Eva e Gillet — Às Tortas e Mortos

Cris Viana
Noites Veladas
Published in
28 min readJun 27, 2020

#Eva

*A moça andava impaciente pelo pequeno quarto de hotel. Saiu do banheiro se olhou no espelho de corpo inteiro, já era o terceiro vestido que colocava, ainda não estava satisfeita, foi até a bolsa que levará suas coisas, afastou as armas vasculhando o interior até achar uma caixa de grampos de cabelo.” humm, talvez se eu prender meus cabelos, fique melhor…”.

Voltou apressada até o banheiro, começou a tentar prender o cabelo em um coque lateral, mas o comprimento ainda muito curto desde que teve de cortá-los em Oklahoma não dava muitas possibilidades para um penteado. Eva respirou fundo, mordeu o lábio, apertou os malditos grampos nas mãos e rosnou sonoramente com raiva.

Gillet já havia visto Eva se preparar diversas vezes para as missões, e ela nunca estava nervosa, ela sempre parecia saber o que fazer e o que levar, mas ali, era óbvio que ela estava nervosa.

Eva sai novamente do banheiro e se olha no espelho enquanto coloca seus brincos, pérolas dadas pelo seu pai, em uma vida passada. Ela se olha, ainda insatisfeita, mas resignada de que vai ter que ser aquilo ali mesmo.*

#Gillet

Gillet estava sentado na cama do hotel com as mãos entrelaçadas enquanto observava os movimentos inquietos de sua parceira. Se levanta e vai em direção de Eva na frente do espelho.

— Ei! Você está bem? *Gillet se aproxima e abraça Eva pelas costas, apoiando seu queixo nos ombros dela, enquanto a olha pelo espelho*

#Eva

*Ela olha Andrew alí do seu lado e dá um leve sorriso fitando-o no espelho. A pergunta pegou ela de surpresa… por que diabos estava tão nervosa?*

No lo sé … estoy nerviosa y no sé exactamente por qué.

*Estava ali a tanto tempo pensando dentro de sua cabeça que a resposta saiu em sua língua nativa.*

#Gillet

*Gillet se surpreende com Eva falando em espanhol. Ela com certeza estava nervosa. Ainda bem que não havia faltado as “aulas” de espanhol com seu colega Carlos na Academia das Forças Aéreas*

Esta todo bien mi amor. Piénselo, al menos no vamos a enfrentarnos a seres místicos o gángsters. *Gillet sorri com sua tentativa de espanhol*

Quieres hablar sobre? Te daré un dólar si me dices lo que tienes en mente. *Gillet sorri e sua sobrancelha arqueia levemente para baixo, denotando preocupação com sua companheira.*

#Narração

Isso é o que imaginava gillet ter dito. Mas foi isso mesmo?

Quando Gillet termina de falar, com confiança sua confiança característica. Ele fala uma mistura de frases simples como: Posso ir ao banheiro e me alcance o apagador.

#Eva

*Olhou pelo espelho o namorado falando em espanhol, nada fazia muito sentido… arqueou a sobrancelha em dúvida, tentava conectar o que ele dizia a entonação da voz e continuava não fazendo sentido… disse algo sobre o clima… gangsters em banheiros?!. Não aguentou e começou a rir.*

— hahahaha! No, No! é melhor a gente não se aventurar no espanhol hahaha, ainda mais hoje.

*Abraçou os braços dele em volta dela, apertou com ternura, que diabos aquele homem sempre conseguia fazer ela sorrir.*

#Gillet

*Gillet sorri afundando seu rosto no pescoço de Eva*

— Vai ficar tudo bem! Posso te garantir que eles são mais normais do que eu. E a comida da minha mãe com certeza é melhor do que qualquer coisa que eu tente cozinhar pra você.

*Gillet ri de si mesmo*

#Eva

*Sentiu a barba do namorado em seu pescoço e se arrepiou rindo e se contorceu com as cócegas.

Olhou os dois no espelho, pensou em como gostava de estar assim junto com ele. O momento foi estragado pela lembrança de Gillet desacordado na última missão. Sentiu um frio na espinha… tinha treinado pra manter o sangue frio em meio às dificuldades, mas isso não quer dizer que essas situações não a afetassem, ela teve muito medo ali e as imagens daquela noite ficavam voltando a todo momento… Eva já sabia como era, passaria alguns dias assim, depois o tempo iria dissipar o medo e a lembrança.

Virou pro namorado, se colocando nas pontas dos pés e o abraçou forte, a vontade era segurá-lo ali naquele momento pra sempre. Pensou em como já havia aceito que o trabalho que fazia podia lhe tirar a vida… estava em paz com isso, mas essa vida solitária não tinha colocado em jogo o que seria perder alguém como Gillet.

Aproveitou que estava ali, longe do olhar dele pra falar.*

— Sei lá… eu só tenho medo de estragar o que me é precioso. Não quero perder você, nem pra uma explosão, nem pra um jantar que pode dar errado. *ela ri, nervosa.*

— Eu sei, o jantar pode ser bobagem, mas eu já tive minha cota de conflitos familiares…

#Gillet

*Gillet se surpreende com as palavras honestas e sensíveis de Eva. Viver a vida que os dois andavam levando era realmente algo de outro mundo…e perigoso. Já esteve a beira da morte mais vezes do que gostaria de lembrar. Sentiu um aperto no peito pensando que também era um risco perder Eva em alguma missão. Gillet abraçou Eva com mais força.*

— Ei! Você não vai estragar nada, nada, nada. Você é incrível, linda e a mulher mais encantadora *falou baixinho, beijando a cabeça de Eva, encostada em seu peito e virando seu corpo para que Eva pudesse ver os dois se abraçando pelo espelho*

— A única pessoa que pode estragar alguma coisa hoje é a minha mãe se ela resolver ficar contando as minhas histórias embaraçosas de criança pra você e daí fazer você desistir de mim!!! *gillet ri com bom humor*

— E você também não vai me perder de jeito nenhum, viu? Seja pra uma “pequena” explosão, cobras gigantes e muito menos pra um jantar! *Gillet levanta o rosto de Eva para que ela olhe nos olhos dele*

— E outra, quero lembrar a senhorita que estamos juntos. E é só isso o que importa. Eu estou aqui por você e você está aqui por mim. Eu não preciso de mais nada.

