Restaurante El Cid não resiste, fecha as portas e moradores lamentam o fim

Reverenciado pela picanha e o chope, estabelecimento encerra as atividades

Bruno Fajardo
MeuRio
3 min readNov 27, 2020

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Famoso por sua tradicional picanha acompanhada do chope extremamente gelado da Brahma — aqui cervejas artesanais e importadas não respondiam pela preferência do público, o bar e restaurante El Cid não suportou a crise econômica que circunda o Rio de Janeiro desde o final dos Jogos Olímpicos de 2016 e fechou as portas em meados de agosto de 2020, curiosamente, quatro anos após o fim das Olimpíadas.

Restaurante segue com a fachada, porém, de grades arriadas

O negócio já demonstrava sinais de que passava por maus momentos. As adversidades impostas pela Economia no país e nitidamente refletidas na cidade carioca nos últimos anos aparecem no topo das razões. Porém, outros atenuantes chegaram para sacramentar o encerramento do cambaleante comércio.

Dentre eles, o maior, a pandemia mundial por conta do novo Coronavírus. É claro que não podemos ignorar o estrago da Covid-19 ao redor do globo. Mas não avaliarmos o cenário como um todo é, minimamente, uma atitude leviana. Fatores que estão ao controle de inciativas público e privadas poderiam salvar este e outros estabelecimentos.

A queda no Turismo figura entre as essenciais razões no caso do El Cid. Encravado na Rua Ministro Viveiros de Castro entre as Avenidas Princesa Isabel e Prado Júnior, o restaurante era ponto de encontro de milhares de turistas que frequentavam as conhecidas boates de Copacabana, principalmente as fronteiriças do Posto 1, famoso por sua boemia.

Entra elas, a tradicionalíssima Barbarella e a Marrakesh, ambas no entorno. Que, assim como o seu vizinho de outro segmento, não aguentaram e acabaram por fechar. Ambas estremeciam há anos, tendo em 2020 o seu último golpe desferido, que ocasionou o nocaute.

A famosa boate e o restaurante em perspectiva

O caso da Barbarella, que tinha em sua lista de frequência artistas do quilate de Tim Maia, integrantes das bandas de rock U2 e Scorpions, atores de Hollywood e ademais que se deleitavam no espaço, mas não revelavam a assiduidade, apresenta quadro similar. Para piorar, a violência e a desvalorização da cidade aparecem como possíveis motivadores.

A Marrakesh foi a primeira a ceder, em abril, enquanto a rival de maior nome sucumbiu após dois meses. E como num efeito dominó, chegou a vez do El Cid, também cerca de 60 dias depois. No final das contas quem saiu perdendo foi a comunidade carioca.

A danceteria Marrakech e o vizinho El Cid, ambos fechados

O restaurante do espanhol Manolo, erradicado no Brasil a mais de 50 anos e dono do espaço por cinco décadas, era também reduto familiar nas horas do almoço e jantar. Como uma espécie de super-herói, o El Cid mudava de público com o cair da noite. O traje era de acordo com o horário e urgência, enquanto o cardápio atendia da família aos exigentes e badalados roqueiros. O certo é que ambos irão sentir falta daquela carne macia e do chope trincado.

A última vez que tive a oportunidade de falar com o Manolo, ele deixou escapar que o fim estava próximo. Muito reservado, a conversa foi ocasional, nada de viés jornalístico. Até porque não o conhecia a fundo, foi coisa de momento, pela ausência de intimidade.

Outro vizinho famoso também fechara a pouco, o Nogueira. Menos badalado, este tinha a melhor pizza da região para alguns bairristas mais nostálgicos.

Tudo isso é muito triste. Frequentava o El Cid desde quando os moleques eram pequenos. Agora um tem 40 e o mais novo 35. Moro aqui na região a mais de 50 anos e estou acompanhando o fechamento de diversos estabelecimentos tradicionais. Copacabana já não é mais a mesma, infelizmente! — lamenta seu Arnaldo, morador da região e cliente assíduo do restaurante El Cid.

Moral da história! Os gringos ficaram sem as dançarinas de striptease, eufemismo proposital, os beberrões sem chope, os comilões sem carne e petiscos, enquanto os moradores e ademais fãs, sem nada!

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