Dora e Gopal — Guru Abordo!

Evelling
Noites Veladas
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15 min readOct 11, 2020

Para ler ouvindo:

Já estavam sobrevoando o atlântico há algumas horas. A paisagem área carregada de nuvens dava a impressão que não estavam mais no mesmo mundo caótico de onde partiram. O som constante do motor preenchia o silêncio na cabine de passageiros. Apenas três deles, acomodados em cadeiras distantes.

#Dora
*Seu olhar estava vagueando pela paisagem constante do céu diurno. O oceano de nuvens brancas, uma tela, para memórias recentes. Paris tinha sido incrível. Uma ilha de normalidade diante do furacão dos últimos meses. Vários pensamentos coloriam aquele céu, ao seus olhos… Fitou, discretamente o homem na outra cadeira. Absorto em leituras. Estava feliz que ele ainda estivesse entre os vivos… E sentia a estranheza de ter compartilhado com ele sua alma.*

*Dora ajeitou-se na cadeira desconfortável. Precisava esticar as pernas. Levantou-se. Alder não notaria sua ausência, enquanto lia. Fez um aceno automático de cabeça, apenas por educação, enquanto caminhava para o a frente da cabine. Onde Gopal estava sentado.*

*No tom mais gentil ela apontou a cadeira em frente a dele.*

— Aceita companhia!?

#Gopal
*Ainda absurto nos últimos acontecimentos, de sua resolução em Calcutá e na agradável surpresa da visita em Paris (ainda bem fresca na memória). Seu coração e espírito pareciam estar em paz dentro daquela lata de sardinha voadora. O que já não trazia o mesmo pavor de antes, enfim, podendo relaxar um pouco… Vendo sua companheira de equipe e líder de equipe se aproximando e requisitando um tempo para passar juntos, algo que eles precisavam fazer há algum tempo.

— Claro, já estava há sua espera… Por favor, sente-se…

*Arrumando a postura na cadeira e pegando uma garrafa térmica colocada próxima as cadeiras da cabine, ele pega dois copos pequenos de metal e serve o chá quente contido na garrafa. O cheiro de jasmim impregna no ar

— Não é dos melhores, mas também não tivemos muito tempo de ir em uma verdadeira casa de chá… Foi o que deu para arranjar no meio do caminho pra cá. E o Alder, está melhor ?

Estendendo uma das mãos com o copo para Dora enquanto leva o outro a boca.

#Dora
*A serenidade de Gopal emanava para Dora como uma onda calmante. Sorriu e aceitou o chá. Andava precisando. Ao sentar-se perguntou.*

— A minha espera? *Ergueu uma sobrancelha e ajeitou os óculos. Enquanto provava o chá.* Este aqui está ótimo, meu amigo. Dia desses temos de tomar um chá de tamarindo juntos. Garanto que vai gostar. *Permitiu-se ser invadida pelo calor gentil da bebida.* Ele parece se recuperar bem. *Dá uma espiada para o homem lendo.* Mas… Médicos não são os melhores pacientes. E aquele ali… É um dos difíceis. *Suspirou.* Mais uma vez obrigada… Não fosse você… Nem quero pensar no que teríamos feito.

#Gopal
— Você teria adorado as casas de chá em Calcutá, mas vamos deixar isso para quando terminanos o nosso “trabalho”, não é mesmo?

