“O que há de errado?”

Stray K
Nobody Cares
Published in
4 min readMay 10, 2017

Por que as pessoas ainda acham um problema não fazer questão de “socializar”?

Sabe aquela pessoa que chega numa sala de espera, repleta de desconhecidos e puxa assunto (“Ufa! Tá calor, né?”, “Nossa… que trânsito!”)? Que cumprimenta com abraço e beijinhos no rosto (mesmo quem não seja amigo íntimo), que compartilha segredos com colegas de trabalho e passa o ano inteiro aguardando a festa de confraternização da empresa? Pois é. Essa pessoa não sou eu.

Penso que, as únicas interações com desconhecidos (como nesse caso da sala de espera) poderiam perfeitamente limitar-se àqueles cumprimentos básicos (“Bom dia” / “Boa tarde” /”Boa noite”). Ou se a pessoa não se importasse com a opinião alheia sobre “bons modos”, um “F*d@-se todo mundo”, disfarçado de silêncio absoluto, já estaria de bom tamanho.

Por menos “pessoa de fé” que eu seja, eu sou do tipo que quase começa a rezar quando aperta o botão do elevador. “Tomara que não tenha ninguém” ou “Tomara que não entre ninguém até que eu saia daqui”.

E uma voz interior me diz: “Tenha fé!”

Eu tenho uma alma meio que de cachorro do canil da Prefeitura (daqueles, traumatizados pela captura da carrocinha), quando preciso interagir pela primeira vez com alguém. Acho que numa situação dessas, um abraço — além de uma coisa meio falsa — soa como uma violação da minha cápsula (ou bolha, como preferir). Beijos no rosto… fico sem reação, sabia?

A pessoa precisa ser muito sem-noção para não perceber, pela minha linguagem corporal, quando permito ou veto algum tipo de “intimidade” comigo.

Tal qual o cachorro do canil da Prefeitura, eu preciso me sentir confortável com a pessoa para que a interação seja espontânea. Deve ter acontecido alguma vez, algum equívoco interpretativo da outra parte (“Como ela é estranha”, “Ela é tímida ou eu não agradei?”) e eu provavelmente, devo ter me retratado — caso tenha havido realmente uma demonstração inadequada das minhas intenções.

Eu nunca tive muita habilidade em demonstrar sentimentos mas, geralmente, demonstro antipatia através de uma interação limitada, no sentido de… quase nula (isso em alguns ambientes: acadêmico, profissional…), como se eu dissesse: “Fiquemos cada um num canto e tudo certo entre nós”.

Lembro que certa vez, numa empresa onde trabalhei, fui chamada pelo meu chefe à sua sala e, no trajeto até lá, pensei: “O que devo ter feito de errado?”. E tentava relembrar ao menos minha última semana de trabalho, tentando entender onde foi que fiz a cagada.
Fiquei surpresa quando ele me perguntou: “Você tem algum problema comigo ou com alguém daqui?”.

Ninguém faz uma pergunta dessa por acaso, porque está preocupado comigo. Quem pergunta isso, o faz porque se questiona sobre “como alguém pode ser feliz apenas trabalhando e não se ocupando em cativar os colegas de trabalho?”.
Antes de mais nada, não conheço muita gente que seja “feliz”, trabalhando num lugar onde não se sente confortável o bastante para fazer dos colegas de trabalho, “amigos”.

Na sociedade em que vivemos, o seu chefe não liga a mínima para o seu bem-estar, sua saúde mental, suas emoções, se você está contente com o salário… ele quer que você produza, faça a máquina funcionar e gere lucros. Apenas.
Quando não, ele quer que você produza, faça a máquina funcionar, gere lucros, faça e leve café para ele.

E quando você entende que um chefe só espera isso de você (mas você não faz e não leva o café na sala dele), pronto! Você é a pessoa mais estranha do mundo. Sua competência é completamente ignorada e o seu destino profissional vira um planetinha, que passa a girar em torno de um astro, que muitos chamam de “inteligência emocional”.

É como se, ao omitir emoções, você fosse posto em pé de igualdade com um jumento. Inteligência caminhando de mãos dadas com a emoção, pelo gramado verdinho dos Teletubbies. Entende como é o negócio?

Você precisa ser a pessoa que se f*de das 8:00 às 18:00, de segunda à sexta-feira, correndo contra o tempo para dar conta de tudo, ser perfeito e ainda lembrar de demonstrar emoções. Tem que chorar se o chefe criticou seu trabalho, tem que compartilhar detalhes da sua vida pessoal com o colega de trabalho só porque ele usa o mesmo banheiro que você, tem que perguntar ao chefe como foi o final de semana dele (mesmo que ele só lembre que você existe na hora de estipular metas insanas). Tem que ser a pessoa que “agita” o amigo secreto do fim de ano da “firma”.

Que mer-da! Isso cansa…

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