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6 min readMar 12, 2018

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Meu primeiro contato com Chrono Trigger foi aos 11 anos. Fui em um churrasco na casa do meu primo, e ele estava jogando no PS2, naqueles CDs com mil jogos de SNES. Lembro de sentar ao lado dele no sofá, a tela exibindo chamas. Perguntei que jogo era, mas nem lembrava do nome minutos depois. Ele me contou que não conseguia passar do último chefe. Assisti os bonequinhos enfrentarem um monstro que parecia uma barata gigante, mas sem sucesso, meu primo morria bastante. Fui comer carne e esqueci desse momento por um tempo. Acho importante citar isso, pois um jogo que tempos depois mexeu tanto comigo a princípio passou despercebido, como só mais um RPG que vi alguém jogar. Fico pensando em tantos outros que deixei passar… mas isto não vem ao caso. O ponto é que, meses depois achei um CD de PS1 do jogo e comprei sem saber o que era, só porque gostei da capa, que lembrava Dragon Ball.

Tenha em mente que nessa idade eu ia na barraquinha do camelô e meu pai deixava escolher um jogo sempre que ele comprava dois CDs de música ou DVDs (3 por 10 fez minha infância feliz) e eu nunca sabia do que se tratavam os jogos. Cada vez que um CD novo entrava no videogame era sempre uma surpresa, até se funcionava ou não. Quando a abertura do jogo começou eu fiquei bastante animado, os personagens pareciam variados: o menino ruivo com a espada, a Bulma como sempre cercada de ferramentas, tinha um sapo, um robô e uns dinossauros. O jogo me conquistou ali, e quando veio o pêndulo, quase silencioso, já estava apertando X sem parar pra poder iniciar o jogo. Eu não sabia inglês, tinha tanto jogos quanto tempo livre, e na época havia acabado de descobrir como plantar em Harvest Moon, então Chrono virou um jogo que vez ou outra aparecia dentro do meu videogame, mas nunca por muito tempo. Nunca consegui voltar ao passado, a Lucca nunca teve problemas na máquina dela. Meu jogo estragou.

Eis que chega 2008, ganhei meu sonhado PS2, e, com ele, diversos jogos. Um belo dia lembrei daquele joguinho que havia comprado no ano anterior e resolvi procurar, ainda tinha a capa do jogo em casa. Para minha surpresa existia uma versão em português. Dessa vez Crono participou de um acidente na máquina da sua amiga, também salvou uma princesa e foi julgado injustamente por seus atos. Mas não durou muito. Um problema de jogos piratas é que eles normalmente estragavam, por mais cuidado que eu tivesse, e assim que cheguei no futuro, Chrono Trigger acabou pra mim pela segunda vez.

Troquei de CD com um colega nos meses após eu ter perdido Chrono. Estava disposto a terminar aquela história. Mais uma vez eu tinha mil jogos de Super Nintendo na minha mão, mas dessa vez eu só queria um deles. Não vou ficar repetindo a história, você que está lendo isso aqui provavelmente jogou Chrono Trigger e, se não jogou, saia daqui e vá jogar. Como você pode imaginar, dessa vez fui além, venci uma corrida, conheci o robô da abertura e ainda fui parar em um lugar esquisito onde tinha portais e um velho cochilando, além de um ursinho bonitinho que queria brigar sempre (ou era o que eu pensava). Esqueci de mencionar que, entre mil jogos, não eram todos que funcionavam no CD, e dessa vez eu tive que me contentar com a versão em inglês. Isso acabou me deixando meio perdido sobre o que fazer, e assim que você chega em End of Times e a luta contra o Lavos está disponível, eu achei que era o fim do jogo (lembrei da vez que vi meu primo jogar) e nunca passei do Lavos. Crono, Marle, Lucca e o robô pararam no tempo, ficaram lá na minha bolsa de CDs.

