Coragem para começar de novo: mulheres inspiradoras que estão criando pequenos negócios em BH

Bruna Viana
Nossa Grama Verde
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6 min readOct 5, 2016

Elas estão deixando empregos tradicionais para descobrir seus talentos. Elas se preocupam com comércio justo, sustentabilidade e empoderamento. Elas vivem em Belo Horizonte e fazem microrrevoluções cotidianas para criar a realidade em que querem viver.

Shirley Araujo e Wanessa Furbino uniram as paixões pela gastronomia e por design para criar a Umami Paladares. Depois de muito buscar por pijamas em que gostaria de dormir, Maria Luiza decidiu criar a própria marca, a Maria Barbosa. Benediction Kipuni e Princesse Kambilo vieram refugiadas do Congo para o Brasil, e estão iniciando seu caminho na moda com a Benkip Fashion Design. Sylvia Fernandes se inspirou na autossuficiência indígena para começar a fazer suas próprias roupas. Hoje está à frente da Ki.

Foi na Casa Imaginária que se conheceram e expuseram, pela primeira vez, seus trabalhos em uma feira de produtores locais.

A Feira Imaginária reúne empreendedores e artistas que moram em BH.

Cada uma vem de um contexto diferente, mas as convergências no que buscam não são casuais. Os valores e atitudes com os quais se identificam se tornaram tão comuns que foram chamados de tendências de comportamento:

  • O lowsumerism, a tendência de se consumir cada vez menos e com mais consciência, levou Sylvia a fugir dos shopping centers e começar a criar o que veste.
  • O slowliving, a cultura da vida lenta, inspira mudanças na nossa qualidade de vida diária a partir de melhores escolhas. Foi assim que Wanessa decidiu largar o escritório e se dedicar a levar comida saudável para a mesa de outras pessoas.
  • O empoderamento da mulher e o crescimento do empreendedorismo feminino deu confiança para Benediction e Princesse Kambilo iniciarem a reconstrução de suas vidas no Brasil, buscando o sonho de trabalhar com moda.
  • Movimentos de fortalecimento de pequenos negócios e iniciativas locais como o Nossa Grama Verde e a Junta Local abrem espaço para pessoas como Maria Luiza, que viu nas habilidades de costura herdadas da mãe uma oportunidade de unir trabalho e realização.
Wanessa e Shirley estão sempre presentes na Feira Imaginária.

Umami Paladares

#natural #feitoemcasa

A palavra japonesa Umami se refere ao quinto paladar: quando uma comida não é doce, nem azeda, amarga ou salgada. O termo no japonês significa “gosto saboroso e agradável” e foi escolhido por Wanessa e Shirley para a marca de conservas e pastas naturais em potes. Não é coincidência o fato de que um dos produtos mais vendidos tem sabor umami: a beringela em conserva.

Wanessa largou o emprego em uma seguradora para explorar as habilidades na cozinha, que aprendeu com a mãe. “Precisei de coragem para trocar o salário pela satisfação com o trabalho”, lembra.

Quando a amiga Shirley decidiu participar, trouxe sua experiência como designer e deu mais destaque para a marca. Elas trocaram os potes de plástico por vidro (e oferecem desconto para quem devolve o recipiente) e criaram uma embalagem artesanal com papel de pão. Cada pote é carimbado manualmente.

“Uma faz ficar saboroso e a outra faz aparecer”, conta Wanessa.

A Umami surgiu em maio deste ano. Wanessa já se dedica exclusivamente à marca, mas Shirley concilia a dedicação com o emprego em uma instituição de educação profissional. Além das feiras, elas vendem pelas redes sociais e por Whatsapp (31 99494–9165).

Benediction Kipuni veio para o Brasil realizar o sonho de trabalhar com moda.

