O presente

A vida me deu um presente. Mas eu não sei como me livrar dele.

Eu gostaria muito de ter a segurança de bater no peito, levantar a cabeça e dizer “Eu não me arrependo de nada nessa vida!”.
Mas a vida pôs a mão no meu ombro e me disse: “Filhinha, sua sina é sentir o coração doer e um nó apertar sua garganta todas as vezes em que você olhar pro seu companheiro aqui”.

A vida, muito capciosa, primeiro me entregou um embrulho fuleiro. Dentro dele havia um tal de livre-arbítrio.
Pouco tempo depois, me entregou uma caixa de presente, envolta por um laço bem bonito. Dentro dela havia um tal de arrependimento (que desde então me acompanha tanto quanto a minha sombra).

Ela [a vida] estava certa. Eu sinto uma dor intensa todas as vezes em que me percebo arrependida pelo que fiz e pelo que não fiz. Porque sim, ao contrário dessa gente decidida e segura de si mesma, eu sofro quando tudo isso acontece.

Seja por falar demais sobre quem sou (ou sobre o que sinto — o que é raro mas, pode acontecer), ou por me calar quando devia ter dito algo. Mas não… eu lembro do que escrevi (ou disse) e me sinto uma idiota, alvo certo para o escárnio alheio. Eu lembro das oportunidades que deixei passar e de como teria sido se eu as tivesse visto de um modo diferente.

O pior é que a vida apenas me entregou a caixa de presente mas não me disse como faço para me livrar do conteúdo. Agora tento seguir em frente, apesar da dor causada pelo arrependimento.