Precisamos falar sobre textos babacas sobre futebol

Pedro Turambar
Notas da arquibancada
6 min readAug 24, 2015

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Ou, como não ser um imbecil ao falar sobre o time que torce.

Se tem uma coisa que me tira do sério é o torcedor infantil. Sabe aquele seu amigo, que já passou dos 30, mas na hora de conversar sobre futebol passa a ter a mentalidade de uma criança de 12 anos? Pois é. Não saber sentar para conversar futebol, com um mínimo de distanciamento e com o coração guardado numa caixinha, pra mim, representa o mesmo nível mental de discussão se a minha mãe é mais bonita que a sua.

Isso se torna muito, mas muito pior, quando você escreve sobre futebol. E eu sinto ainda mais dor quando tem muita gente que lê o que esse tipo de gente escreve. Pelo fato de que, assim, é impossível se construir uma inteligência ou uma discussão que seja saudável, válida, ou até mesmo construtiva sobre o esporte. Principalmente num país como o Brasil, que precisa muito passar do futebol amador para o profissional. Além de outras coisas, claro.

Christian Munaier é blogueiro (dentre outras coisas, acredito) do Atlético no ESPNFC (um braço de conteúdo da ESPN no mundo todo), e antes disso comandou o blog do Galo no GloboEsporte.com. Hoje eu li, infelizmente, algo muito infeliz escrito por ele, e que resume, perfeitamente, o grande cerne da questão do porque nosso futebol está na lama.

Vou exemplificar meu ponto, ajustando — parágrafo a parágrafo — , as besteiras escritas por alguém que, a meu ver, não contribui em nada para uma discussão minimamente inteligente sobre futebol. Vamos lá:

Link original do texto: http://espnfc.espn.uol.com.br/atletico-mineiro/camikaze

Título: Precisamos falar sobre o estádio do Galo.

Primeiro parágrafo

“Desde que tomou posse e transformou o Independência em um caldeirão, atualizando as definições de “respeito ao mandante”, o Atlético e BWA, concessionária que administra o estádio, têm um acordo entre si: o Galo repassa 10% da receita líquida da bilheteria à BWA, que divide 10,58% desse valor igualmente entre América e o governo de Minas, que bancou a reforma. Acordo com duração de 10 anos. O Atlético ainda tem direito a 45% do que a empresa fatura com a exploração de bares, restaurantes, acordos comerciais.”

A frase inicial é completamente desnecessária. A intenção do texto é explicar que, com o provável acesso do América à Série A do Campeonato Brasileiro, o Atlético terá que mandar mais jogos no Mineirão, já que o Independência é o estádio do América.

Qual a necessidade de punhetar num texto escrito por um atleticano, para atleticanos, num blog sobre o Atlético?

Segundo parágrafo

“O América, inofensivo adversário atleticano no campeonato regional, figura no G4 da série de acesso e parece decidido a subir para a elite do futebol brasileiro. Ótimo resultado para o Galo, por diferentes motivos. Primeiro, pelos seis pontos garantidos no torneio. Segundo, por uma questão um pouco mais complexa e motivo deste texto.”

Migo, qual a necessidade disso?

O América é um grande clube do estado que vem monopolizando o futebol brasileiro nos últimos anos, coisa que, ao contrário do que muitos pensam é maravilhoso e saudável, uma vez que a força do eixo Rio-São Paulo é imensa.

“Seis pontos garantidos no torneio.” — Sério? De um time que não consegue ganhar da Chapecoense? QUAL o motivo de ter isso no texto? O América, um time que sofreu uma punição absurda no ano passado (senão estaria na Série A hoje), merecia o apoio de Atlético E Cruzeiro. Não o escrutínio.

É o típico garoto bully que vai bater no garotinho mirrado e, muitas vezes apavorado, do que mexer com alguém do seu tamanho. Desnecessário. De novo.

Terceiro Parágrafo

“O Independência é do América. Em caso de tê-lo na série A em 2016, será sua a prioridade de jogar em seus domínios caso as datas sejam conflitantes com os compromissos atleticanos. Esta cláusula consta no contrato do tricolor mineiro com o governo e concessionária. Mal sabe o desavisado Coelho que a sua ascenção ao Olimpo do futebol será também o capítulo decisivo para a viabilização do estádio atleticano. E o início da sua própria queda.

