Nossa Voz #1020 #Comum

Ser ou não ser família, eis a questão

Vitor Grunvald

Casa do Povo
Nossa Voz

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Domingo (2018), still do vídeo de Paulo Mendel e Vitor Grunwald

Família, Estado e Propriedade: os laços históricos de uma política ocidental

Família, substantivo feminino. Essa é a primeira informação que aparece ao pesquisarmos essa pequena (mas tão pungente) palavra no dicionário. Sejamos sinceras: foi no Google. De fato, acho uma boa entrada. Sem querer menosprezar a importância paterna para o substantivo feminino, sabemos (ou antes sentimos) que o espaço da família se confunde com o espaço da mãe. Como tanto insistem as reivindicações feministas, o lugar da mulher não é necessariamente o lugar da mãe. Da mesma forma, o lugar da família em geral parece menos livre de conotações maternas.

Quantas de nós não conhecemos famílias inteiras que giram em torno dessa figura? Desde minha aproximação da família Stronger, vos digo sem pestanejar, não foram poucos os núcleos familiares cuja mãe é também pai, avô, avó, tias e tios. Mas, quando penso na Stronger, não deixo logo de indagar: de qual família estamos falando, cara pálida? Se a palavra “familiar” define, em muitas línguas, o espaço da proximidade, do reconhecimento mútuo e daquilo que nos é próximo e evidente, seus sentidos, diversamente, se acoplam a experiências muito diversas. “É como se fosse (da) família!”. Quem nunca ouviu ou falou tal expressão? O que fazemos quando elevamos alguém ao status de família? Por que o “como se…” entra em jogo?

Por deformação profissional, a resposta me remete diretamente a um campo acadêmico, talvez aquele que mais tenha se dedicado a estudar e entender muitas dessas experiências e ao qual me dedico, com apaixonado afinco, há quase vinte anos, a antropologia. Primeira lição: família e parentesco são duas coisas distintas. O parentesco, entendido amplamente como organização das relações mais primordiais, parece estar por todas as partes, mas a família, com todas as suas conotações, é uma invenção bastante particular de algumas sociedades.

E por que o parentesco por todo lugar?, perguntariam-me algumas. E a resposta parece ter a ver com uma longa e antiga tradição que, talvez, seja caracterizada não apenas como ocidental, mas como judaico-cristã. Não falo apenas da maneira como os sentidos da família operam o “em nome do pai, do filho e do espírito santo”, “Maria, a mãe de Deus” ou “Abrãao, o primeiro patriarca”. Falo também de como, filosoficamente, a humanidade se produz como humanidade ao separar-se da natureza pela constituição de parentesco — como tão bem elaborou, ainda que com outras linhas e tons, Lévi-Strauss.

Parentesco aqui é político no sentido mais amplo possível. Criamos política, filustria eminentemente humana, ao criarmos o parentesco. No âmbito da nossa mito-filosofia, John Locke, Thomas Hobbes e Jean-Jacques Rousseau talvez sejam aqueles que mais se esforçaram para afirmar que construir grupos é fazer sociedade. Mas, para eles, fazer sociedade era, imediatamente, construir Estado, contrato social.

No fim do século XIX, antropólogas, sempre mirando lugares distantes do nosso, se questionavam onde estava, nas exóticas e distantes sociedades com as quais entravam em contato, a organização social que associamos ao Estado. Elas buscavam sociedades politicamente organizadas sob essa forma, algo que pelo menos sugerisse o início de um poder centralizado, mas encontravam apenas o parentesco ao qual chamavam, ainda desajeitadamente, de família. Seria, então, o parentesco uma espécie de ensaio geral do Estado, um fenômeno que o antecede? Não é esse, afinal, o argumento de Friedrich Engels no clássico A origem da família, da propriedade privada e do Estado, construído inteiramente a partir das anotações de Karl Marx sobre o Sociedade Antiga do antropólogo evolucionista Lewis Morgan? Da experiência de famílias pouco articuladas surgiria um processo crescente de organização e complexificação que daria origem ao Estado.