*Sorve mais um pouco do chá, deixa por um momento o sabor e a fragância aconchegarem em sua boca e depois engolindo calmamente. Volta o olhar para Dora e diz

— Com certeza, me lembro de um jovem médico de campo que conheci na guerra. Sujeito pacato, porém disposto de uma vontade quase “divina” de ajudar os seus companheiros… O pobre coitado não percebeu, ou pelo menos não quis contar pra ninguém, que estava com “pé de trincheira” por tanto tempo que acabou evoluindo para uma infecção generalizada… E bom, ele era o único médico do nosso esquadrão… * Sorve mais uma vez o chá, porém quase como um trago de uma bebida forte dessa vez*

— Gosto de pensar que estávamos ali no momento certo, na hora certa… Não gosto muito de imaginar outro cenário, nós trilhamos o nosso caminho e passamos por essas adversidades…Alder trilha um caminho escuro e doloroso, espero que terminamos tudo isso antes…* Ele pausa um pouco, escolhendo as palavras melhor… ou melhor, pensando em mudar de assunto*

— Bom, como eu disse…faz um bom tempo que gostaria de ter uma conversa direto com você, doutora Dora, sobre a nossa jornada…a jornada de cada um até aqui… e o peso da mudança, para bem ou para o mal. A Dora que eu conheci na Bolívia não é a mesma que eu vejo na minha frente agora, mas eu gostaria de saber de você…Como você se sente com toda essa mudança?

#Dora
*Ouviu cada palavra com atenção. Até mesmo o que não foi dito. Um relance do olho de Yig pairando sobre eles no outro mundo fez seu sangue correr mais rápido. “Um caminho escuro e doloroso…”. Engoliu mais um gole de chá. Colocou o copo entre as mãos. O olhar estava pousado no vazio que o líquido havia deixado. Suas palavras saíram sem muita reflexão.*

— A Isadora que foi até a Bolívia era, definitivamente outra mulher. O mundo dela se restringia a sonhar com passados esquecidos e desvendar verdades da humanidade. Aquela, Dora, jamais imaginaria que este mundo é apenas parte de algo muito maior.

*Seu tom era baixo. Suave. Cansado.*

— Nem mesmo nossos corpos são o limite, não é?

*Ergueu os olhos para o amigo. Seu traje branco lhe caía tão bem. Transmitia a serenidade que faltava para Dora.*

— Sinto… As vezes eu não sei bem quem é essa Isadora Marques, Gopal. Se o que vi além deste mundo e as coisas que estiveram em mim, me permitem ainda ter algo em comum com aquela Dora. Eu sei o que quero fazer, sei para onde preciso ir e para o que tenho de estar preparada. Mas…

*Seu olhar estava vago.*

— Eu tenho o desejo egoísta de ser um pouco feliz no processo.

#Gopal
*Percebendo o olhar de sua amiga, sua postura e sua dificuldade de verbalizar algo tão pessoal, ele põe a mesma mão que antes tinha servira o chá nos ombros magros e ossudos dela, sente que o peso da responsabilidade tem cobrado tanto em seu coração e mente quanto em seu corpo ultimamente.

— Você está salvando o mundo sem que milhões de pessoas saibam disso, enquanto vivem suas vidas normalmente. O caminho que escolhemos não é nem um pouco egoísta, contudo não significa que devemos “engavetar” nossa busca pela felicidade. Senão, qual o sentido de estarmos lutando para que a humanidade perdure se não há algo que nos traga conforto e compaixão nesse mundo???

*Deixa a mão repousar por um tempo no ombro dela por um tempo e então estica os braços pra se alongar, sentido os ossos estalares e algumas juntas doerem no processo. Misto de dor e alívio, inspirando levemente relaxado e retorna a conversa.

— O Gopal…melhor, o Marchello que saiu da Sicília e chegou na India anos atrás não imaginava que essas coisas existiriam e nem que ele poderia ser feliz consigo mesmo de novo… O Gopal que chegou na Bolívia também não sabia que outros mistérios e caminhos poderiam ser explorados… O Gopal que atravessou planos de outras existência não sabia que poderia entender ou até mesmo ser amigo de outras pessoas…Uma coisa que nunca mudou, desde que eu tive a oportunidade de deixar a minha velha “casca” para trás foi de que eu sempre poderia aprender mais sobre o mundo e as pessoas se eu estivesse bem comigo mesmo … Acredito que a “pequena” Dora ainda vive dentro de você que instiga sua curiosidade… Se isso te faz feliz, mas o que você busca para alcançar essa felicidade?