*Gillet volta a abraçar Eva com força*

— Obrigado por estar aqui…comigo.

#Eva

*Ela tentava segurar, mas um sorriso crescia em seus lábios a cada graça e carinho nas palavras de Gillet. Olhou os dois no espelho novamente. Gillet não estava sendo completamente sincero… eles podiam sim perder um ao outro em meio a todos esses perigos, mas ele estava certo em dizer que estavam juntos naquele momento e isso era o que importava. Sorriu e se virou beijando-o apaixonadamente.

Se afastou um pouco olhando nos olhos de Gillet sem dizer nada, mas ele já conhecia aquele olhar… Eva viu pela janela o fim do dia chegando, checou rápido o relógio e fez um estalo com a língua. Disse segurando a roupa do rapaz.*

— Piloto… se tivéssemos ainda algum tempo sobrando, te jogaria naquela cama. *disse apertando os olhos.*

— Mas vamos, ainda temos que passar na casa de tortas. *levantou o indicador sobre os lábios dele* — E não adianta você me dizer pela centésima vez que sua mãe cuidou de tudo, eu de forma nenhuma apareceria na casa dela de mãos abanando, e por sinal, não esqueça de pegar o vinho também… e… obrigada por estar aqui comigo. *disse repetindo as palavras dele.*

#Gillet

*Eva é irresistível aos olhos de Gillet. Como é possível existir uma mulher tão linda assim e ela estar definitivamente na frente de seus olhos, pensa.*

— Hmmmmm….*Gillet olha para o relógio*

— Ok, então não vou dizer pela centésima vez que ela cuidou de tudo, maaaaaaas acho que a gente tem ainda uns 20 minutinhos, hein?

*Sorri maliciosamente e aproxima Eva de si entrelaçando-a nos seus braços.*

#Eva

*Ela sente a intenção de Andrew em suas palavras, em seu olhar, em seu toque. “Maldito Gillet…”. Sua mente tentou resistir, mas seu corpo já estava entregue.*

— Eu espero que essa sua mente genial, consiga se dividir entre me beijar, e descobrir uma rota de carro que recupere esse tempo. *ela diz lasciva, desafiando.*

#Gillet

*Gillet sorri maliciosamente*

— Sabe o que é mais bacana? Eu já não preciso dividir mais nada porque já calculei a rota perfeita, entãããão posso me concentrar 120% em você, Senhorita Nighintgale.

*Gillet levanta Eva e, segurando-a em seus braços, anda em direção à cama*

#Eva

*Ela ri com a situação.*

— Bom, já que está assim fácil, deixe-me te lembrar de que meu cabelo precisa continuar intacto e nada de amassar meu vestido.

*disse enlaçando os braços em volta do pescoço do rapaz ou um olhar desafiador.*

#Gillet

*Gillet sorri*

— Hmmmmmm. Pelos meus cálculos, para evitar amassar seu cabelo, vestido e ganharmos tempo, acho que não preciso sequer tirar seu vestido.

*Segurando Eva em seus braços, Gillet se vira e senta na borda da cama, colocando Eva em seu colo, esparramando a barra de seu vestido sob suas pernas. Gillet morde os lábios aguardando ansiosamente o próximo movimento de sua parceira*

#Eva

*Ela sorri de forma sedutora e se aproxima perigosamente dos lábios de Andrew e responde.*

— ah é?… pode começar então. Estou cronometrando, você agora tem 17 minutos. *Disse provocando-o*

*Gillet não perde tempo e puxa Eva pra si, beijando-a apaixonadamente.*

#Narração

Depois de se divertirem, parece que todos os planos do casal estiveram fadados a dar certo. Tempo suficiente para tudo acontecer corretamente. Agora, apenas a confeitaria os espera.

Os dois saem de carro em direção a casa de tortas. Eva observa a cidade onde Gillet cresceu até chegarem ao local.

O caminha estava tranquilo. Era uma noite fresca do início do verão em Baltimore. As luzes do centro da cidade rapidamente dão lugar aos bairros residenciais do Leste. O bairro construído por sobre uma colina que sobrevê o Porto e a indústria que alimentou o exército americano e trouxe de volta pra casa, a vitória e o curto período de prosperidade do pós guerra. Daqui, os sinais mais sinistros da depressão mal podem ser vistos a não ser por algumas casas vazias, a espera de novos moradores, que jamais virão.

A confeitaria é um negócio de família, começou como uma forma de passatempo para a esposa e hoje é a renda que complementa e consegue manter o estilo de vida deles. Uma casa com garagem lateral, jardim frontal e de apenas um andar. O que antes era o sonho médio da família americana, agora mais parece um fardo. Luzes pela casa e garagem indicam que há pessoas lá dentro. O carro de Gillet estaciona um pouco antes da entrada da garagem. E assim que o carro para, Gillet tem a sensação de já ter estado aqui antes. Mas de onde vem essa lembrança, ou melhor, de quem?

