Cine Vitória e Livraria Cultura: A casa de portas fechadas novamente

Tabata Hellen
MeuRio
4 min readNov 8, 2019

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O Cine Vitória foi uma sala de cinema localizada na Cinelândia, centro do Rio. O local recebeu este nome justamente pela quantidade de salas de cinema presentes, e que, ao longo do tempo, muitas dessas salas foram fechadas ou abandonadas. O Cine Vitória foi inaugurado em 1942, com o filme “O Grande Ditador”, de Charles Chaplin, e foi extremamente divulgado em jornais e também pelo grupo Luiz Severiano Ribeiro. Segundo essas propagandas, o Cine Vitória foi construído ocupando um imóvel de três mil metros quadrados para exibir grandes filmes, foi um dos últimos grandes cinemas construídos na Cinelândia.

Com o passar dos anos o Cine Vitória passou a ser conhecido como um cinema de filmes pornográficos, mais especificamente o Vitória, que funcionava no andar térreo do Edifício Rivoli. “O Vitória era um dos inúmeros cinemas da região no entorno da Cinelândia. Ao lado do Pathé, do Império, do Odeon, do Capitólio, do Metro Boavista, do Palácio, entre outros, atraía um público elegante nas matinês e soirées, especialmente nas décadas de 1940 e 50”, conta Leonardo Ladeira, na Coluna do Patrimônio Histórico.

Revitalização do Cine Vitória (Foto: Domingos Peixoto Agência)

Em março de 2007, o edifício (incluindo o cinema) foi tombado pelo patrimônio municipal. No entanto, sete meses depois, o imóvel acabou ocupado, temporariamente, por cem integrantes do Movimento Nacional de Luta Contra a Falta de Moradia.

O Edifício passou por reformas até resultar na abertura da Livraria Cultura, em 2012. A livraria recebeu R$ 31,7 milhões de financiamento do BNDES para expansão e modernização de lojas pelo brasil, sendo duas lojas no Rio de Janeiro. A maior livraria do país tem a história iniciada pelo casal de judeus alemães Kurt e Eva Herz chegou ao Brasil em 1939, fugindo da perseguição na terra natal e da Segunda Guerra Mundial que eclodira naquele ano.

Kurt e Eva Herz após fugir da Alemanha nazista

Kurt era representante comercial e o que ganhava não era suficiente para sustentar a família. Sua esposa, Eva Herz, então começou a alugar livros para uns amigos alemães. Era uma biblioteca circulante formada por sócios, como ela os chamava. Sugeriram então que ela os vendesse e então começou a fazer isso em casa mesmo, um sobrado da rua Augusta (região central de São Paulo).

Pedro Herz, filho do casal, assumiu os negócios em 1969, mudando a sede da livraria para o icônico Conjunto Nacional, na avenida Paulista, onde até hoje funciona a principal loja do grupo. A partir disso, Pedro Herz espalhou 17 lojas por todo o país. Porém, a maior livraria do país nesta época começou a culminar em dívidas altíssimas.

O grupo da Livraria Cultura condena a crise econômica a partir de 2014 responsável pela dívida. Como o país entrou em recessão durante o governo Dilma Rousseff, os preços finais ao consumidor se mantiveram estáveis e os custos de produção aumentaram. Mas isso é só parte da explicação. A empresa continuou investindo em expansão e pagando para ocupar imóveis cada vez mais caros (vide a sede da livraria no centro do Rio) enquanto o mercado se retraía.

Em outubro, a Cultura bateu à porta da Vara de Falências. A consultoria Alvarez & Marsal foi designada administradora judicial, isto é, é o “olho” do juiz dentro da Cultura enquanto os gestores da empresa tentam levá-la de volta à solvência. 90% dos credores aprovaram o plano de recuperação judicial da Cultura. Em linhas gerais, os credores aceitaram a proposta de receber a dívida com até 70% de desconto em um prazo de até 12 anos.

Com isso, na véspera do feriado de Nossa Senhora Aparecida em 2018, a rede fecha as portas da loja do Rio de Janeiro, onde habitou após o fechamento do antigo cine vitória, com isso, a Cultura deixou de contar com livrarias físicas na cidade. No mesmo local funcionava o Teatro Eva Herz, que também encerrou suas atividades.

Em nota, a Livraria Cultura informou ser irresponsável manter uma lojas deficitárias diante de incertezas do país, porém continuariam a atender o público do Rio através do site ( www.livrariacultura.com.br ) e pelo site da Estante Virtual ( www.estantevirtual.com.br ). A empresa também manterá na capital carioca o Eva Labs, laboratório de inovação para soluções de varejo.

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