Eu sei que, hoje em dia, para muitas de nós, a aproximação entre família e Estado é, incontornavelmente, complicada. À prática segundo a qual famílias, a partir de seus próprios interesses, dominam e manipulam o Estado em favor próprio, chamamos de coronelismo, nepotismo e outros nomes que servem para marcar, justamente, uma má política. O Estado, sendo supostamente a forma mais acabada de política, deve expurgar a contaminação inicial de sua forma originária e deve ser outra coisa que não a família.

Mas nem tudo começou com o Estado e, certamente, não se esgota com ele. Ainda que, para nós, Estado e mundo tenham existência simultânea, o mundo escapa por todos os lados, como diriam Deleuze e Guattari. Ademais, o reconhecimento jurídico e, portanto, estatal das relações familiares já é confirmação de outra ordem, tida como ainda mais fundamental e — não posso me furtar à palavra — natural. “Família é, sobretudo, sangue!”.

Ainda que lutemos para, em relações como as da adoção, eliminar o imperativo da conexão biogenética tida como primordial na constituição da família — vide o tão famigerado “instinto materno” — , reconhecemos que há alguma incomensurabilidade entre experiências familiares que são e não são marcadas pelo compartilhamento de uma substância sanguínea comum. A ilusão natural, ainda que questionada, persiste e se atualiza em muitas de nós. O próprio fato (ou necessidade) de questioná-la, aliás, já mostra o quanto ela se coloca como categórica. É afirmada pela negação de não ser afirmada, de forma análoga a Deus no ateísmo. Primeiro, precisamos afirmar a existência de algo para, posteriormente, negá-la. Como negar algo que não existe? Se não existisse, a negação seria negação de quê? Nessa lógica, o Estado viria apenas legitimar, juridicamente, a existência de conexões muito essenciais que não dependem dele, ao mesmo tempo em que criaria, por analogia, outras relações que, segundo o argumento consanguíneo, seriam apenas “como família”.

Eu sei que parece que caminho sobre um complicado terreno filosófico difícil de acompanhar. Mas, para mim, a teoria (uma verdadeira caixa de ferramentas) está sempre para o mundo, e nunca o contrário. É a teoria que deve se ajustar, se medir e se construir em função do mundo. Se invoco toda essa tradição de pensamento (filosófico) euro-americano, é apenas para tentar dar algum entendimento a algo que tenho aprendido, de forma cada vez mais clara, com a própria Stronger: família não é indispensavelmente sangue e lei, ainda que essas aproximações sejam tão fortes quanto necessárias para as nossas lentes culturais.

Domingo (2018), still do vídeo de Paulo Mendel e Vitor Grunwald

Família Stronger, políticas do afeto

A essa altura, já não posso me deter apenas às contextualizações introdutórias e reconheço a necessidade de oferecer alguma pista adicional sobre a misteriosa família da qual venho falando e que, no entanto, com delongas, não foi satisfatoriamente apresentada. Tenho contato com ela há mais de três anos. Conheci inúmeras de suas membras, frequentei casas, festas, vi pessoas casarem e separarem, mudarem de casa, vi casais ficarem grávidos, vi crianças virem ao mundo e soube que outras não tiveram tanta sorte.

Tudo começou quando Elvis Stronger veio me procurar. Já o conhecia há tempos, dos espaços de ativismo que frequentávamos juntos. Ele como representante político da Família Stronger; eu como ativista independente ou da Revolta da Lâmpada, coletivo artivista de inspiração queer e interseccional do qual faço parte. Sua mensagem dizia que a Stronger completara 10 anos de existência e que gostaria de fazer um vídeo sobre o assunto. Elvis sabia que trabalho com audiovisual e, por isso, me fez o pedido, chamando-me de professor como, vez ou outra, o faz. Minha resposta foi que viesse à minha casa para conversarmos. O universo da Stronger que conhecia através de suas falas sempre me despertou enorme interesse, mas nunca soube, de fato, os meandros do seu funcionamento. Elvis me encontrou, então, para um café e passamos três horas conversando. Contou-me muito sobre as “famílias LGBT”, e não apenas sobre a sua. Etnógrafo por ofício, eu propus que, em vez de algo unilateral, pudesse acompanhar a família por um tempo e implicá-la no processo de construção de representações sobre ela, em vez de algo de cunho mais impessoal, institucional ou jornalístico, que imaginei ser o que ele estava me propondo. Algum tempo depois, após uma conversa com o amigo, diretor e artista Paulo Mendel, que topou iniciar comigo essa jornada, iniciamos o Projeto Família Stronger, documentário de narrativa transmídia sobre o coletivo que é, como Elvis costuma colocar, preto, LGBTQIA+ e periférico.

