A minuciosidade dos detalhes encanta

Nailson Costa
notas e um desalmado
3 min readDec 27, 2016
Escadas rolantes da Estação Pinheiros

Diariamente faço o trajeto entre as Linhas 5-Lilás, 9-Esmeralda e 4-Amarela para ir ao trabalho. Você já parou para observar os detalhes imersos a sua volta? Nos arredores da estação #CapãoRedondo, do Metrô, dezenas de ambulantes armam suas barracas improvisadas e vendem desde a óculos de grau e relógios modernos a réplicas de tênis Mizuno.

A maioria são imigrantes angolanos. Daren, de 28 anos, é um dos jovens que vieram da Angola e que trabalham por ali. Ele é alto, magro — de gingado estilo ao do Will Smith no seriado “Um Maluco no Pedaço” — usa roupas muito coloridas e óculos azul espelhado. Conversou rapidamente comigo, sempre com os olhos atentos, procurando agentes da Guarda Civil Metropolitana (GCM). Darem contou que ultimamente tava difícil conseguir algum trocado na estação, pois “os guardinhas estavam fazendo o rapa dia sim, dia não”, disse. “Nem as moças que vendem café passam batido”.

Na entrada da estação Capão Redondo todo dia há filas. Fila pra carregar o bilhete na máquina, fila pra comprar bilhete, fila pra passar a catraca, fila pra entrar no trem. O trajeto até a Linha 9-Esmeralda leva, em dias calmos, cerca de 14 minutos. O mesmo tempo é gasto no caminho a pé, que integra o Metrô e CPTM, na estação Santo Amaro. Deus! Como é torturante essa caminhada. Não é a plataforma e escadas que são estreitas, mas o número de pessoas que ali passam por dia é enorme e lota instantaneamente o lugar, criando um rebanho de gente que anda a passos curtos, coladas umas nas outras. Nos dias em que a estação está vazia, essa caminhada leva no máximo 4 minutos.

Já na Linha 4-Amarela, estação Pinheiros, a contagem de tempo é outra. Você sabia que essa estação é a mais profunda do #MetroSP? As plataformas de embarque ficam a trinta metros abaixo do #RioPinheiros. E isso me lembra o triste acidente de 2007, em que parte das obras do túnel desmoronou e matou sete pessoas. A cratera de mais de 80 metros que se abriu parecia a boca do inferno.

Ao todo, são cinco escadas que interligam os pisos da estação. Se você está na integração Esmeralda/Amarela, a primeira escada rolante leva 14 segundos cravados até piso seguinte. As outras quatro escadas, impreterivelmente, levam 23 segundos cada. Entre uma escada e outra, contei 63 passos médios — mas esse número pode varias de acordo com o dia. O rebanho de pessoas também é visto por aqui, desde a passarela até lá embaixo. Mas com um toque diferente nas escadas que se cruzam enquanto descemos. Parece até trecho do filme “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, em que os Umpa-Lumpas (operários comedores de cacau) descem as escadas de uma área da fábrica.

Muitas coisas acontecem diariamente no meu trajeto de casa ao trabalho, pelas estações da vida. Mas, algo predominante em todos os trens e vagões e plataformas foi o considerável número de pessoas presas com olhos vidrados e solidificados em seus smartphones, inclusive eu ao redigir esse texto.

Desço na estação e caminho em direção à agência. Paro num farol e olho para o relógio digital urbano: são 10 da manhã e a temperatura já bate 30º graus. Tá calor, né?

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Nailson Costa
notas e um desalmado

Estuda #jornalismo na @FAPCOM, é redator na @SomosA2ad, fundador do canal de notícias @CapaoNewss e adora boas histórias :D