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4 min readMar 28, 2016

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A.

Olá. Eu sou um homem. Eu sou um pai. Eu quero proteger minha filha dessas coisas que estão rodeando nós, aqui em Tokyo (2049). Eu aceito você, livro. Me dê poder. Nível, 5, 10, 20, 30, 50.

1332 anos depois.

Olá. Eu sou um homem, eu sou um pai. Às vezes eu sou um irmão também. Minha filha/irmã tem uma grave doença, que pegou graças a Aquele Acontecimento que ocorreu 7 anos antes desse mundo onde vivemos ser alguma coisa. Tudo o que quero é curá-la, e vou fazer de tudo para isso — mesmo que tenha de dar minha vida nisso. Ultimamente as Sombras estão atacando os arredores da cidade onde nós vivemos — quero ajudar as pessoas que tem um problema com as Sombras, afinal elas também vieram do Acontecimento e podem ser um caminho para eu salvar quem amo. Não tem problema, vou fazer todos os favores possíveis, ajudar com tudo o que Popola, que sempre está aqui na biblioteca para mim, pedir. Quem sabe encontre alguma solução para o problema. Quem sabe.

Olá. Eu sou livro, eu sou sua fonte de magia. Não sei quem é esse homem que está na minha frente agora, e tem duas sombras gigantes aqui — eu posso ajudá-lo. Sei que posso. Mas quem sou eu? Por que existo? Não sei, mas por favor me tratem com cordialidade. Meu poder mágico? É ser tipo um jogo de navinha, só que no meio da ação mesmo. Irei ajudar-lhe com as Sombras e tenho certeza que a resposta para seus problemas está em algum lugar aqui, em minhas páginas.

Eu sou uma “mulher”. Porque eu deveria te cumprimentar, hein? Vai querer um ‘bom dia’ também, arrombado? Metade de mim é uma Sombra e quero matar aquela sombra gigante que me persegue, não me atrapalhem, Homem e Livro. Ela é minha. O que? Está com medo do que eu posso fazer? Sai daqui. Ninguém gosta de mim em minha vila — por isso vivo aqui fora, sozinha, enquanto persigo a Sombra. Quero vingança, é pela minha avó. Depois disso posso morrer em paz. Me sinto tão sozinha, aqui.

Não tem ninguém, absolutamente ninguém no mundo para mim.

Olá. Você provavelmente veio porque sua filha/irmã falou de mim, não? Eu tenho um sério problema, esse problema machuca as pessoas. Elas viram pedra. Eu odeio meu problema. Sinto que ele tem a ver com as Sombras. Não ligue para minha casa, às vezes ela parece Resident Evil mesmo — é só uma brincadeira, tenho certeza que você estava cansado da mesmice de horas atrás, não? Vamos virar as coisas um pouco. Venha, me ajude a resolver meu problema. Obrigado. Quem sabe agora eu te ajude um pouco e olha, se você estiver lendo isso em 2016 eu posso ter o mesmo rosto que meu criador. Legal, né?

Sou uma garota muda. A Mulher uma vez salvou minha vida, e sou muito grata a ela. Eu vivo na imensidão do deserto, onde temos uma cidade — todos aqui usam mascaras e falam uma língua estranha. Se você quiser te ajudo a traduzir tudo. Afinal a Mulher me ajudou uma vez, e preciso pagar por isso, está nas regras, sabe. Minha cidade tem muitas regras, muitas mesmo.

Eu amo o meu pai. Foi sempre assim — nós dois nesse vilarejo, certo? Claro que recebemos muita ajuda das pessoas aqui, a Popola está sempre dando suporte a nós dois e ajudando meu pai a descobrir uma cura para meu problema. Para falar a verdade, não me importo. Só queria que o Pai estivesse sempre aqui comigo. Teve aquela vez que nevou, e ele disse que ficaria em casa por causa da neve. Queria que nevasse para sempre. Às vezes, quando ele está longe, gosto de escrever cartas, e sei que em algum lugar lá fora ele vai poder respondê-las, afinal por qual outro motivo teriam tantos correios espalhados por aqui? Sinto saudade quando ele não está aqui.

B.

Nós somos sombras.

Mataram meu irmão, só resta eu aqui. Oh! Quem são vocês, amigos? Vamos ser amigos, isso. Espera, alguém está vindo aqui, saiam, por favor, saiam. Não morram. Vocês não precisam morrer. Por que você fez isso?

Sou um lobo, uma sombra. Meu dono morreu e agora só me resta a alcateia. Ultimamente as pessoas do deserto estão em conflito conosco — eu só queria viver em paz. Mesmo assim, se eles querem retaliação, eles terão.

Eu sou uma sombra. Outro daqueles humanos mataram minha mãe — e agora só resta essa lata velha aqui. Ei, lata velha, você consegue dizer alguma coisa? Me conte sobre esse lugar, só resta nós dois aqui.

Ah, Mulher! Olá, eu sou uma sombra também — uma bem legal, e vou acompanhar você por onde você for. Como se sente com uma voz dentro de si, comentando tudo o que acontece? Vou fazer você experimentar novamente, pedacinho por pedacinho.

Por favor, se afastem daqui, ou vão matar nossos bebês.

E eu vou ficar muito brava. Não brinquem comigo.

Eu sou um pai, quero proteger minha filha. Eu sou uma sombra.

C.

Se você pudesse escolher entre apagar sua existência, mas salvar todos aqueles que ama, ou continuar vivendo, mas perder alguém de muita importância, qual você escolheria?

D.

Chegou a hora.

Eu sei muito bem o que você respondeu ali. Mesmo assim, eu e você sabíamos também qual era a resposta certa. O que importa é que eu ando fazendo muitas armas devido aos favores que cumpri, do dinheiro que ganhei trabalhando no vilarejo e nos lugares a sua volta. Foram muitas horas gastas — muitas mesmo. Já perdi as contas de quantas cartas já mandei e recebi de minha filha.

Esse texto nunca existiu. (Você tem certeza de que quer terminar esse texto?)

Você poderá ainda ter a memoria de alguém muito importante. (Certeza, tipo, absoluta?)

Valeu a pena, não? Tchau. (TEM CERTEZA?)

CERTEZA?

Tchau.

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Olá. Eu sou Nier.

-Lucas Rafael Andrade

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