Loja fechada da Casa Cruz, na Tijuca.

Crise abala o comércio e Casa Cruz decreta falência após 124 anos

Luis Mendes
MeuRio
Published in
3 min readNov 30, 2017

--

Um dos estabelecimentos mais longevos do Rio de Janeiro, a Casa Cruz encerrou suas atividades neste ano, após 124 anos sendo a principal papelaria do estado. Fundada em 6 de dezembro de 1893 por José Rodrigues da Cruz após desentendimento com o pai, o comerciante português Manoel Rodrigues da Cruz, enquanto conduziam uma loja de artigos marítimos, surgia a primeira papelaria da cidade do Rio, aberta na atual Rua Ramalho Urtigão.

Para se ter uma ideia da longevidade do estabelecimento, a Casa Cruz foi criada apenas cinco anos após a abolição da escravatura, começando como um comércio de vidros mas logo ampliando seus horizontes, vendendo material didático e artigos de desenho e pintura. Em seu último momento, a rede contava com sete lojas, em Campo Grande, Centro, Copacabana, Madureira, Nova Iguaçu, Niterói e Tijuca, todas fechadas devido à crise financeira que atingiu a companhia.

Em sua reta final, a Casa Cruz atrasou salários e demitiu em massa, culminando até em manifestações no Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro. 119 funcionários demitidos não receberam as indenizações devidas e temem que a quebra da empresa faça com que a rede não honre suas dívidas com os funcionários, visto que o “calote” dado nos fornecedores deixou-os sem crédito. A decadência do estabelecimento não chega a ser surpresa para muitos, visto que diversos consumidores reclamavam da queda na qualidade do atendimento e da falta de itens básicos no estoque enquanto o discurso oficial da Casa Cruz em seu site falava dos planos da rede em abrir novas lojas nos próximos dois anos.

Segundo pesquisa realizada pelo Clube de Diretores Lojistas do Rio (CDL-Rio), divulgada no fim de julho, quase mil lojas de rua fecharam as portas no Rio em junho, a maioria na Zona Norte. O aumento da violência, alto índice de desemprego e a crise econômica no estado são citados entre os principais motivos para o fenômeno. O número subiu 149% em relação a junho do ano passado, um crescimento exorbitante derivado da crise vivida pelo estado do Rio de Janeiro.

A morte da Casa Cruz, uma verdadeira instituição da cidade do Rio de Janeiro, é uma metáfora para uma cidade que agoniza com uma série de problemas sociais, perdendo baluartes de sua história e sofrendo com uma crise administrativa que parece devastar o estado aos poucos. Ressurgindo após incêndios e existindo praticamente durante toda a existência do Rio de Janeiro livre, a Casa Cruz pode ser vista até como uma espécie de fênix e um retorno em outra plataforma não é impossível. Em suas redes sociais, a rede dá a entender que pode ter um futuro digital com pesquisas de satisfação sobre o visual do site, qualidade de navegação e opção de envio de produtos on-line. Apesar da perspectiva de mais uma ressurreição, as portas fechadas da tradicional papelaria deixaram diversos cariocas órfãos de um estabelecimento em que foram clientes durante toda uma vida e marcam o fim de uma era no Rio.

--

--