Enfim, liberdade!

Pedro Turambar
Notas da arquibancada
4 min readJul 24, 2016

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Ainda que tardia…

Ninguém escolhe ser atleticano. Duvido que qualquer atleticano me diga quando foi que ‘ele’ ou ‘ela’ escolheu ser atleticano ou atleticana. Eu não lembro, eu só sei que sempre torci pro Galo, o que me leva à conclusão de que você é escolhido, não o contrário.

Ser atleticano nos ensina muitas coisas. Ensina, principalmente, a entender futebol de uma forma diferente, ensina a sentir esse esporte tão incrível de uma forma não convencional. O gol é o mais importante? Os títulos? Só importa dentro do campo, ou fora das quatro linhas também conta? Futebol é estatística mais intuição ou é mística?

Não. Não. Tudo importa. Os dois.

Os Deuses do Futebol existem de fato?

Existem, são bem-humorados e escrevem por linhas intermediárias tortas.

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Não quero dar uma de Zagallo aqui, mas o primeiro gol do Atlético na Libertadores 2013 saiu aos 13 minutos do primeiro tempo. 24 de Julho, ou 24/7 — data da final — é 2+4+7… TREZE.

Sabe qual foi a última vez que o Galo participou de uma Libertadores?

Ano 2000. Treze anos atrás.

Cuca é o décimo terceiro técnico brasileiro a ganhar a Libertadores.

Tem mais, mas acho que você já pegou a ideia.

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Nunca vou esquecer de um dia em que eu estava no clube, logo após jogar bola com outros garotos da minha idade — devia ter uns 9 anos –, fomos para a lanchonete. Não sei o que levou a isso, mas, de repente, os pais da maioria dos garotinhos me explicavam por que eu deveria ter vergonha de ser atleticano.

O escárnio foi exagerado. Mas eu não me abalei. Com nada a meu favor, eu ainda me mostrava superior a todos eles, desviando o assunto com bom humor.

Porém, por dentro, eu sofria.

Ouvi a minha vida inteira que eu, assim como o time que me escolheu, éramos patéticos.

Aprendi desde cedo a comemorar o título de 71. E apenas ele.

Aprendi que todo atleticano tem três espinhos no coração. O Brasileiro de ’77 e os dois jogos que o Senhor Wright tirou da gente.

Um espinho foi retirado pelo pé esquerdo de Victor contra o Tijuana.

O segundo espinho foi retirado pelo pé direito de Guilherme contra o Newell’s.

O terceiro, e maior dos três — o do Brasileiro de ’77 invicto, “perdido” no Mineirão no dia 5 de Março de 78 –, foi retirado por Gimenez, e à força por milhões de atleticanos mundo afora. Naquela mesma trave em que João Leite pegara dois penais e o time perdera três, dando o título para o São Paulo.

O coração atleticano está livre novamente. Para gritar, para chorar e para sonhar.

o gol que mais me fez chorar na vida

Sobre a nossa torcida, a mais impressionante do Brasil. Sim. Pode não ser a maior em números, mas é a mais fiel, apaixonada e sofrida. Mesmo sem ganhar nada há 42 anos, a nossa torcida é a segunda que mais encheu os estádios, em média, no Brasil.

Torcer pro Barcelona é fácil. E é por sofrer tanto que a vitória se torna tão, tão saborosa.

Foi Roberto Drummond que, em uma frase de genialidade ímpar, conseguiu traduzir em palavras o que é a torcida do Atlético: “Se houver uma camisa branca e preta pendurada num varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento.”

Pois o vento perdeu.

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Exatamente 230 anos depois do nascimento do Grande Libertador da América, Simón Bolívar, o Clube Atlético Mineiro conquistou enfim a sua Independência.

Independência do seu calvário.

É a primeira lufada de ar, emergindo, depois de um mergulho profundo de 42 anos de duração, para conquistar, da forma mais épica e inacreditável de todos os tempos, o título mais importante de sua história.

O Atlético pode ganhar mais doze Libertadores, mais trocentos títulos. O de ontem será sempre o mais importante de todos.

Victor, Michel (Alecsandro), Leonardo Silva, Réver, Júnior César, Pierre (Rosinei), Josué, Ronaldinho, Bernard, Diego Tardelli (Guilherme) e Jô. Cuca. Kalil. / Marcos Rocha, Richarlyson, Luan, Leandro Dozinete.

Esses nomes estão gravados na mente de todos atleticanos e nas gerações que ainda estão por vir.

[Nota do Editor]: Esse texto foi escrito para meu blog — O Crepúsculo (que ainda vive aqui no Medium — um dia após a final.

Este texto faz parte do meu livro Crônicas do Cotidiano, que você pode conhecer aqui.

Não esquece do ❤ e de mostrar para os amigos. ;)

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