#Eva

*Ela sai do carro já sentindo o cheiro maravilhoso de comida, ouviram falar que o negócio era pequeno, mas que muita gente era cliente assíduo do local. As tortas bastante tradicionais com recheios dos mais clássicos a alguns mais modernos. A etiqueta dizia que ela deveria levar algo caseiro a um jantar como esse, mas, já que não teria como fazer isso, compraria algo caseiro e tradicional. Eva realmente queria deixar uma boa impressão… Ou ao menos ela estava tentando.*

— hummm, o cheiro parece maravilhoso… *Andou até Gillet e segurou a mão dele.*

#Gillet

*Fazia já algum tempo que Gillet não costumava mais dirigir por aquele bairro. Sua vida atribulada frente às missões da Caduceus junto de Eva e seus demais amigos já o tiraram de perto de Baltimore na maior parte de seu tempo. Mas mesmo antes disso, Gillet voluntariamente escolhia ignorar certos lugares. Aquele bairro era um deles. Aquela casa, mais especificamente.

Assim que desceu do carro, sentiu o cheiro de comida caseira permear o ar. O cheiro era bom. Algumas lembranças não tanto. Em sua mente, se visualizou novamente no mesmo lugar, porém alguns anos no passado. Mais precisamente no dia em que voltou a pisar no solo de Baltimore, após achar que jamais voltaria vivo das mãos dos alemães. Dia aquele em que esperou retornar aos braços de quem um dia lhe jurou amor, mas o que encontrou foi uma outra vida. Um outro “futuro”. Gillet sentiu uma pontada no peito com a lembrança de sua ex-noiva, Elizabeth, em sua nova vida.

Sentiu a mão de Eva segurar a sua e voltou à realidade. O calor de sua mão afagou seu coração. Apesar de ser desconfortável o fato de estar ali, sentia um pouco mais de tranquilidade com Eva ao seu lado.

— É! O cheiro está muito bom… *disse com um certo pesar em sua voz, porém com um sorriso no rosto*

— Tenho certeza que o sabor também estará!

#narrador

Eva nota que a mão de Gillet está úmida, mais do que de costume, as pupilas levemente dilatadas. As mãos quentes como se o corpo tivesse experimentado algum tipo de situação crítica. Ele lembra deste lugar, e a lembrança não é boa.

#Eva

*Estava ansiosa e animada, puxou Andrew pela mão e sentiu uma leve resistência. Olhou pra ele, ia falar alguma graça ao namorado “agora é você que está nervioso piloto?!”, mas antes que as palavras saíssem notou a expressão estranha.

Parou olhando nos olhos dele.*

— Andrew… humm… tá tudo bem?

#Narrador

*Assim que Eva se vira de frente para Gillet, ainda segurando a mão dele, a porta da garagem da casa se abre subitamente. O som de uma criança. Um pequeno garoto vestido em um macacão azul claro que corre cheio de energia e felicidade atrás de uma bola de couro. A bola rola seguindo em diagonal ao casal. Em direção ao jardim frontal. A criança corre com um grande sorriso no rosto e suas risadas são seguidas pela voz de um homem tentando se manter a frágil autoridade que tem perante o pequenino dizendo.

#Homem

— Aaron! Você sabe as regras! O sol já se pôs, então nada de brincar com a bola dentro OU fora de casa!

*O homem era alto, talvez 1,90m vestindo um leve suéter marrom e calças sociais da mesma cor. Com um cachimbo aceso pendurado na boca o Irlandês americano se surpreende com a presença de vocês e logo diz.*

— Boa noite Senhor. Senhora… Vocês devem ser os nossos clientes das 19H, certo? Por favor, entrem. Sejam bem vindos. Betty vai lhes atender o mais rápido possível… Betty! Nossa 19 horas chegou! Agora me deem licença, eu tenho um pequeno diabinho para capturar.

*Com um sorriso no rosto, ele caminha calmamente em direção a criança que ainda corre atrás da bola, tentando da melhor forma possível se equilibrar nos seus reflexos de uma criança de 5 anos de idade.

Barulhos na Garagem, agora aberta e iluminada podem ser ouvidos e uma voz abafada pelas paredes que dividem dentro e fora pode ser ouvida.*

#Betty

— Por favor queridos clientes. Entrem!

#Gillet

*Antes que pudesse abrir a boca para responder, Gillet foi surpreendido pela criança correndo. Não pode deixar de notar que o garoto tinha os olhos e nariz de Elizabeth.*

— Boa noite, senhor! Obrigado e com licença.

*Gillet sorri para o homem, enquanto se move com Eva em direção a entrada. Antes de entrar, Gillet olha para a Eva e diminui o volume de sua voz*

— Então, Eva…lembra da história que eu te contei sobre eu já ter sido noivo e todo o resto sobre quando eu voltei da guerra?

*Gillet fica reticente esperando resposta de Eva*

#Eva

*Ela escuta Gillet e seu coração acelera. “Ah não… más que mierda! ”. Ela olha ele meio aflita e envergonhada por sem querer ter colocado Gillet naquela situação. Fala discretamente.*

— hã… se… é melhor irmos embora, ou, posso ir lá rápido e você me espera? … eu… *Eva parece tentar procurar alguma forma de reparar a situação.*

#Narrador

*A voz da mulher ao fundo parece se aproximar, os passos dela ecoam cada vez mais próximos.*

#Betty

— Boa noite queridos! Desculpem o pequeno inconveniente. Vocês sabem como são crianças não? *A voz da mulher ecoa de dentro da garagem se aproximando ainda mais.*

— Eu preciso apenas terminar de embrulhar a Torta. Senhora… *barulhos de uma pilha de papéis sendo movidos*