Às vezes voltava pra jogar Chrono, a cada x meses eu recomeçava, adorava o começo. Em uma dessas vezes cheguei onde parei: Lavos, End of Time, a coisa toda, e para a minha surpresa entrei em um portal que me levou para outro local e avancei na história novamente, a história que pensei ter chegado perto do final. Dessa vez encontrei o sapo de novo, dei a Masamune para ele, conheci a Ayla, e em algum ponto nessa época vendi meu PS2, porque queria juntar dinheiro pra ajudar meu pai a comprar outro console, mais novo.

Em 2011 estava sem videogame, baixei um emulador de PS1, e adivinha? Recomecei Chrono Trigger pela décima vez provavelmente. Novamente em inglês, mas dessa vez entendia algumas coisas. Cheguei em Zeal Palace. Meu PC teve que ser formatado. Crono e seus amigos voltaram no tempo mais uma vez, Crono esbarrou na Marle de novo, a máquina da Lucca estragou novamente. O fato do jogo lidar com viagens no tempo deixou tudo mais engraçado olhando pra trás. Joguei tantos jogos, a maioria que terminava, passava pra frente, vendia, trocava, etc. Mas Chrono Trigger sempre voltava, algo me chamava atenção naquele jogo, talvez sejam as músicas, ou os personagens carismáticos com suas reações bonitinhas, mas provavelmente era o conjunto de tudo isso.

Sem notar, Chrono Trigger cresceu comigo em momentos difíceis e felizes. O jogo sempre estava lá, sempre recomeçando, fosse um save apagado sem querer, um videogame estragando, um computador com vírus, ou só minha vontade de voltar a Millenial Fair. Em 2013 eu comprei Chrono Trigger para PS3, dessa vez eu estava disposto a terminar. Crono morreu (dessa vez o personagem, não o jogo). Apesar da internet existir, eu evitei spoilers de CT desde sempre. Nessa mesma época eu assinei PSPlus, e aí Bioshock, Mass Effect e dezenas de outros jogos tomaram conta da minha vida. Novamente, mais um videogame teve que ir pro conserto, mais uma vez a história voltou no tempo. 2014 veio com meu PS4, 2015 com cursos e 2016 com o início da faculdade. Perdi alguns amigos, ganhei outros, a vida seguiu, e eu sempre voltava pra Chrono Trigger, sempre avançava um pouco mais na história, sempre descobrindo algo novo. Em 2017, cheguei oficialmente no final de CT, fiz as quests que pude. Mas nunca derrotei Lavos. Nunca vi nem ao menos um dos finais, apesar de atualmente saber de alguns.

Faz mais ou menos 10 anos que tive meu primeiro contato com Chrono Trigger, minha vida passou junto com o jogo. Meu save está me esperando no PS3, só preciso derrotar o Lavos. É bem provável que não recomece mais e vá direto para batalha final, ando sem tempo ultimamente até pra jogar coisas novas. Mas, sinceramente, não quero que o jogo acabe. Quero acabar, quero entrar no new game plus pela primeira vez, abrir novos finais. É um sentimento conflitante. Esse jogo esteve presente em tanta coisa na minha vida — primeiro amor, quando aprendi a dirigir, quando um primo que eu gostava muito faleceu, quando comecei a faculdade, etc. Momentos pequenos ou grandes na minha vida, Chrono Trigger estava lá, seja comigo jogando, ou cogitando voltar a jogar. Sinto que quando acabar, talvez não consiga vê-lo da mesma forma. O amor vai ser o mesmo, mas vai ser como o fim de um longo relacionamento, onde é você quem termina, mas no fundo não quer terminar e acaba sendo o mais magoado dos dois.

Essa é a primeira vez que escrevo sobre algo que gosto dessa forma, mas queria colocar isso tudo pra fora antes de terminar esse jogo. Vai ser esse ano, quero que seja, só não sei quando. É engraçado, um jogo sobre viagens no tempo, que sempre volta para seu ponto inicial, um ciclo infinito. Talvez volte a escrever sobre Chrono Trigger quando acabar o jogo, mas sinto que não tenho mais nada a dizer. Chrono Trigger é meu jogo favorito. Eu nunca terminei Chrono Trigger.

- Bruno Dionisio

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