#Dora
*A mão dele sobre seu ombro. As palavras… Gopal parecia enxergar o que estava dentro dela, sua alma conflituosa. Quando a mão dele se afastou ela fechou os olhos. Parte de si queria descobrir mais. Entender como, no fim, seres tão díspares da humanidade e criadores de tamanha arte e ciência se tornaram algo tão vil. Odiar nunca foi algo constante em si. Bem no fundo ela queria crer que, em algum ponto de tudo aquilo, encontraria a resposta e esperança.*

*Se ajeitou na cadeira. Ainda de olhos fechados. Pensou bem… E lá estava. O sorriso dos pais quando partiam para uma nova aventura. Diego empolgado com mais um nascimento entre seus queridos animais. Eva e o jazz. Gillet empolgado com algo ainda por criar. A serenidade de Gopal. Alder…*

— Eu busco… *Seus olhos fitaram Gopal, e ela sorria.* … As pessoas. Estar com elas e encontrar a Luz na Escuridão. Estou, meu amigo, perdidamente apaixonada. Bem agora, no que pode ser o fim da jornada mais perigosa, eu quero enxergar um amanhã impossível.

#Gopal
*Recebendo as palavras de sua amiga e aquilo o paralisou no momento… Não por ser tratar de uma “novidade”, mas sim de sua sinceridade. Tentando esconder os olhos arregalados, deixa escapar um sorriso … um misto de confirmação e felicidade por ela.

— Ohhhh… Então, você o dr.. quero dizer, Alder…estão… nessa…juntos? * Um pigarro preso na garganta o faz tossir um pouco até recobrar a falar* — Eu tenho percebido que vocês dois andam bem juntos… ainda mais depois que eu voltei do… ahh, você sabe… E o Nort… você sabe quem, sumiu… Percebia algumas “iniciativa” por sua parte, talvez pelo seu “humor inglês” aflorado e aquela máscara fica difícil de perceber algumas expressões ou emoções…* Pondera por alguns segundos na escolha de palavras para montar seus questionamentos enquanto observa o olhar de sua amiga*

— Mas essa aproximação foi recente? É recíproca??? E por que você acha, Dora, ou imagina que seja um “problema” imaginar um futuro em que seja feliz de verdade?

#Dora
*Não era mais uma garota colegial, mas o entusiasmo dele nas perguntas fez a doutora ajustar os óculos tímida. Ele tinha a mesma expressão de Eva, quando ouvira sobre seus afetos. Isadora suspirou e baixou a voz ainda mais.*

— Isso é bem… Recente. E eu… Bom. Deixa eu explicar isso direito. *Olhou Gopal.* Talvez você entenda melhor meus medos… Quando conhecemos o Alder, nós tivemos um certo embate de ideias. Ele é brilhante e um ótimo terapeuta. Essa relação foi se aprofundando, mas acredite, nessa época estávamos todos muito ocupados com outras coisas. Quando você sumiu… As coisas ficaram muito estranhas. E foram piorando.

*Ela olhou Alder de relance, para ter certeza que ele não estava ouvindo.*

— Nesse meio tempo voltamos a Nova York e as coisas precisavam seguir adiante. *Ela ficou um pouco contemplativa.* James mudou completamente depois de Bornéu do Norte, Gopal. Ao ponto de eu não reconhecer a pessoa que estava conosco. Não é segredo que ele tinha cativado minha afeição… Mas, eu creio, você não sabe como ele a rejeitou. *Fitou o homem a sua frente.* Não sinto mágoa, honestamente, fiz as pazes com isso faz algum tempo. Uma jornada só pode ser partilhada por quem deseje, não pode ser forçada. Norton entrou na minha vida e saiu dela da mesma forma intempestiva. E neste meio tempo, algo acontecia sob meus olhos, sem que eu pudesse perceber… Como você mesmo disse. O Doutor e eu temos alguma afinidade e estivemos sempre ombro a ombro sobre os textos e mistérios que Mu nos apresentava. Isso me permitiu ver mais e… Desta vez, eu não estava sendo cortejada. Não. Eu queria cortejar.