— Eva… Você faria a gentileza de me ajudar? Tenho certeza que Bob e seu marido podem viver sem nós por uns 20 segundos… hahahah

#Gillet

*Quando Gillet ia responder Eva e foi interrompido por aquela voz familiar, sentiu novamente uma breve sensação de ansiedade. Respirou fundo*

— Eva, tá tudo bem… Vai ficar tudo bem… é só que nunca cheguei a sequer conversar com ela e nem nada depois de tudo. Acho que é só isso o desconforto…mas tá tudo bem. Podemos pegar a torta. E acho que querem sua ajuda! *Gillet dá uma risada desconfortável*

#Eva

*Ela ouve a resposta de Gillet desconfiando um pouco se estava tudo bem mesmo. Se colocou na ponta dos pés beijando-o na bochecha e sorriu pra ele de forma a tentar reconfortá-lo*

Ya vuelvo. *Foi em direção a moça na garagem.*

— Claro! Elizabeth certo? ajudo no que precisar, já estou enfeitiçada pelo cheiro aqui de fora. *Ela ri, enquanto se aproxima.*

#Narrador

Você caminha porta adentro, ouvindo o barulho do papel sendo dobrado. Depois de 3 passos adentro a sala se abre revelando um balcão em formato de U.

Estantes baixas com doces de todos os tipos tomam suas narinas e do outro lado da parte central do balcão, uma moça, jovem, cabelos ruivos claros com um laço branco prendendo o cabelo em um coque elaborado. Pele esbranquiçada e lábios rosados de batom. Ela veste um vestido marrom claro tapado em grande parte pelo avental branco, mangas dobradas e restos de farinha no antebraço. Seus olhos verdes fixados na torta que coloca lentamente dentro da caixa de papelão semi aberta, enquanto o laço superior que segura a caixa fechada é segurada por sua outra mão. Ela fita você de lado. Vira o rosto em um sorriso caloroso e diz.

#Betty

— Prazer em conhece-la, Ms. Nightingale. Eu devo pedir desculpas pelo incomodo. Você sabe como são…. filhos. Bob me ajuda muito mas meninos nesta idade são um trabalho de dois, não? Por favor, você pode me ajudar com o laço? Assim que fecharmos a caixa você pode seguir o seu caminho. Espero que este inconveniente não tenha atrapalhado os planos de você e seu marido…

*Ela fala em tom mais alto.*

— BOB! Leve o marido de nossa cliente até o pátio enquanto terminamos aqui. *Ela olha novamente para você e com um olhar curioso pergunta:*

— Qual é mesmo o nome de seu marido? *Sem esperar uma resposta ela volta o tom alto e move sua cabeça na direção da rua dizendo.*

— Não se esqueça de levar Drew para dentro!

*Ela pausa para respirar, por 2 segundos não diz nada. Ela olha pra você abre mais uma vez um sorriso e diz.*

— Me desculpe mais uma vez, nós começamos este negócio a pouco tempo mas tenho certeza que a torta estará ao gosto de vocês.

#Eva

*A moça entra observando o local, passa as mãos no vestido um pouco nervosa… apesar do local ser bastante acolhedor, a situação realmente não era esperada. Observava a moça, uma desconhecida que de certa forma, lhe causava um pouco de raiva. Respirou, não devia deixar o sangue subir… isso foi a muito tempo.

Betty parecia bastante agitada, conversava muito e Eva estava tão atônita com a situação que mal conseguia responde-la na mesma velocidade… o apelido do garoto lhe causou desconforto… “não, você só pode estar brincando…” pensou*

— humm, sim claro. Me recomendaram muito bem as suas tortas… *ponderou se haveria de dar um nome falso, na verdade, não tinha, as vezes as verdades são as melhores armas.*

— Na verdade ainda não somos casados… ele se chama Andrew. *Eva fita o anel na mão direita, mostrando-o.* — Ele mesmo fez esse anel, acredita? *ela sorri.* — Não poderia ter conhecido um homem mais incrível que ele.” *Ela diz, sem mentiras*

#Betty

*A moça tira os olhos da torta mais uma vez, sorri e diz.*

— Ah! Perdão pela confusão. Andrew é seu noivo, imagino? Nossa é o mesmo nome do meu filho. Aaron Andrew. Sempre achei o nome tão bonito. Este anel é… muito bonito.

*A moça volta seu olhar a mão de Eva e termina de fazer o laço que fecha a caixa de madeira.*

— Eu imagino que a torta seja para uma ocasião especial. Espero que esteja de acordo com as especificações e se puder, por gentileza, fazer uma recomendação aos seus conhecidos. Nós ficaremos muito gratos. São 3 dólares.

#Eva

*Eva observa desacreditada de que ela batizou o filho esse nome… logo esse nome. Parou, respirou. Várias perguntas rolavam em sua cabeça. Se questionava se ela havia casado com outro ainda gostando de Gillet… a guerra colocava as pessoas em situações complicadas, o que deveria ser escolha, às vezes virava sobrevivência. Seu lado racional ponderava enquanto seu lado emocional gostaria de perguntar como que ela pôde fazer isso com Gillet. Cada vez mais temia que aquilo ali não terminaria bem.*

— Sim, é um belo nome, na espanha seria Andreo…ou Andrés. *ela sorri* — — Tive que me acostumar com a pronuncia em ingles.*olhou a caixa.*

— Sim, sim, hoje vou conhecer os pais dele. Acho que será uma boa sobremesa pra esse primeiro encontro. *Ela sorri cordial, tentava manter a respiração tranquila. Não sabia se era melhor evitar que os dois se vissem, ou se deixava o destino se desenrolar e que esse curativo fosse logo arrancado de uma vez e pronto. A aflição lhe remoía o estômago. E se o próprio Gillet ainda tivesse algum sentimento ali por aquela moça… quem é que manda no coração?*

#Betty

*Betty escuta as palavras e faz uma cara de surpresa enquanto ouve Eva falar os nomes em Espanhol, comentando.*

— Uhhh. Exótico!

