Para alguém que eu fui, sou e serei
a vida é uma dança gostosa, sem ritmo e constante.
Por Gabriela Viana
Especial para NO&OT
E às vezes eu penso, ouço, viro do avesso e escuto súplicas que não conseguem externar-sem de mim. me alimento de vozes, de histórias, pessoas e lugares. eu descanso no abraço, no afeto, no riso e no choro de quem me cativa. eu sinto saudade de toda gente das poucas que passaram por mim. a cor amarela, a música com voz rouca, o meu livro preferido, o cheiro das amizades, as conversas simples, o banho de chuva no meio da semana, as ondas quebrando nas minhas costas e o vento batendo no meu cabelo. riquezas impagáveis que me despertam sensações e tornam-me, todo dia, um pouco mais de quem eu sou.
Em tempos de insegurança, do instável e da falta do muito, pequenezas me afagam, mas, paradoxalmente, essas me fazem criar indagações cruéis sobre alguém que, geralmente, sinto orgulho em ser. eu busco dentro de mim a corda que me puxa para fora da incompreensão, me escuto e me abraço, e, acima de tudo, tento manter-me respeitosa frente aos “alguéns” dentro de mim.
eu sou feita de gente, de ciclos, sou feita de vozes, de sangue, de cheiros, dores e prazeres. todo dia eu sei menos que amanhã e mais que ontem. sem atropelos. eu não preciso me torturar ou julgar-me, porque isso seria faltar com a verdade, seria machucar o alguém que eu mais devo cuidar. eu não preciso saber de tudo, eu não preciso das palavras difíceis, eu não devo abrir mão da minha espontaneidade e deixar voar a minha alegria, a minha tristeza, a minha saudade, os diversos sentimentos que transformam o ‘eu’ em ‘mim’. a vida é um deleite de tudo que é bom e pequeno, grande e sensível, forte, delicado, quente, gelado; metamorfosicamente, os dias ressignificam até a dor.
viver não precisa ser uma marcha de soldados alinhados e obedientes em prontidão à propagar o que antes lhes foi ensaiado. eu posso desistir, posso voltar, posso falar, corrigir e defender.. O simples me basta. No princípio, meio e fim de tudo:
a vida é uma dança gostosa, sem ritmo e constante.