O que você acham de arte, talvez seja design.

Caio Domingues
Coletividad
5 min readJun 1, 2016

--

O contrário também pode acontecer.

Meu amigo Thiago Loreto pediu para eu fazer um esboço de texto “Arte x Design”, o pequeno esboço acabou crescendo até chegar nesse texto.

Falar de arte e design é extremamente difícil, ainda mais no mundo complexo em que vivemos, onde cada aresta deles e de todas as áreas do conhecimento já não são mais delimitadas, elas se misturam, criando novas. Sempre tive uma grande curiosidade por estudar arte, do modo mais puritano possível. Não entendia, muitas vezes não achava graça, mas de alguma forma queria fazer parte daquilo, queria ter aquela vivência.

Depois de largar a carreira de engenheiro civil e seguir sem rumo atrás de algo que me fizesse satisfeito e representado acabei seguindo trabalhando com fotografia, e, posteriormente, com design. Resolvi estudar design, “afinal de contas, design é arte aplicada certo?” E fui. Nos primeiros semestres a vontade de produzir coisas legais, esteticamente bonitas, com uma linguagem mais hype possível foi o grande objetivo de cada mínimo trabalho. Mas com o passar do tempo, quanto mais estudava, mais via que design não é nada disso que eu imaginava. Era igualmente incrível, se não mais, mas era outra coisa. Não é arte. Não tem nada a ver com produção artística. É outra coisa. Para falar sobre o que é design e o que isso tem a ver com arte, o que isso a torna diferente, tive que pegar um recorte. Assim não tornar um discurso eterno e até contraditório.

Divan Japonais by Toulouse Lautre; cLa Goulue by Toulouse Lautrec; Theophile by Alexandre Steinlen

Claro que a prática do design se originou de artífices de arte, em que o artista era contratado para resolver um problema gráfico, geralmente ligado a publicidade de um produto, evento. Mas no contexto atual, principalmente depois da década de 80, as coisas estão cada vez mais desassociadas e ao mesmo tempo, elas coexistem.

NOT ART by Mothanna Hussein

No cenário complexo que vivemos, o design existe como uma forma de criar emoções, afetividades, engajamento enquanto resolve problemas de comunicação, de gestão, de experiências, gerando lucro. Flusser (2007) define que designer são produtores de artefatos, tangíveis e intangíveis, gerando valor, sentimento e desejo.

Dijon de Moraes explica que anteriormente, na modernidade, acreditavam-se que definindo padrões para as pessoas, elas viveriam felizes dentro dos padrões pré-estabelecidos, assim, projetavam coisas para atender demandas específicas.

“O mundo material que nos circunda é muito diferente daquele que o Movimento moderno tinha imaginado; no lugar da ordem industrial e racional as metrópoles atuais apresentam um cenário altamente complexo e diversificado”.” (BANZI, 2006).

Com o cenário complexo em que vivemos é necessário estimular e repensar constantemente os padrões, as definições estéticas e técnicas, para suprir novas demandas, tal como novos estilos de vida e consumo.

“o designer tornou-se um operador-chave no mundo da produção e do consumo, cujo saber empregado é tipicamente multidisciplinar pelo seu modo de raciocinar sobre o próprio produto” (CELASCHI, 2000).

Para isso acontecer, ele se faz de conhecimentos, de diversas áreas: Economia, Desenho, Arquitetura, Psicologia, TI, dentre várias outras. Não é apenas fazer uma artezinha bonitinha para um post de Facebook; um loguinho para a empresa. É de fato um trabalho complexo, que em sua essência é intelectual, mais do que expressão artística. Isso significa que arte é gratuita, sem proposito? “Não significa!”. Mas o propósito da arte, diferente do que foi dito anteriormente sobre design, é gerar questionamentos, sentimentos inquietação; tirar a pessoa da sua zona de conforto, e levá-la a questionar o que está no seu cotidiano, o que e como ela lida com questões da vida.

A arte contemporânea é extremamente complexa, tendo em vista que muitas obras, para ter entendimento, precisa de um conhecimento prévio do contexto em que ela está inserida, e o contexto em que o autor dela está inserida. Enquanto o design tem como função simplificar as coisas, tornar a vida das pessoas mais fáceis e otimizadas.

Julian Ardilla; Michael O’Neill; Caio Domingues

Mas se pegarmos umas ilustrações, fotografias, letterings como exemplo? Em qual categoria ela se encaixa? Talvez elas entrem nas duas categorias, ou em nenhuma. Depende do propósito dela.

Se aquilo serve apenas como imagem, não tenha nenhuma função além de ser bonitinha, ela não é nem arte, nem design, é apenas uma imagem. Se ela foi gerada para criar questionamentos, arte. Gerada para fins estratégicos dentro de um sistema maior? Design.

Design não é só deixar as coisas bonitinhas, assim como arte não é só pintar com realismo. O objetivo das duas é trazer informações não binárias para as pessoas. É faze-las sentirem, experimentarem, e adequarem a novos estilos de vida.

Concorda? Discorda? Comenta aí e vamos conversar!

Visite Startups & Encontre Videos, Livros, Escolas, Professores, Eventos, Cursos, Faculdades, Meetups, Bootcamps, Artigos, Podcasts de Design, Tecnologia, Negócios e Inovação.

https://coletividad.org

--

--