*Ela ri nervosamente como quem disse algo bobo, numa tentativa de deixar o clima mais leve, pois notou a tensão no ar.*

— Não se preocupe! Você é maravilhosa, Andrew tem muita sorte de ter te conquistado e Americanos adoram esposas europeias! Mais chances de viajar.

*Ela fala com um tom amistoso e estuda sua feição em busca de aprovação ou talvez aceitação.*

— Bom tudo pronto a…

*Ela é subitamente interrompida pela voz pidona de uma criança. O pequeno Aaron Andrew, agora de pijama, arrastando um pequeno cobertor e com um bico na boca aparece de lado na porta que liga a garagem à casa e diz.*

— Mããeeeem. Não quelo dormiiiiiii!

*A criança fecha a cara destacando o beiço em uma mistura de indignação e súplica. Betty olha para ele com um sorriso terno, vira o rosto rapidamente para Eva e diz.*

— Desculpe, está tudo pronto…. Agora eu preciso cuidar da outra criança da casa.

*Ela contorce o rosto como quem acabou de contar uma piada e quis deixar óbvio que o que acabou de dizer é absurdo. Ela caminha em direção a Drew pegando-o no colo, se aproximando de Eva e dizendo no ouvido dele.*

— Agora diga boa noite a bela Senhorita Eva e seu marido sortudo Andrew antes de eu te levar pra cama.

#Drew

*O rosto de Drew se abre e ele diz.*

— Ele tem meu nome!

*Betty sorri e acena com a cabeça que sim.*

— Boa noite Senhorita Eva!

#Eva

*Ela sorri e acena com a cabeça aos comentários, mas nada diz, o adjetivo “exótico” sempre lhe soou estranho, em alguns momentos ofensivo, mas a intenção de Betty não parecia ruim…

Eva abriu a bolsa procurando o dinheiro, e olhou de canto a criança que se aproximava, rapidamente desviou o olhar, sentiu um aperto no peito e focou a atenção no que fazia.

Colocou o dinheiro sobre o balcão e quando estava para pegar a caixa, se deparou com a criança a seu lado.

Uma vozinha no fundo da cabeça de Eva trazia a tona seus medos “Você nunca vai dar essa felicidade a ele, também, mesmo que pudesse, seria uma péssima mãe.” reconhecia naquelas palavras a voz de sua mãe. A garganta travou, engoliu seco. Juntou as mãos girou o anel no dedo se lembrando do que Gillet disse aquele dia. Respirou mais aliviada e respondeu dissimulada, como havia sido treinada pra ser.

— Sim! vocês tem o mesmo nome! nome de garotos espertos que dormem no horário pra brincar muito no dia seguinte. *Ela da uma piscadinha para a criança, enquanto uma das mãos as unhas cravavam discretamente na palma, algo que Eva fazia raras vezes pra manter o foco.* — Boa noite Aaron. *disse com um sorriso*

#Narrador

A criança esfrega o os olhos com a mão livre e acena com a cabeça, positivamente. Então ela corre em direção à frente da casa.

#Betty

Quando Betty vê o dinheiro no balcão, Betty olha para Eva e com um olhar de surpresa ela diz.

— Ah, Bob normalmente lida com os pagamentos. Eu acho que ele está conversando com o seu… noivo na frente da casa. Faria a gentileza de dar o dinheiro a ele?

#Eva

*Ouve as instruções de Betty e acena. Pega o dinheiro e segura a caixa da torta com as duas mãos.*

— Entregarei o pagamento a ele então. Muito obrigada e uma boa noite.

*Ao fundo Eva escuta o pequeno Aaron conversando com Gillet.*

……………………………..

*Enquanto isso…

……………………………..

#Bob

Bob leva o pequeno Drew para dentro de casa e depois de alguns minutos de solidão, Gillet escuta cigarras cantando a noite de verão. A sua frente a vista da parte residencial do porto do Rio Patapsco. As luzes noturnas acesas o trafego de veículos ficando cada vez menor e o resquício do por do sol mergulhando completamente na escuridão. Estes minutos passam rápido e são interrompidos por passos vindo da porta da frente da casa e um convite.

— Andrew! Quer se juntar a mim?

*O homem o chama com a mão para a parte da frente da casa. Algumas cadeiras confortáveis dão a oportunidade aos moradores aproveitar a vista.*

— Eu imagino que vocês estejam celebrando algo, então eu trouxe isso.

*Mostra um charuto cubano com um pequeno laço dourado brilhante na parte de trás.*

— Estava precisando de uma desculpa pra acender um.

*Ele oferece a Gillet o charuto e pergunta.*

— Então, como vai a vida?

#Gillet

*Os pensamentos de Gillet o fizeram navegar entre passado e presente. Estar ali lhe trazia uma sensação de estranheza acentuada. Gillet se vira e vai em direção a Bob*

— Cubano. Você tem bom gosto! Vou aceitar. *Gillet estende a mão para aceitar o charuto e se senta ao lado de Bob. Talvez um pouco de nicotina o fizesse se acalmar de vez*

— A vida…digamos que a vida está um ESTOURO, meu caro. *Gillet ri quando diz a palavra estouro, pois o fez se lembrar da explosão do outro dia. Uma boa piada ruim para se rir sozinho. Exalou uma longa fumaça e se ajeitou na cadeira*

— Mas sim, acredito que estamos comemorando. Hoje vou apresentar minha companheira aos meus pais. É um dia importante, sabe. *Gillet abre um gentil sorriso pensando em Eva que estava logo ali depois da porta. Definitivamente se sentia um homem abençoado*

#Bob

*O homem se vira olhando para Andrew e diz.*

— Muito boa sorte. O quão… entusiasmada sua mãe é?

