes de objetos não-humanos delegando coisas para outros objetos não-humanos aumenta a mediação da ação de nós, os humanos. A mediação, “longe de ser neutra, está inserida na materialidade dos dispositivos, na constituição do seu design, no desdobramento das redes que dão apoio” (p. 22).
Mais uma vez aparece aqui a questão da não neutralidade, assim como abordei em textos anteriores, especialmente sobre estudos de software (ver Estudos de Software parte1, parte 2 e parte 3).
Me diz aí, com quantas coisas inteligentes você já interagiu hoje? ;-)
Referências:
BASSANI, Patrícia Scherer. Realidade aumentada na escola: experiências de aprendizagem em espaços híbridos. Revista Diálogo Educacional, v. 19, p. 1174–1198, 2019. Disponível em: < https://periodicos.pucpr.br/index.php/dialogoeducacional/article/view/25419/23694>
LEMOS, André. A comunicação das coisas: teoría ator-rede e cibercultura. SP: Annablume, 2013.
WEISER, M. The computer for the 21st century. Scientific American. 1991. Disponível em: < https://www.lri.fr/~mbl/Stanford/CS477/papers/Weiser-SciAm.pdf>