Em texto publicado na Revista Geni em 2016, Elvis conta um pouco como conheceu as famílias. Ali, pesquisador nato como é, constrói uma interessante terminologia que procura dar conta dos diferentes tipos de famílias LGBT que povoam as periferias e o centro de São Paulo. Primitivas, medievais, rolezinho, modernas e pós-modernas — essas famílias são diferentes em termos de funcionamento, mas todas surgiram a partir de algo que é comum na experiência compartilhada entre essas pessoas: a violência que sofrem por ser o que são e amarem o amor que não ousa dizer seu nome, como disse Oscar Wilde.

Quando perguntei a Elvis porque não tínhamos informações adicionais sobre as famílias LGBT em jornais ou mesmo em textos acadêmicos, sua resposta foi contundente: se essas famílias — que, no mais das vezes, iniciam-se com um pai e/ou uma mãe que adotam filhos/as que, por sua vez, adotam sua própria prole e sucessivamente — surgiam motivadas pela segurança que o grupo poderia proporcionar diante de tal violência que sofriam, a invisibilidade era também uma estratégia de sobrevivência. Como se dissessem; deixem-nos em paz! Quanto menos aparecessem, menor a possibilidade de serem alvos das atrocidades que nunca cessaram de lhes acontecer. O que, afinal de contas, essas famílias nos ensinam sobre as tão proclamadas políticas de visibilidade que têm marcado o movimento organizado LGBT no Brasil? Deixo a questão para que as leitoras desse texto a respondam. Será possível uma única resposta?

A violência não está colocada apenas no seio de algumas famílias consanguíneas, é preciso gritar. O próprio Estado necropolítico, com sua máquina de matar e deixar morrer alguns corpos tidos como indesejáveis ao convívio do espaço público, é um dos grandes algozes nessa história. De fato, os momentos-chave do processo de politização e de maior participação e visibilidade política da família da qual Elvis faz parte, bem como de outras, são marcados por cenas de violência de Estado que foram emblemáticas tanto entre ativistas, quanto nos meios de comunicação de massa. O primeiro episódio é o suposto suicídio de Kaique Augusto dos Santos, membro da família Vallentyne, caso denunciado publicamente por esses coletivos como assassinato; e, posteriormente, a execução também brutal de uma travesti de 18 anos integrante da Stronger, Laura Vermont, cujo nome foi, ulteriormente, dado ao único Centro de Cidadania LGBTI da Zona Leste.

O fato é que quando identidades de gênero ou sexualidades tidas como dissidentes cortam o tecido social das famílias biogenéticas, instaurando violência onde se supunha haver segurança, outra noção de família acaba por se projetar para além desse núcleo, pois família, em certo sentido (e esta é uma das lições que aprendi com a Stronger) é aquela que escolhemos.

Como tão eloquentemente argumenta Kate Weston no livro Famílias que escolhemos, escrito a partir da pesquisa que a autora desenvolveu na “comunidade gay” de São Francisco, “nos discursos sobre famílias gays, a amizade vira de cabeça pra baixo a associação cultural entre conexão biogenética e permanência, pois se apresenta como a relação de parentesco mais confiável e duradoura”. Talvez por conta da conexão entre busca de segurança e essas construções familiares é que Elvis tão fortemente defenda que as famílias LGBT, de alguma forma, surgiram, na época da ditadura, como “famílias da noite”. A essas precursoras ele também as chama, às vezes, de “famílias (de) travestis”, e suas principais referências desse momento são figuras históricas como Cris Negão e Andréia de Maio. Vez ou outra, também a admirável e positHIVa Brenda Lee com seu “Palácio das Princesas”.