*Ajeitou novamente os óculos.*

— E quanto mais sentia que estava gostando dele, mais eu dizia que não era certo. Afinal… Veja o desastre que foi com James! Não era minha intenção trazer meus sentimentos para uma relação já tão complicada como a que temos entre nós. *Dora suspirou.* Via o lado escuro que Alder trazia. As forças que ele manipula. Racionalmente eu queria me afastar, emocionalmente do meu terapeuta. E eu tentei. Mas quando as coisas foram piorando. Ele estava lá comigo e meus sentimentos afloraram ao ponto que, não conseguia mais voltar atrás. Eu aprendi que você não pode lutar contra a correnteza ou ela te carrega.

*Olhou novamente, aliviada pela concentração dele no texto.*

— E, bom, na noite em que partimos para Calcutá eu abri meu coração. Na esperança de que, talvez, pudesse ser correspondida. E de certa forma eu fui. *lha o amigo, com pesar.* Mas a sombra que ele carrega ainda estava lá… Mas aquilo me deu alívio. Falei o que sentia. Vi que poderia ter esperança, o problema é que a competição com um Deus Antigo, não é nada justa. *Ela riu amarga.*

— Você viu como as coisas foram dando errado em Calcutá. Na noite que fui te pedir ajuda, juro, eu estava convencida que meu afeto estragava os homens que amo. Porque as ações dele estavam exatamente como as de James. Evasivas, agressivas, distantes. Meu coração recuou. Eu precisava ser a líder dele, e por isso mesmo, pensando no bem geral, eu escolhi não pressiona-lo mais. *Ela deixa os ombros caírem.* Já tinha passado por isso na américa, antes da morte do Reverendo Cornfield e foi horrível. Teremos uma conversa sobre confiança, claro, mas não no meio da missão. O resultado é desastroso. Naquela noite eu havia dado a Sombra que envolve Alder a vitória. ‘Não se pode amar, quem não deseja ser amado’. E eu aprendi essa lição… Mesmo ela custando tão caro.

*Olhou o amigo com uma expressão renovada.*
— E então aquele dia aconteceu. Quando eu o tive nos braços a beira da morte. Algo dentro de mim se aquietou e se decidiu. Eu não posso força-lo a me amar. Mas eu não vou deixar o homem que eu amo morrer. É bem simples.*Parecia mais decidida.* Fizemos o que fizemos e eu estava pronta para seguir a vida. Não fiz aquilo por reconhecimento, fiz porque quero que ele viva. Que se liberte daquela Sombra maldita e seja feliz. Comigo ou não.

*Inspirou fundo.*

— E quando ele acordou… Bem… Perguntou porque eu o salvei. O que eu acho uma pergunta óbvia, já que ele não se sente digno do sacrifício alheio. E dessa conversa… O bom Doutor que eu, honestamente não tinha mais esperanças de alcançar, me estendeu a mão. E, Gopal… Não faço ideia se isso vai durar, se foi apenas um mento que passou. Não sei. Só sei que agora eu quero destruir cada sombra a frente dele. Para, quem sabe ver a Luz na Escuridão.

#Gopal
*Dessa vez, decidiu não interrompe-la enquanto ela abria seu coração sobre suas dores e desejos, aprendera muito em escutar bem os outros e pensar no que dizer e como “dizer”. Franzindo o cenho um pouco e desviando um pouco o olhar de sua amiga, leve alguns segundos que parecem horas…inspira…respira…inspira…respira…retorna o olhar para doutora.

