Meu chocolate matinal voou
Sim, voou. Pairou sobre mim por milésimos de segundos, e caiu, formando uma o pintura abstrata contemporânea, com cores barrosas variadas. Explico.
No alto de minha sonolência iniciei o preparo do meu café da manhã hj cedo. Tirei a caixinha de leite da geladeira e despejei num copo de metal. Abri o armário e avistei a lata de achocolatado em pó (sem publicidade gratuita, pq sim) lá no fundo. Agachei-me e estiquei o braço para pegá-la. Baita esforço para uma manhã de quinta-feira mais preguiçosa que o gato Garfield numa manhã de sábado. Ou em todas as manhãs. Que seja.
O peso leve da lata já denunciava o que eu não quis acreditar. Ela estava quase vazia. Tirei a tampa e comprovei o fato. Havia apenas uma colherada, para um copo de aproximadamente 300 ml de leite. Você, que aprecia um achocolatado forte, de cor escura, deve entender a tristeza deste que vos escreve. Tristeza duas vezes, aliás.
Primeiro cortei meu dedo na borda metálica ao raspar as sobras no fundo da lata. Sangrou. Sangrou muito. Fiz pressão com papel toalha pra estancar. E segundo, ao misturar o achocolatado com leite, mal mudou a cor do líquido. Mal pegou gosto de chocolate. Mas essa besteirinha de gosto já era alguma coisa. Dei dois goles e deixei o copo em cima da mesa enquanto me arrumava para o trabalho.
A cena a seguir se deu numa velocidade impressionante no tempo normal da Terra, mas meus olhos enxergaram tudo em câmera lenta. Terminava de vestir a camiseta quando passei pela porta da sala que vai pra cozinha. Neste momento, olhei em direção ao copo de chocolate em cima da mesa. O ar mudou de pressão, tudo ficou lento, estilo o filme Gravidade, com os lindos Sandra Bullock e George Clooney.
A tábua de carne, que estava em pé apoiada num pote grande de arroz, escorregou. A base da tábua estava rente ao copo de chocolate, que foi empurrando pelo pote de arroz e também escorregou… Escorregou em direção à extremidade da mesa, como se estivesse a caminho de um precipício. E caiu. Meus olhos acompanharam o poder da gravidade se manifestando tragicamente. O copo aterrissou no chão de uma forma inimaginável, em pé durante milésimos de segundos, e tombou pro lado.
O líquido achocolatado voou com o impacto e a pressão debaixo do copo de metal. Voou alto, pairou sobre mim, tingiu o teto e o chão de marrom. Por sorte, nenhuma gota respingou na minha camiseta branca. No entanto, o chão e o teto receberam uma pintura abstrata, de cores terrosas, produzida por um famoso, temido e desgraçado artista: o azar.
Sono seguido de azar. Uma sentença bela pra um começo de quinta-feira.