Há, contudo, quem discorde. Fuh Miguel, pai da família D’Matthah, por exemplo, em uma das reunião do Consulado das Famílias, disse não concordar com essa caracterização, vendo as famílias, de fato, como formação social característica dos anos 2000 e tributária das redes sociais. Ainda que consideremos, como o faz Fuh Miguel, as particularidades e diferenças entre esses grupos, me parece indiscutível que algumas continuidades entre essas e outras experiências se colocam logo de cara.

Lembro-me quando tentei explicar à minha mãe a quê estava me dedicando com tanto afinco. E, ao explicar-lhe um pouco do que se tratava, logo tive como resposta: “Entendi, como no caso da Camila!”. De fato, pensei. Camila é a filha da irmã de minha avó — prima, portanto, de minha mãe. Consideravelmente mais nova, acabou sendo criada conjuntamente por sua mãe consanguínea, por minha avó e por sua prima, morando, em distintos momentos, nas casas onde essas habitavam e às quais chama todas, até hoje, de mãe.

Minha mãe me fez perceber, assim, algo que considero fundamental. Mesmo no seio das famílias conectadas involuntariamente pelo sangue, ainda assim persiste a voluntariedade dos laços familiares não consanguíneos. Mãe pode ser, inequivocamente, aquela que nos pare, mas, certamente, não se restringe à essa figura. E, assim, o tipo de relações familiares que a Stronger apresenta — que eu, como qualquer outra, poderia tomar como exótico e excepcional — passou, então, ao seio da minha própria família, mostrando-me como, mesmo na presença do laço biogenético, construímos sempre aquilo que, de fato, merece ser chamado por esse nome. A família nunca é uma realidade dada. Não é um fato, mas um feito. O importante, na família, é fazer(-se) família.

Há pouco tempo, assisti à série Pose, produzida pelo Netflix, que retrata ficcionalmente (como o fez de forma documental o clássico filme de Jenny Livingston, Paris is burning) o contexto das ballrooms de Nova Iorque dos anos 1990. Outro interessante tipo de família. Os grupos LGBTQIA+ que disputavam as categorias das competições também atendiam por esse nome. Não pretendo, aqui, estender-me sobre o que podemos aprender com essa série; mas gostaria de lhes contar uma cena que me parece particularmente iluminadora para as questões que tento tatear neste texto.

Blanca, mulher trans que havia se desligado de sua família inicial, liderada por Elektra, tornara-se, ela própria, uma mãe que viria a constituir sua família. Um de seus filhos estava traficando drogas, algo inaceitável aos seus olhos, ocasionando sua expulsão de casa. Blanca, como toda mãe, imagino eu, tinha dúvidas se havia feito o melhor para sua família e seu filho. Queria ensinar-lhe uma lição. Mas, seria essa a melhor maneira? Foi então conversar com a rígida mas cuidadosa professora de balé de seu outro filho. Comparando-se com sua mãe de sangue, Blanca diz que, ao contrário dela, seria “durona” quando tivesse seus próprios filhos, mas que não estava certa de que deveria ser assim. Ela pergunta à sua interlocutora: “Como você faz? Como você apoia e desafia suas crianças?”. E recebe como resposta: “Com todo respeito, não sou a pessoa com quem você deve ter essa conversa. Eu não tenho filhos”. Blanca, em seguida, pondera: “Mas você tem seus alunos”. A conversa segue. A professora, uma espécie de mãe para seus alunos, reflete: “Bem, você fez uma escolha. Só o tempo dirá se foi correta. Mas fez o que pensou ser o melhor para sua família, para protegê-la. No seu lugar, eu teria feito o mesmo. Vender drogas é crime. Se deixasse essa ofensa sem punição… quem sabe como seria a próxima? Você está chateada porque tem compaixão e integridade. Qualidades importantes para uma mãe. Não mude.”