#Gillet

*Gillet ri da pergunta de Bob*

— Digamos que minha mãe esteja bastante ansiosa para conhecer a Eva. E, confesso que eu também estou ansioso por esse encontro. Por muito tempo meus pais foram a única coisa que tive em minha vida…

*Gillet pensa em Eva. Lembra do dia que a conheceu. Da fuga no carro com o sentimento de satisfação após uma missão bem sucedida. Do seu sorriso no bar. Do primeiro beijo no hotel. Do jantar em frente ao mar. De sua cabeça deitada em seu peito enquanto dormia. Do seu carinho…*

— Porém…Eva surgiu como um relâmpago. Energizou minha bateria, sabe? Me deu um sopro novo de vida. Eu amo aquela mulher mais do que tudo, Bob! E estou feliz, pois hoje estarei apresentando duas partes importantes da minha vida uma para a outra. É um dia de comemoração não é mesmo?

*Gillet sente seu coração aquecer. A ansiedade de antes passa calmamente e se levanta.*

— Inclusive, acho melhor ajuda-las, não? Senão vamos acabar atrasando para esse encontro!

#Bob

*Bob olha para o horizonte, vendo as luzes de Baltimore a frente.*

— É eu sei bem como é isso. Betty também surgiu na minha vida de um jeito súbito… mais como um tornado.

*Ele ri e olha para Gillet rapidamente soltando fumaça do charuto no ar e se arrumando de forma relaxada.*

— Eu tenho muita sorte também. Primeiro por que eu levei um tiro na bunda que me tirou mais cedo da Holanda. Você serviu também, não? Bom… depois, quando conheci ela, ela estava noiva. Eu me sinto mal em dizer que se o homem não tivesse perdido a vida em algum lugar na França, eu não teria esta vida. Não é engraçado como acontecimentos ruins podem nos colocar no caminho para coisas boas? De qualquer forma, uma homenagem àqueles que partiram para que nós pudéssemos viver uma vida melhor.

*Ele leva a mão carregando o charuto ao alto em deferência a companheiros que se foram.*

#Gillet

*”Não é engraçado como acontecimentos ruins podem nos colocar no caminho para coisas boas?”. Gillet reflete nas palavras de Bob. Ele tinha razão. Se tudo não acontecesse como aconteceu até aquele momento, talvez ele jamais teria encontrado Eva. Seu coração sorri.*

— Você tem toda razão, Bob! Você tem toda razão! *estica a mão segurando o charuto em direção a Bob, como um gesto de cumprimento*

— E sinto muito por você ter passado pela situação de ter tomado um tiro na bunda na guerra! *diz sorrindo* Porém, feliz em saber que um companheiro patriota está aqui bem na minha frente e com saúde. É isso o que importa no fim das contas! Agora só um segundo pra eu achar minha amada *Gillet apaga o charuto e se move em direção à porta*

#Narrador

Ao se levantar e apagar o charuto, gillet escuta os passos de alguém de dentro da casa, correndo de meias em direção à frente da casa. Antes que pudesse reagir, Gillet tromba com o pequeno Drew no seu pijama e bico na boca. Drew arqueia a cabeça para ver o rosto de Gillet e pergunta com uma voz entusiasmada.

#Drew

— Você também se chama Andrew?!?

*Ouvindo o filho se aproximar Bob, se levanta e fala para seu filho tomar cuidado para não trombar nos outros.*

#Gillet

*Gillet olha para o pequenino perto de sua perna e se abaixa*

— Ora, ora, rapazinho! Pois sim, eu também me chamo Andrew! Somos xarás! *Gillet sorri enquanto passa a mão no cabelo do pequeno Drew*

— Você gosta de aviões, Drew?

#Drew

*Os olhos de Drew crescem em antecipação.

— Sim!

*Ele olha pra trás como quem lembrou de algo importante, estende os braços e abraça Gillet *

— Boa noite Sr. Andrew!

*Ele descansa a cabeça no ombro de Gillet, você consegue sentir a respiração cansada do menino.

#Narração

Caminhando em direção a saída da casa, Eva consegue ver o menino de costas abraçando Gillet, que está abaixado na altura dele.

#Gillet

*Gillet se surpreende com o abraço do menino e ri*

— Boa noite, Drew! Grandes pilotos tem que dormir bem pra crescer fortes e atentos. Com a mente sempre ligada! Agora vá lá descansar! *Gillet retribui o abraço do pequeno Drew e levanta enquanto vê Eva se aproximar*

— Eu já ia buscar você, amor! *Gillet sorri. Seus olhos demonstram segurança*

#Eva

*Ela se encaminha pra sair logo da casa e se depara com a cena. Por um segundo ela para… nunca tinha visto Gillet interagindo com crianças… a voz voltava com palavras duras mas ela foi tirada do pensamento com Gillet falando com ela, chamando ela de “amor”. Os olhares se encontraram e Eva sorriu pra ele.*

— Tudo pronto, vamos?! estamos em cima da hora. *Ela estende o braço com o dinheiro para Bob.*

— Aqui está. Muito obrigada.

#Bob

*Bob vê o dinheiro, levanta a mão com um charuto na boca, aceso, e diz.

— Não se preocupe Senhorita! Fica como nosso presente de noivado. Eu só peço que vocês recomendem as tortas da minha esposa. E Gillet!

