Seleção natural

Stray K
Nobody Cares
Published in
2 min readJan 30, 2018

Quem disse que eu não me importo?

Ao contrário do que você pensa, eu estou bem longe de ser uma pessoa forte, decidida… acho que eu me habituei a fingir que está tudo bem… mesmo quando não está. E isso acontece por vários motivos.
Dentre eles, porque não quero ser aquela pessoa excessivamente “sincera”, que chega no trabalho se achando na obrigação de reclamar da vida e discorrer sobre as mais variadas desgraças cotidianas.

Se eu te contar a verdade, você vai descobrir que estou bem distante dessa idealização (de imune à dor) que você associou ao meu nome. Vai saber que por trás desse meu senso de humor “sarcástico”, se esconde alguém que tenta constantemente não lamentar o passado e não se preocupar tanto com o amanhã.

Apesar da minha sinceridade, eu finjo que “não me importo” (verdade seja dita, eu me importo com poucas pessoas — talvez você seja uma delas, eu acho), que “não sinto medo”, que “sei o que [não] quero”… às vezes eu sinto sim, vontade de perguntar a você se está tudo bem, se você quer conversar…

Mas me vem um medo horroroso de ser mal interpretada por isso, afinal, quem espera “sempre o pior das pessoas” deve esperar que por trás de um “quer conversar?” exista algum interesse escuso (mesmo que da minha parte não exista).

É recorrente a percepção de que o outro esconde alguma fragilidade mas, ainda assim, fingimos não saber a verdade. Gostamos da falsa impressão de que [conscientemente] selecionamos apenas os mais fortes para algum tipo de interação. É como se tivéssemos o cuidado de considerar o princípio da seleção natural sempre que decidíssemos quem pode ou não sentar-se ao nosso lado na mesa da Última Ceia.

Entretanto, é exatamente a nossa fragilidade que nos faz relutar em oferecer ou mesmo buscar apoio. Sentimos medo de sermos equivocadamente julgados ou de parecermos vulneráveis aos olhos do outro.

Já reparou que é esse ciclo (de idealizações, fingimentos, medo e preocupação com o julgamento alheio) que permeia as [cada vez mais raras] interações humanas?

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