Domingo (2018), still do vídeo de Paulo Mendel e Vitor Grunwald

Famílias imaginadas e a disputa da tradição

Gayle Rubin, importante teórica de uma série de elaborações que viriam a se tornar centrais nos estudos sobre gênero e sexualidade, em um de seus textos, retoma dados históricos para pontuar como, em momentos de transformação radical da sociedade, a sexualidade, a infância e, diríamos também, a família tornam-se importantes nódulos em relação aos quais se criam ansiedades e pânicos morais. As discussões sobre aborto, os pavores da pedofilia, os casamentos homoafetivos, as discussões sobre sexualidade na escola, tudo isso está conectado com processos que vemos incrustados e implicados no seio da família. Não é à toa que a noção de “família tradicional” esteja tão em voga no discurso que algumas pensadoras brasileiras, como Lia Zanotta Machado, têm chamado de retrocesso neoconservador.

Mas uma rápida mirada nos dados estatísticos e nas histórias familiares que temos à nossa volta (a minha própria?) não nos conduziria a um tipo de tradição muito diversa daquela advogada por esses grupos? Em um modelo cisheterocentrado de família que torna a maternidade um peso que, a despeito de tudo, deve ser carregado, enquanto a paternidade se torna um acessório que pode ser dispensado, quantas mães não criaram sozinhas suas filhas e filhos? Ou, ainda, quantas vizinhas e comadres não se alternam nesse cuidado quando essas mesmas mães ocupam também o que a tradição relega a pais provedores do lar? Quantas avós não criam suas netas e netos quando suas filhas e filhos não conseguem, por tantas determinações impossíveis de julgar, criá-las? Como e com que autoridade, em suma, senão a partir de uma ilusão moralizadora que visa tornar abjeta e impossível a experiência de tantas, podemos afirmar, sem pestanejar, que a família estruturada em torno de uma mãe e um pai consanguíneos é a tão famigerada “família tradicional”? Que torção na realidade brasileira é preciso ser feita, que fantasia é preciso ser criada para que essa tradição seja, enfim, construída como verdadeira a ponto de ser reivindicava como legítima?

Depois de quase três anos aprendendo com a Stronger, tenho defendido que se trata de um erro político deixarmos a família tradicional na mão daqueles que visam nos esmagar com suas normas e falsas reivindicações. Se eles entram na luta com a família tradicional e nós entramos sempre com o que, a partir dessa noção, é tomado como alternativo ou excepcional, não iniciamos a batalha com a derrota já dada? Hoje, me parece fundamental que disputemos e pluralizemos essa tradição, posto que seja de tradições muito diversas daquelas que grupos neoconservadores tentam nos vender, em seu escuso jogo político, que a própria tradição familiar brasileira é constituída.

Se, como Benedict Anderson peremptoriamente afirmou, a nação é uma comunidade imaginada, após todas as considerações que fiz, não é possível que pensemos a nação como uma larga família nacional que, como outras, possui dissensos, quizilas e conflitos a resolver, mas que também deve, para sua própria prosperidade, apaziguar, ponderar e conciliar, gestos tão opostos ao ódio destinado por alguns àquelas que são pintadas como diferentes de sua falsa tradição pregada pelos quatros cantos do país?

Quem sabe, assim, como tão bem me ensinou minha mãe, a Stronger realmente não seja um caso excepcional de uma regra geral de fazer família. Talvez ela seja, de modo contrário, uma regra geral de como construímos, sempre de forma particular e excepcional, uma comunidade. E aí que, surpreende e maravilhosamente, a Stronger parece ter mais a nos ensinar sobre afeto e política do que os ditames da esquerda institucional. Pelo menos nesse momento, em que, para disputar o que queremos construir como nação e sociedade, temos também que disputar, de forma tão decisiva quanto urgente, o que é ou não é família.

Vitor Grunvald é mestre pelo Museu Nacional/UFRJ e doutor e pós-doutor pela Universidade de São Paulo em Antropologia Social. Atualmente, é professor do Departamento de Antropologia e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. É coordenador do Núcleo de Antropologia Visual (UFRGS) e do Grupo de Reconhecimento em Universos Artísticos/Audiovisuais (IFCS/UFRJ). Nos últimos anos, tem desenvolvido obras e reflexões sobre gênero, sexualidade, teoria queer/kuir, arte, imagem e performance, além de oferecer cursos sobre estes temas e estratégias documentais em instituições tais como universidades, museus e centros de cultura e formação.

Texto publicado originalmente na edição 1.020 do jornal Nossa Voz.
Acesse a publicação na íntegra aqui.

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