Mais que on-line, OnLife…o que você já ouviu falar sobre isso?

Patrícia Scherer Bassani
Nisia
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3 min readApr 13, 2020
Créditos da Imagem: hbr.org

O documento intitulado The Onlife Manifesto: being human in a hypeconnected era, foi lançado em fevereiro de 2013. O texto, resultado das pesquisas e discussões desenvolvidas no âmbito do projeto Onlife Iniciative, foi elaborado por um grupo de pesquisadores liderados pelo professor Dr. Luciano Floridi.

A expressão onlife, cunhada por Floridi, refere-se a essa nova experiência de realidade hiperconectada na qual não faz mais sentido perguntar para determinado sujeito se ele está on-line ou off-line.

Os autores do documento entendem que as tecnologias da informação e comunicação não são apenas ferramentas, mas são “forças ambientais” que estão afetando de modo crescente: a) quem nós somos; b) nossas interações/como socializamos; c) nossa concepção de realidade; d) nossas interações com a realidade.

Além disso, os autores estão convencidos de que os impactos das tecnologias digitais na nossa vida acontecem devido a, pelo menos, quatro grandes transformações:

a) a distinção difusa entre a realidade e a virtualidade;

b) a distinção difusa entre humano, máquina e natureza;

c) a mudança da informação escassa para informação abundante;

d) a mudança da ênfase nas propriedades individuais e binárias, para a primazia das interações, processos e redes.

Considerando-se esse cenário, o que significa ser humano em uma era hiperconectada?

É preciso entender as (novas) relações que se constituem entre humanos e artefatos…

No mundo onlife, os artefatos não são apenas máquinas que operam de acordo com as instruções humanas. Os artefatos podem mudar de status de forma autônoma e podem fazer isso por meio da mineração dos dados disponíveis, que são cada vez mais abundantes, acessíveis e rapidamente processáveis.

Dados são gravados, armazenados, computados e retornam para o sistema por meio de diferentes aplicações e ambientes, criando oportunidades para ambientes adaptativos e personalizados, por meio de diferentes tipos de filtros.

Assim, o fato de o ambiente estar impregnado de fluxos de informação exige novas formas de pensar e fazer, a fim de que possamos endereçar questões como propriedade, responsabilidade, privacidade e auto-determinação.

Assim, a complexidade e o emaranhado entre artefatos e humanos nos convida a repensar a noção de responsabilidade no contexto dos sistemas sociotécnicos.

O termo sistema sociotécnico (socio-technical system ou STS) foi cunhado por Emery e Tristem em 1960, para descrever sistemas que envolvem uma complexa interação entre humanos, máquinas e os aspectos ambientais do sistema de trabalho (Baxter e Sommerville, 2011).

O documento The Onlife Manifest destaca a relevância de distinguir entre dois conceitos propostos por Friedrich Hayek: kosmos versus taxis, ou evolução versus construção, ou ainda, ordem espontânea versus planejamento. No conceito de Hayek, kosmos significa a parte, espontânea, supostamente natural, enquanto taxis representa aquilo que é feito, relacionado com a organização (política e tecnológica).

Atualmente os artefatos escaparam do controle humano, mas mesmo assim metáforas biológicas e evolucionárias seguem sendo aplicadas para explica-los. Consequentemente, a complexidade das interações e a densidade dos fluxos de informação do cenário atual não são mais possíveis de redução ao conceito de taxis, pois nem tudo mais está possível de ser planejado e organizado.

Portanto, conforme o documento, as intervenções dos diferentes agentes nesses sistemas sociotécnicos emergentes requerem aprendizagem para que possamos distinguir o que é kosmos-like (ou seja, como um determinado ambiente está seguindo seu padrão evolutivo) do que taxis-like (ou seja, o que está respondendo efetivamente às interações e propósitos humanos).

Nessa perspectiva, precisamos desenvolver uma reflexão crítica quanto ao uso das tecnologias, não no sentido de encontrar um espaço fora dessas mediações, mas compreender como as tecnologias nos moldam como humanos enquanto nós moldamos as tecnologias.

É sobre isso que vamos falar por aqui… ;-)

Referências

BAXTER, Gordon, SOMMERVILLE, Ian. Socio-technical systems: From design methods to systems engineering, Interacting with Computers, Volume 23, Issue 1, January 2011, Pages 4–17, https://doi.org/10.1016/j.intcom.2010.07.003

FLORIDI, Luciano (ed.). The Onlife Manifesto: being human in a hypeconnected era. Springer Cham, 2015. Disponível em: https://doi.org/10.1007/978-3-319-04093–6

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Patrícia Scherer Bassani
Nisia
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Professora do PPG em em Diversidade Cultural e Inclusão Social na Universidade Feevale. Abordo temas e dilemas da vida digital :-) https://linktr.ee/patriciab