Caracterização: uma engrenagem que ajuda a contar a história

por Lucila Robirosa, caracterizadora

Rede Globo
NovoMundo
4 min readMar 15, 2017

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Foto: Raquel Cunha / Globo

Tento trabalhar sem muitas referências prontas. Peguei algumas de Liberdade Liberdade, outro trabalho que fiz com o diretor Vinícius Coimbra, e tento ser o mais fiel possível a partir das fotos dos personagens que recebemos. Venho trabalhando com o Vinícius há algum tempo, esse já é o quarto trabalho que fazemos juntos. Muitas vezes a gente nem precisa se falar pra já saber o que o outro tá pensando pra novela.

Me inspiro no que eu gosto de ver. Minha mão não vai no que eu não gosto de ver e de fazer.

Foto: Raquel Cunha / Globo

Trabalho com a verdade. O que eu mais gosto de ver numa caracterização enquanto telespectadora, o que me faz dizer ‘ah, que coisa’, é a verdade.

Então, em Novo Mundo, tem muita pele, muito poro, muito suor, muita sujeira mesmo. Não tem aquele herói todo limpinho que parece ter vindo não sei de onde.

Gosto de tirar essa coisa dura dos heróis da época. Trazer pra realidade personagens muitas vezes idealizados.

Em vez de maquiar os atores, a busca é por naturalizar a todos e unificar: sujeira nos dentes, glicerina para o suor, base solúvel em álcool para criar manchas e tirar a uniformidade da pele, cicatrizes aplicadas em um sistema de carimbo, entre outros recursos.

Foto: Raquel Cunha / Globo

As pessoas não tomavam banho, não tinha esgoto, usavam pouca roupa, viviam no meio da poeira dos cavalos, da ferinhas, da fumaça da comida feita à lenha. Então, para Novo Mundo, tem coisas que eu descarto que ninguém pode ter na bolsa: base, baby cream, esmalte. Ninguém faz unha, sobrancelha ou depilação.

Foto: Raquel Cunha / Globo

Tudo que faça parecer uma coisa montada pra gente não existe e mesmo assim tem uma beleza por trás.

As referências que a gente tem são as pinturas dos nobres que, para além de tudo, representariam um modo de vida das pessoas daquela época. Além disso, usamos como base o livro “1822”, alguns outros textos da época e pinturas de Debret.

Foto: Reprodução

O Leopoldo Pacheco foi um dos personagens mais desafiadores porque ele raspou a cabeça e colocou umas tatuagens. A gente trouxe um tatuador que ficou desenhando na cabeça dele até encontrar o desenho perfeito. Usamos referências de pinturas índias e alguns desenhos de tatuagens antigas pensando no mar, numa linha meio tribal.

Foto: João Miguel Júnior / Globo

Para criar a caracterização dos índios, fui um dia numa tribo Guarani em Paraty e vi o trabalho que eles fazem com o Jenipapo, o Urucum, que não conhecia. É muito distante do que estou acostumada a fazer. É um outro tempo, outros olhares, outra vivência. E então achamos uma maneira de reproduzir essas pinturas aqui no estúdio. É, com certeza, a caracterização mais demorada porque além de pintar, a gente precisa dar um banho neles com umas batidinhas pra criar o efeito do jenipapo.

Foto: Raquel Cunha / Globo
Foto: Raquel Cunha / Globo

Gosto de fazer caracterização de novela de época. Faço isso há quase 2 anos seguidos. Geralmente são histórias de mulheres empoderadas, que para além do sofrimento, vão pra frente. É importante que a minha filha tenha orgulho do trabalho que a mãe tá fazendo. Acordar às 5h da manhã sabendo que vou contar uma história que além de divertir as pessoas pode deixar alguma coisa pensando. Você traz pra realidade personagens históricos e os aproxima do público.

Além do que gosto de fazer com o pincel, pra mim é importante a história que to ajudando a contar com o meu trabalho.

Com estreia prevista para 22 de março, ‘Novo Mundo’ é escrita por Thereza Falcão e Alessandro Marson, com direção artística de Vinícius Coimbra.

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