— Eu realmente só posso imaginar como é trabalhar e lutar pelas nossas vidas ao lado dos nossos amores, mesmo florescendo em meio ao campo de batalha como aconteceu com Gillet e Eva… Claro que tenho o apreço e grande amizade do grupo, como uma família, e não hesitaria um segundo em dar a minha vida em prol de vocês cumprirem a missão ou simplesmente sobreviver… Meu corpo e espírito estão resolutos nisso, pois eu sei que lutarão até o fim para salvar toda humanidade…* Ele procura algo dentro de seu sari, guardado próximo ao lado esquerdo do peito… Um pequeno e velho cantil de aço, levemente amassado e cheio de ranhuras com uma insígnia militar nele, já desgastada… Rosquei a tampa e cheira o conteúdo, que não tem nada de perfumado como fora o chá, mas um cheiro “terroso” e “amargo” permeia… Em um gole, vira o conteúdo em sua garganta, queimando forte, e deixando soltar um “Ahhhhh…” enquanto segura o cantil e continua:

— Sei que perdi um bom tempo desde esses conflitos internos, da entrada do Dr. Alder até a saída de Norton do grupo. Eu não o culpo, aliás… Quem poderia julgar nessa situação… Não é um lugar de privilégios, mas com certeza de dedicação e altruísmo o que fazemos… Ninguém está 100% preparado para isso, o que ele decidiu está feito… E seguimos, tomando nossas decisões… Eu entendo que alguns assuntos não devem ser tomados no calor do momento nem no meio de uma missão tão importante, mas… o que me preocupa é: O que a ação e interesses de um indivíduo dentro da nossa equipe pode afetar o todo?* Pousando a mão livre no cabo de seu sabre dourado, dá uma olhada para ele…sente suas intenções malignas…mas desvia o olhar e retorna a encontrar com os da doutora:

— Eu sei…ou pelo menos consigo entender o que ele passou…Já desejei ter outra “guerra” para que me vingasse daqueles que a “Grande Guerra” me tirou … Entendo seus sacrifícios e dilemas que teve, afinal esse sabre não veio de “graça”…Imagino como é lidar com aqueles que o tornaram o que ele é hoje contra sua vontade… Porém, eu vejo algo nele… Eu vejo um caminho de escuridão, de vingança e de ódio…uma grande chama alimentada em acabar com os serpentóides, mas quanto maior a chama…maior a sombra que ela projeta… Eu temo se isso irá consumi-lo por completo até o final…ou alguém irá sucumbir, mesmo que indiretamente, por suas ações antes disso… *suspira, pausa por alguns segundos e continua.

— Eu tenho minha parcela de coisas ruins que fiz na vida, o peso de usar e que provavelmente irei fazer, mas meu intuito em me reunir nessa equipe sempre foi “ajudar as pessoas”… Essa vai ser a minha missão até o final… Eu enxergo os serpentóides e suas maquinações como “obstáculos” que devem ser atravessados ou contornados… Eles já me causaram muita dor, física e emocional… mas ele nunca vão ter meu espírito e propósito… Então eu te retorno, Dora, qual caminho que você vai querer trilhar? Você quer trilhar esse caminho, lado a lado, não importa o que joguem na sua frente? Ou será a brisa que acalma a chama ardente? * E estende a mão com o cantil na direção dela…

#Dora
*Piscou, era verdade. Ali estava o seu dilema exposto de forma simples. ‘O que você quer Dora?’ ‘Quem você vai escolher? A salvação de Um ou a de Todos?’. Não queria seguir uma trilha de vingança. Sentiu o sabor daquilo ao ver Diego quase morrendo. Ao ter Alder ensanguentado aos seus pés. Quantos rostos estavam ali, clamando por justiça contra o males que lhes afligiram. A monstruosidade em Calcutá, dançava em sua mente, tingida de horror.*

*Estendeu a mão para pegar o frasco oferecido.*

— Nenhum deles e ambos. Eu quero caminhar lado a lado das pessoas que eu amo, para extinguir as sombras no caminho. Meu objetivo é terminar essa trilha de vingança e ódio. Somos humanos, Gopal, e como tal nós podemos mais do que o horror. Eu não vou me entregar mais ao desespero. Vou lutar até meu último suspiro. Para poder acolher aqueles que restarem.

