Calçadas, Montanhas e Cafés

Marina Galvão
Nossa Grama Verde
Published in
3 min readJul 2, 2018

Com 14 anos, quando alcançavamos a 8ª série do meu colégio, tínhamos autorização para sair para a rua no horário do recreio — 30 longos minutos — e, posteriormente, deveríamos retornar para os horários seguintes.

Como uma boa sagitariana, livre e curiosa, me joguei e nunca mais retornei.

Experimentei a sensação de exploradora de uma savana urbana, cada rua era uma aventura, e cada esquina uma descoberta.

Acho que esse sentimento nunca me abandonou por completo, sempre gostei de andar a pé, escutando uma boa música. Sinto um prazer enorme em simplesmente caminhar pela megalópole conturbada e observar as pessoas e a cidade.

ph: Helena Corrêa

As poucos, comecei a levantar alguns questionamentos sobre a dinâmica urbana. Durante um tempo, pesquisei em livros e legislações formas de se construir uma alternativa sustentável para o mundo, queria descobrir a solução. Não desvendei o mistério, mas me convenci de qual era o ponto chave para essa mudança: o consumo.

Entendi o consumo como componente essencial dessa sustentabilidade e percebi o quanto a dinâmica de uma cidade está toda emaranhada em um mesmo modo de agir e de pensar.

Entendi que o medo permeia essa dinâmica e é fruto do esvaziamento dos espaços públicos. A impessoalidade com a cidade e o distanciamento com a calçada dá oportunidade para violência e descuido. Quanto mais ocupamos a rua, mais garantimos a segurança uns dos outros, porque só assim conseguimos olhar (nos conectar) e cuidar.

Compreendi a minha intenção de reforçar o olhar para uma nova dinâmica, dentro de cada um de nós e dentro de um sistema, mas não me entusiasmava fazer isso de forma teórica. Queria estar nas ruas.

Contando com aquela ajudinha universal básica, me deparei com O Nossa Grama Verde, que se alinhou com as minhas intenções e me levou muito mais longe.

Hoje, quando estou nas ruas da cidade de Belo Horizonte, consigo acessar aquela mesma sensação que me invadiu aos 14 anos de idade, uma sensação de curiosidade e entusiasmo pelo novo. Adoro andar pelas ruas, virar em esquinas diferentes, entrar em armazéns e vendas de bairro, experimentar os cafés coados da cidade, escutar histórias curiosas dos moradores, participar de festas e eventos abertos, promover intervenções nas ruas e descobrir novas vistas para o pôr do sol mais incrível que eu conheço.

Acredito que somos todos investidos de uma dupla qualidade de merecedor e de responsável por uma cidade melhor e mais segura, por um consumo mais consciente e local, com menos impacto e mais valorização. São esses pensamentos que eu levo na minha mochila quando saio para dar um passeio.

Há vários desafios nesse caminho, mas os passos pelo nosso gramado continuam firmes e diversos, a cada dia, com mais formiguinhas ao nosso lado.

ph: Marina Galvão

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Marina Galvão
Nossa Grama Verde

Facilitadora e Consultora // Apaixonada por interações sociais e por experiências de aprendizagem / Pensadora livre que não se satisfaz com explicações simples.