Benkip Fashion Design

#empoderamento #imigração

Benediction trouxe nas malas para o Brasil tecidos congoleses e o sonho de trabalhar com moda. Ainda em seu país natal, começou a fazer roupas para si mesma e para os amigos com o conhecimento adquirido num curso de corte e costura. No Brasil há oito meses, ela estuda português e se prepara para entrar na universidade: já foi aprovada na graduação em Moda na UNA, mas está aguardando a regularização de seus documentos para iniciar o curso.

Foi aqui onde conheceu Princesse, que já mora no Brasil há quatro anos e estuda Publicidade na UFMG. Benediction lhe mostrou os tecidos, roupas e pedras que havia trazido do Congo e ensinou a amiga a costurar. Com a ajuda da irmã de Princesse, criaram a página no Facebook.

Os modelos da Benkip não são exatamente iguais aos que as mulheres congolesas vestem. As duas se apropriaram de cortes de roupas brasileiras e aplicam nelas os tecidos tradicionais africanos. O negócio ainda está começando, mas a dupla está animada. “Fizemos 110 camisas e agora só temos 35”, conta Princesse.

Maria Luiza decidiu criar os pijamas que não conseguia encontrar em nenhum lugar.

Maria Barbosa

#feitoamao #conforto

O primeiro post no Instagram rendeu duas encomendas. E foi assim que Maria Luiza decidiu criar a Maria Barbosa. A marca de pijamas com tecido natural e corte que prioriza o conforto surgiu da busca de Maria Luiza por um modelo que não conseguia encontrar em lugar nenhum.

Ela cresceu observando a mãe fazer suas roupas e as de seus irmãos. Aos 12 anos, fez seu primeiro curso de modelagem, mas foi só depois de se formar em nutrição e experimentar diferentes opções de carreira que decidiu resgatar o interesse pela costura.

“Agora quero ficar por conta da Maria Barbosa, tem muito mais a ver comigo. O público é bastante específico, mas me sinto recompensada quando vejo uma pessoa que procura exatamente o mesmo jeito de dormir que eu. Me dá até arrepio”, conta.

A varanda da Casa Imaginária virou lojinha da Ki na última edição da Feira Imaginária.

Ki

#sustentabilidade #consciência

O chamado de uma energia — o sentido do termo Ki em orações em sânscrito tem tudo a ver com a forma como Sylvia decidiu criar a marca.

Na infância, ela cultivava a vontade de fazer moda, mas quando adolescente acabou escolhendo por Ciências Sociais. O caminho a levou para o mesmo lugar: Sylvia viu na autossuficiência indígena a saída para algo que a incomodava. Já não conseguia mais comprar roupas em shoppings porque desconhecia a real origem das peças. “Se uma roupa custa R$15, alguém não foi bem remunerado por esse trabalho”, reflete.

Hoje, Sylvia desenha as roupas da Ki e produz em parceria com uma costureira e um costureiro. Quase todos os tecidos são de reuso, comprados em um banco de tecidos reaproveitados de estilistas e grandes fábricas em São Paulo. Sempre que possível, escolhe os tingidos naturalmente.

Assim, consegue provocar mudanças que deseja ver acontecer. Até agora, fazer as próprias roupas com uma pequena produção local e sustentável parece ser a melhor saída para lidar com a indústria da moda.

Eu já tentei fazer revolução de vários jeitos e me decepcionei por ver que muitas pessoas queriam mudar o mundo mas não mudavam a si mesmas. Comecei do pequenininho, mudando a mim mesma. É nessa transformação que que eu acredito.

Toda mudança começa de dentro

Estar realmente presente em cada momento nos torna capazes de perceber os sinais de mudança ao nosso redor e conectá-los com nossos desejos internos. A partir dessa união, começamos a criar a realidade que queremos ver emergir. Mas esse papo é assunto de Teoria U, que eu já falei melhor aqui.

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Bruna Viana
Nossa Grama Verde

Me dedico a criar espaço e condições para as pessoas terem conversas que importam, consigam trabalhar em colaboração e resolver desafios juntas.