Imagem de Joana Kosinska — Unsplash

A arte, o design e a natureza

Carol Freitas
Nous Cultura Criativa
3 min readJun 7, 2016

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Como designer, sempre me chamaram de artista e confesso que sentia um leve incomodo quando ouvia isso. Afinal, Design é muito mais, é uma ciência social! Nesse confronto, resolvi investigar um pouco mais sobre arte e acabei encontrando o livro de John Dewey, “Arte e Experiência” presente do meu amigo-irmão Victor Guerra.

E aconteceu o que eu desconfiava, Dewey descreve a arte como algo maior, fundamental para o ser Humano e a estética como uma manifestação da arte presente na natureza.

Hoje, entendemos a arte como algo que co-move pessoas provocando emoções e sensações em relação a algo. A arte, então, teria como finalidade provocar os humores do ser humano seja para o bem ou para o mal — algo que, diga-se de passagem, se tornou a finalidade de vida da maioria das pessoas, basta ver as redes sociais. E não teria outra função além dessa.

A arte foi retirada do cotidiano e colocada em um pedestal em que só os que sabem sobre o assunto podem opinar a respeito. Se você não entende uma obra é porque não tem sensibilidade artística e se não desenha, é porque não tem dom. Será mesmo que a arte seria um apanhado de habilidades para provocar sensações nas pessoas?

Se observarmos a natureza, veremos que em todos os aspectos existe um trabalho de elegância e detalhe. É possível apreciar flores, suas formas e cores e a partir disso querer preservá-las mesmo sem ter praticamente nenhum conhecimento prévio sobre botânica ou sustentabilidade. A Estética na natureza não é um acessório e está longe de ser um aspecto antagônico a função. A estética natural é a ética aplicada nas formas e ética se manifesta pela coerência entre as partes da forma.

Entre um dos aspectos da Estética na natureza está a expressividade de cada organismo. Árvores, plantas, animais tem maneiras únicas de se expressarem, e manifestam isso em todos os detalhe de maneira coerente. Um Jacarandá se mostra como um Jacarandá e um Pinheiro como Pinheiro e não vemos sementes de Jacarandá em Pinheiros, simplesmente porque isso não é necessário. E nem por isso uma deixou de ser mais importante, mais bonita, mais fundamental que a outra para o bioma.

Ainda bem, pois é esta variação nas formas que faz possível que identifiquemos as espécies e a maneira vasta que elas tem de responder a contextos com eficiência e harmonia ao mesmo tempo.

A natureza aplica o que seria para nós, humanos, a arte cotidiana. Algo que fizemos na antiguidade, mas que hoje com a massificação do industrialismo está perdendo o sentido. Nossos objetos domésticos, móveis, roupas eram adornados para expressar valores e convicções de uma civilização, de uma tribo ou de uma pessoa e não para deixá-los "mais bonitinhos". Hoje, pegamos esses objetos e usamos para enfeitar nossas casas e museus para mostrar como é “arcaico” se importar com a arte e com o detalhe em todas as coisas. E confinamos a arte em museus, bem longe da vista cotidiana e restrita a momentos dedicados a apreciação artísticas exclusivamente.

A arte, para o homem e para a natureza, é uma forma de expressão da individualidade pelo detalhe e deve conduzir a formação de convicções e valores que contribuam para si e para todos. Por isso deve fazer parte de nosso cotidiano. Talvez a forma que adornávamos objetos na antiguidade não esteja mais em voga hoje. Mas isso não é desculpa para afastar a arte cotidiana, a atenção ao detalhe é a vontade de expressar-se como ser individual.

Entendo que hoje, posso ser artística, não por ser designer, mas por ser Humana. E a manifestação da arte não é minha nova piração, mas uma necessidade fundamental que, sugiro a todos tentar, mesmo que não seja artista.

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Carol Freitas
Nous Cultura Criativa

Designer, Biomimeticista, Filósofa e Naturalista. Alguém que acredita que estudar a natureza e sua história pode ajudar a responder todas as nossas questões.