*Ele estende dois charuto novos a Gillet.*

— Você vai precisar disso no final da noite.

*Bob estende a mão do charuto mais uma vez para o céu, enquanto mantém contato visual com Gillet.*

— Nós vivemos por eles também. Tenham uma boa noite e boa sorte.

*Drew entra para dentro da casa e é interceptado por Betty. Ambos caminham para o quarto dele enquanto esta cena ocorre.*

#Gillet

*Gillet se surpreende com o presente oferecido por Bob.*

— Aceito os charutos como presente, mas a torta eu insisto que nos deixe pagar. Também é importante para nós que os negócios locais prosperem. E pode deixar que serão devidamente recomendadas igualmente! *Gillet pega o dinheiro das mãos de Eva e entrega para Bob, insistindo que aceite*

#Narrador

*Bob pensa por um segundo, abre um sorriso e pega o dinheiro dizendo:

— Obrigado.

#Eva

*Ela apenas sorri, no automático entrega a caixa e se dirige ao carro sentando em silêncio… Tentando processar o que estava sentindo.*

#Narrador

*Vocês se afastam da casa, indo em direção ao carro estacionado logo ali. Depois de vocês chegarem no carro, Bob entra pra dentro da casa depois de apagar o charuto. Dentro do quarto de Drew, Betty lhe canta uma canção de ninar enquanto dois aviões de brinquedo giram vagarosamente pendurados por sobre a cama.

#Gillet

*Gillet coloca a torta no banco de trás do carro e depois entra, sentando-se no banco do motorista. Olha para Eva, observando atentamente suas feições. Subitamente a abraça com força.

#Eva

*Ela estava alí em silêncio, estava confusa com tudo aquilo. Sentiu Gillet abracando-a e o corpo tenso, relaxou um pouco. Ela não consegue reagir direito ao abraço e ela só diz.*

— Desculpa pela confusão… Podemos ir? Não quero ficar mais tempo aqui.

#Gillet

*Gillet olha para Eva atentamente e vê sua tensão. Ele liga o carro e acelera saindo dali. Algumas quadras adiante, Gillet encosta o carro novamente.

— Só vou parar rapidinho porque quero muito falar uma coisa para você. *Gillet se ajeita no banco virando seu corpo na direção de Eva*

— Eva, primeiro de tudo, eu que tenho que pedir desculpas pela minha reação inesperada lá na porta. Nunca tinha confrontado essa situação dessa forma. Porém, o que acabou de acontecer ali reforçou algumas coisas importantes pra mim e eu preciso que você saiba. *Gillet segura a mão de Eva enquanto começa a falar*

— Eu já passei por muitas situações perigosas na vida e você bem sabe, mas hoje pela primeira vez eu percebi que o Andrew que foi pra guerra morreu de fato nas mãos dos alemães. Quem sobreviveu e voltou é outra pessoa. Uma pessoa totalmente diferente e que chegou a lugares e vivenciou acontecimentos inimagináveis aos olhos do antigo Andrew. *Gillet olha pra baixo enquanto fala.*

— Tem certas coisas do passado que a gente nunca vai apagar, isso é fato. E nunca vou poder dizer que nunca existiram. Estar em pé ali na frente daquela casa me fez por um momento lembrar do antigo Andrew. Mas ao mesmo tempo estar ali com você me fez sentir uma gratidão imensa em ser esse novo Andrew. *Gillet levanta a cabeça. Seus olhos estão marejados, sua voz trêmula*

— Eu sou muito grato por ter você na minha vida, Eva. Você causou uma revolução no meu coração. E eu te amo demais! E eu te amo por tudo o que você é e me inspira a ser. Você me faz um homem melhor e eu sou muito grato a isso. Só quero ser esse Andrew ao seu lado e mais nada importa para mim! *uma lágrima escorre pelo rosto de Gillet enquanto sorri. Gillet segura firme as mãos de Eva*

#Eva

*Estava ali sentada no carro, as mãos apertavam o vestido sem saber como se desculpar, sem saber o que perguntar, sem saber o que pensar sobre tudo o que passou. Que tipo de coisa Gillet estaria pensando depois de um encontro tão próximo com o passado, com uma vida que poderia ser a dele?

Sentiu o carro parando, olhou em volta nervosa se já estavam na casa da mãe dele e ouviu as palavras de Gillet em silêncio, sentiu as mãos dele na dela, segurou, temendo pelo que escutaria .

A cada palavra, Eva sentia que aquela conversa estava indo por um caminho que ela não imaginava, como sempre, Gillet sempre guiava ela a lugares surpreendentes e ela ouviu “Eu te amo”, sentiu uma mistura de excitação e medo.

Não achou que iria ouvir aquelas palavras novamente depois de tudo que passou, desde Alejando não tinha conseguido se relacionar com ninguém para chegar a esse ponto… até conhecer Andrew Gillet. Olhou-o nos olhos surpresa e ele repetiu as 3 palavras. Ela olhou por um segundo pra porta. Talvez fosse melhor ir embora, sumir ali e poupar os dois…

Voltou a olhar pra ele, viu a lágrima descendo a face de Andrew enquanto o escutava. Percebeu em seus pensamentos a vontade de sabotar a própria felicidade.