~Olimpo do futebol~ . ~início da sua própria queda~

Até onde vai essa arrogância? Achar que a Série A do Campeonato Brasileiro é o Olimpo do Futebol é precisar tomar muita aula com algumas crianças de 10 anos que moram no meu prédio e que sabem muito mais sobre esse esporte.

Quarto Parágrafo

“O projeto para o Terreiro do Galo já é de conhecimento público. Endereço, projeto e maquetes rodam a rede já há bastante tempo. O tamanho reduzido do Horto sempre foi um ponto negativo para o atleticano, acostumado a levar mais de 40.000 torcedores. O América nunca fez questão de permitir o aumento das arquibancadas, amedrontado — com toda razão — de herdar um elefante branco para suas dimensões. O que falta ao Atlético para empreender todos os esforços, de vez, na construção da sua casa, é um motivo bem simples: se encontrar encurralado.”

Jurei que esse ia passar inteiro.

Sabe quantas vezes a média de público do Atlético foi superior a 40.000 pessoas, só no Campeonato Brasileiro? Quatro. Em QUARENTA E TRÊS. Sim, o Galo é um time de massa que sempre levou muita gente ao estádio, é o segundo time com maior média da história do campeonato, mas isso é outra história.

Quinto Parágrafo

“Até hoje, o Galo teve escolhas. Jogou onde quis. Fez do Horto a sua morada e do Mineirão, seu salão de festas. Mas a partir do momento que o Atlético se encontrar obrigado a jogar no Mineirão, onde leva apenas 53% do valor arrecadado com o espetáculo, fatalmente motivará a diretoria a dar a largada na construção do Terreirão no bairro Califórnia.”

Correção: jogou onde o Kalil quis.

E assim, essa história de salão de festas foi engraçado na primeira e talvez na segunda vez. Já deu né? Bora amadurecer isso aí. O Mineirão é muito maior que isso.

Sexto Parágrafo

“Para o América, será a desgraça. É com o dinheiro do Galo que o Coelho mantém a sua estrutura, com o aluguel pago pelo Atlético que o América faz boa campanha em 2015. Obviamente, não vem da arrecadação de ingressos dos seus próprios jogos ou da venda de material esportivo e pay-per-view. E, por melhor que venha a ser a cota de TV e a venda de patrocínio com o time na série A, a perda do volume financeiro gerado com os jogos do Galo levará o Coelho mais uma vez ao subsolo do futebol nacional.

Aqui não tem realmente nenhuma mudança estrutural, eu só acredito, mesmo, que você pode dizer tudo isso aí sem a prepotência e arrogância como está acima. Vamos lá?

Para o América, será um mau negócio. A receita gerada pelos jogos do Atlético ajuda o Coelho a manter sua estrutura, e tem uma parcela grande nas duas últimas boas campanhas protagonizadas pelo América. (…) a perda do volume financeiro gerado com os jogos do Galo poderá dificultar a permanência do terceiro clube da capital na primeira divisão.

PS.: ~subsolo do futebol nacional~? O Atlético já esteve lá, não sei se o autor lembra.

Sétimo parágrafo

“O estádio atleticano não será construído de uma hora para outra. Serão ao menos dois anos de obras. O Galo precisa mesmo viabilizar o seu próprio estádio. Que se dane o Coelho.”

Com a economia do país, com o nível absurdo das dívidas dos clubes brasileiros (a do Atlético é só R$487 MILHÕES), a aprovação de uma MP que está tentando regulamentar a putaria do nosso futebol, pensar em construir mais um estádio só pode ser uma coisa: burrice.

O Galo precisa mesmo viabilizar seu próprio estádio? Não. Não precisa. Não enquanto tem uma dívida deste tamanho, não enquanto ainda quiser ter um time competitivo. Observe quanto tempo o Corinthians irá se segurar, tendo que pagar o Itaquerão.

E por fim, “Que se dane o Coelho.”

Numa boa Munaier, que se dane você.

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