*Tomou um gole pequeno e devolveu o cantil para o amigo. Estava resoluta.*

— No fim, a escolha será dele… Seguir adiante ou perseguir mais sombras.

#Gopal
*Ele observa Dora tragando a bebida do pequeno do pequeno cantil e devolvendo pra ele, termina de rosquear de volta e coloca dentro de seu manto. A aeronave da uma sacolejada, talvez uma leve turbulência, faz com que o uísque envelhecido de uma revirada em seu estômago… Mas logo passa essa sensação e ele se levanta de sua cadeira.

— Um terceiro caminho… interessante… Siga com cuidado, uma moeda pode cair em uma de suas duas faces… mas o que acontece quando ela cai em pé? E por quanto tempo ela pode se manter assim? Lembre de que estamos lutando pela humanidade, não pelo extermínio de outra espécie…por mais que eles queiram isso de nós… * agora em pé, levemente curvado pelo teto do avião, começa a estalar a coluna e remexendo o quadril sentado por muito tempo naquela poltrona, estica os braços até onde é permitido e se volta para a amiga:

— Eu acho que nunca esperei muito do destino e o que poderia acontecer… Quando as chances apareceram na minha frente eu sigo meu coração, com temperança. Prefiro viver o momento e o que pode me oferecer e não pensar no “E se”. As peças estão colocadas no tabuleiro, mas siga o seu caminho e busque sua felicidade, Dora… Não tenha medo de crescer e rever seus conceitos, mas não deixe que apenas seus desejos te guiem… Busque ser a Dora que você sonhava quando criança e não deixa que nada nesse mundo te jogue para baixo.* Girando a cabeça em direção a cabine do piloto, volta o olhar para Dora e diz:

— Acho que vou fazer algo que nunca tinha fiz… Ver como o doido do Gillet pilota essa lata-velha… Mas se precisar conversar mais sobre isso e qualquer outra coisa, saiba que estarei aqui para escutar e dialogar.* Deixa escapar um leve sorriso.*

#Dora
*Lidando com a bebida no estômago e as palavras de Gopal. Acenou para ele sorrindo. Também levantou e voltou até seu lugar pegando a mochila, vasculhando alguma coisa.*

— Meu pai sempre diz: Conheça os Mitos, mas não seja levado por eles. *Acenou se ajeitando na cadeira,* Divirta-se lá na frente, Gopal. Se precisar, tenho r médio para enjoo… *Tirou um potinho decorado de laca.*

*Sua mente completou. ‘Eu quero salvar a humanidade e todos aqueles que ainda enxerguem além do agora…’. Sentou-se e pegou um caderno bonito que havia comprado em Paris. Tinha a capa carmim. Pôs-se a escrever um novo diário.*

#Gopal
*Pega o frasco, daquela sacodida e tira um dos comprimidos. Põe na mão e leva a boca, engolindo seco, ao devolver pra doutora ele diz*.

— Estamos tratando do Gillet né, acho que vou guardar mais um só por…precaução… Obrigado, Dora.* Guarda o outro comprimido no bolso e se vira caminhando em direção a cabine apoiado em sua bengala…

Quer saber como vai continuar essa história!? Domingo, às 20Hs no Canal no Nopertwo, na aventura da Serpente de Duas Cabeças, sessão 43!!

Texto escrito por Evelling Castro(Isadora Marques) e Deeego (Gopal Krishna).

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Evelling
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Onde meu mundo se encontra com o teu. Realidade, ficção, desejos e sonhos… Todos abundantes nestas paragens.