Ela passa a mão no rosto dele, limpando a lágrima com ternura.*

— Tudo o que aconteceu com a gente, de bom e de ruim, cada escolha, cada tropeço, cada acaso… nos levaram até onde nós estamos agora… e pela primeira vez eu me sinto exatamente onde sempre deveria estar. *A voz dela é baixa e as frases saem pontuadas. Ela dá um sorriso tímido, olhando para o lado, lembrando de algo*

— Uma amiga me aconselhou a viver sem arrependimentos e falar logo o que eu tiver aqui dentro *ela aponta pro peito.*

— Quando te resgatei da água… eu fiquei com medo, várias coisas passaram pela minha cabeça e uma delas, foi que você poderia ter partido eu não tinha dito que eu te amo. *a voz dela sai falhada, Eva tenta manter a compostura, mas a emoção foi mais forte.*

*Ela olha pra Andrew com os olhos marejados, mas sorri.*

— Eu também amo você Andrew Gillet… amo tanto que me dá medo *ela dá um sorriso de canto, e as palavras vieram carregadas de sentimento*

— Amo há tempo e não tive coragem pra admitir… Amo por que me aceitou do jeito que eu sou e me dá liberdade pra eu ser quem eu quero ser… Te quiero mucho Andrew… *repetiu, em um fio de voz, nas palavras que lhe eram mais sinceras.*

#Gillet

*Gillet não consegue evitar as lágrimas de se derramarem. Ouvir Eva dizer que o amava encheu seu coração de uma imensa alegria. Sentiu paz.*

— Você é incrível, Eva! Cada pedaço de você.

*Gillet passa a mão no rosto, limpando suas lágrimas. E estende seu corpo em direção à Eva e a beija amorosamente.

— Eu cuido da sua retaguarda e você cuida da minha. Que tal? *Gillet sorri. Diz com a testa encostada em Eva e olhando diretamente em seus olhos*

#Eva

*Assim que ela vê Andrew chorando ela não consegue mais se segurar e as lágrimas descem, o coração aquecido com tudo que estava sentindo ali com ele.

Ela se entrega ao beijo desejando que aquele momento durasse pra sempre, suspirou ao se desvencilhar de Andrew sentindo a testa dele na sua, ela sorriu com a pergunta.*

— Sempre… mi amor.

*Ela se afasta um pouco, suspira tentando se recuperar de tudo aquilo. Eva abre a bolsa pegando um lenço, e um pequeno objeto prateado desliza junto, enquanto ela falava.*

— Eu deveria ter colocado no nosso acordo que minha maquiagem também deveria ficar intacta antes de chegar a casa de sua mãe. *Ela ri enxugando as lágrimas com cuidado, e nota o objeto.*

— Eu tinha guardado isso pra te dar mais tarde, mas acho que esse é o momento certo.

*Eva pega pequeno estojo de prata, um pouco menor que uma cigarreira, e mais fina. Na frente um trabalho de gravação no metal, motivos florais emoldurando dois rouxinóis.*

*Abrindo o estojo Gillet vê uma foto do lado direito, ele lembra desse dia, antes de saírem pra Islândia, Abdim tirou uma foto de todos, e ali estava um pedaço daquela foto, Gillet e Eva juntos, dedos entrelaçados. Do lado esquerdo tem algo escrito em uma caligrafia rebuscada.

Para o piloto do meu coração. — E.N

#Narração

Nós vemos a cidade de Baltimore em câmera lenta pelo reflexo do carro de Gillet, passeando em direção ao sul da cidade. Os problemas, não mais. Pois ambos tinham em cada um, companhia neste mundo. E mesmo o atraso não seria um problema.

A casa suburbana com cercas brancas baixas, o velho Lincoln de seus pais estacionado. As luzes acesas. Gillet poderia jurar que sua mãe estava já à porta esperando por eles.

A chegada à casa com braços abertos e sorriso. A troca de gentilezas e palavras bonitas. Tudo melhor que o imaginado. Quando chegam à casa, o cheiro maravilhoso de macarronada, a mesa pronta. Com um prato a mais?

Uma presença inesperada na casa, recebe vocês por último, já próximo a mesa de jantar, em espera do que certamente é uma deliciosa refeição. Alguém que vocês conhecem.

#Gopal

*Na antessala vemos a figura de Gopal com trajes bem diferentes do usual, parecido com o terno que pegou emprestado de seu primo para a reunião dos mafiosos. A única diferença notável é uma rosa branca colocada bem no bolso frontal de seu terno riscado. Seus cabelos e barba estão arrumados e assentados com uma boa ajuda de uma pomada capilar, além de utilizar um grande relógio prateado na mão esquerda. Ele está sentando em uma das poltronas confortáveis segurando uma xícara de chá que claramente não foi feita para suas mãos, mas segura com firmeza como se sua vida dependesse disso. Ao seu lado, no assoalho, está Trudy dormindo… Com sua coleira usual e um grande lanço decorativo na cabeça… À frente na outra poltrona, está a Sra. Gillet atenta ao que o grande homem estava dizendo…

#Gopal

— “… Foi então que eu disse pra eles que levaria ela comigo, já que o… Antigo dono a abandonou… Ela é muito calminha e companheira… Nem parece uma… Opa, parece que temos visitas, minha senhora…”

* O gigante gentil abre um largo sorriso ao ver o casal chegando.

Na mesa de centro além dos objetos usuais, tem um pequeno vaso de rosas brancas e uma garrafa embrulhada com um grande lanço vermelho e um cartão preso nele.*

Quer saber como vai continuar esse jantar!? Domingo, às 20Hs no Canal no Nopertwo, na aventura da Serpente de Duas Cabeças, sessão 29!!

https://www.twitch.tv/nopertwo

Texto escrito por Cris Viana (Eva Nightingale), Pedro Lobato (Andrew Gillet) e Nopertwo (Narrador e NPCs) com participação especial de Deeego! (Gopal Krishna)

--

--

Cris Viana
Noites Veladas

Designer editorial no seu Estúdio Chaleira, viciada em percussão, gatos, suculentas e RPG.