Meu primeiro chifre

Stray K
Nobody Cares
Published in
4 min readJun 7, 2017

E o impacto da traição sobre a minha vida

Eu nunca imaginei que teria coragem de compartilhar publicamente a minha experiência — nada agradável, diga-se de passagem — de ter sido traída. Pouquíssimas pessoas sabem da minha história mas, hoje eu criei coragem de dividi-la com vocês também.

Quando tive meu primeiro namorado, imaginava que passaria o resto da minha vida com ele (que tonta…). Nosso relacionamento durou alguns anos (era o que se chama de “namoro sério”: nossas famílias se conheciam, nós fazíamos planos para o futuro, etc…), até que as coisas começaram a degringolar.

O cara começou a sair frequentemente — sem mim — durante a semana (depois do expediente, “com os colegas de trabalho”) e voltava pra casa chapado. Foi assim uma vez, depois outra, e outra… até que um dia eu cansei da palhaçada e pus um ponto final antes de ter a confirmação de uma traição. Então eu digo que foi uma intuição de chifre que me fez “pular do barco” antes que ele afundasse em definitivo.

Fiquei mal, não vou negar. Demorou alguns meses até que eu juntasse os meus cacos e voltasse a ter uma vida social de solteira. Enquanto eu namorava, nunca deixei de ver e sair com minhas amigas mas, a maioria delas também tinha namorado e nossos “rolês” eram sossegados (mesmo indo a shows e baladas sem os respectivos pares, todo mundo lembrava que tinha compromisso e relacionamento monogâmico).

O fato é que, depois de um tempo namorando sério, quando o relacionamento chega ao fim, as amigas solteiras saem até das profundezas do inferno te convidando para “sair da fossa”.

Foi numa dessas saídas que eu conheci o cara que (2 meses depois depois de me conhecer) me pediria em namoro.

Parecia coisa de filme: o resto do mundo ao redor em slow motion, os holofotes todos direcionados sobre ele, uma música de fundo (que depois se tornaria “a música de quando a gente se conheceu”). Uau! Que perfeito isso!

Horas conversando, lógico que descobrimos algumas diferenças entre nós, mas em comum, havia a paixão por Artes, Música, Cinema… Era nosso ponto de equilíbrio.

Eu não imaginei que, depois de anos convivendo com uma mesma pessoa, eu pudesse me conectar com outra daquela maneira, intensa, mas ao mesmo tempo, leve (sem ciúmes, sem cobranças ou pressões). Eu não lembrava mais como era ser pedida em namoro e, quando aconteceu, não havia como recusar.

Eu era outra pessoa: dormia e acordava bem, me sentia disposta, via a vida com outros olhos, achava que eu era enfim, compreendida e correspondida. Eu achava isso incrível e parece que as pessoas também me viam de outra forma.

Parecia tudo tão maravilhoso mas, a vida real sempre tem um “mas…”. Ele morava em Campinas e eu, em Santo André (ambas as cidades no Estado de São Paulo), o que limitava bastante nosso contato mas, ao mesmo tempo, despertava uma saudade que parecia aumentar a paixão.

Passávamos um fim de semana em Campinas, no outro não nos víamos, e no outro, passávamos o fim de semana em São Paulo (porque em Santo André não haviam muitas opções culturais). Nesse meio tempo em que não nos víamos, o contato era sempre por telefone ou Messenger. Mas nunca deixávamos de nos falar.

Apesar da saudade, sim, eu me sentia nas nuvens…

Conseguimos levar esse relacionamento durante 6 (seis) meses, até que, num dos fins de semana em São Paulo, ele me convidou para irmos ao lugar onde havíamos nos conhecido. Achei até romântico da parte dele (que tonta²…). Eu mal sabia o que me aguardava…

— O que você tem? Está diferente hoje…

— Eu só estou aqui pensando em como te dizer uma coisa.

— O que você quer me dizer?

(Ele só olhava para o chão e balançava a cabeça, negativamente)

— O que foi? Você está me assustando desse jeito.

(Ele levantou a cabeça. Estava chorando, as lágrimas escorriam)

— Eu preciso te contar uma coisa.

(Nesse momento, eu comecei a sentir frio, a tremer, a querer chorar também)

— Você é gay? Você não gosta de mim? Tem HIV? Por favor, me diz o que é!

E ele, balançando a cabeça, negativamente, segurou meus braços, olhou nos meus olhos e disse:

— Não é nada disso! Eu estou noivo, vou me casar no mês que vem!

Naquele momento, foi como se eu tivesse levado um tiro. Foi como se o chão tivesse se aberto sob os meus pés. Eu não conseguia ouvir mais nada em volta. Arranquei aquelas mãos de cima de mim e saí andando como se eu fosse um zumbi atordoado.

Ele deve ter dito alguma coisa, mas nem ouvi. Eu continuei andando, caminhando no frio da madrugada, debaixo de uma garoa gelada, moralmente nocauteada, sem forças sequer para chorar. Encostei na parede de alguma casa e vomitei várias vezes.

Não lembro como consegui chegar na minha casa.

Só sei que passei quase 1 hora sentada sob o chuveiro, tentando lavar a minha alma. Dessa vez, chorei tudo o que tinha para chorar, até a exaustão.

Chorei de vergonha, de tristeza… de ódio!

Como eu pude ser tão tonta, tão ingênua, tão idiota daquele jeito? Como eu pude entregar sentimentos tão bonitos a alguém que os tratou como lixo?

Depois daquela noite, eu jurei que jamais voltaria a acreditar. Jamais voltaria a me iludir, com quem quer que fosse. Depois daquela noite, grande parte da minha humanidade desceu pelo ralo, com a água do meu banho. Jurei a mim mesma que não me apaixonaria outra vez.

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