10 anos de histórias pra contar

“Chancellor on brink of second bailout for banks”

Há exatos 10 anos atrás, essa era mensagem oculta no primeiro bloco na blockchain do Bitcoin, o famoso gênesis block. Em português, “Chanceler próximo de aprovar segundo financiamento público para segurar a falência dos bancos”.

À época, o mundo enfrentava uma severa crise financeira, a famosa crise do subprime. Mas na verdade, tratava-se de um sintoma de problemas estruturais mais graves. Eram os sinais da insustentável alavancagem e rehipotecação dos bancos. Tão grandes ficaram, que economias inteiras de países ficaram à mercê da centralização financeira nessas instituições.

Essa mensagem não é coincidência ou capricho de Satoshi Nakamoto, seja quem ele(s) for(em). O Bitcoin surgiu como alternativa à centralização financeira, algo que hoje já convencionamos chamar de internet do valor. Em tese, qualquer cidadão poderia tornar-se um cunhador da moeda, via mineração. Logo, o Bitcoin é uma moeda descentralizada por essência, e pelo que a mensagem nos leva a crer, por propósito também.

Outra premissa interessante de relevar, dado o contexto de sua incepção, é sua finitude imutável. Com a remuneração dos mineradores em nova moeda decrescente, à medida que a adoção aumenta a remuneração por transaction fee, sua cunhagem de novas moedas eventualmente chega em 0 por novo bloco. Isso é, haverão 21 milhões de BTC e acabou. A solução de Satoshi para a alavancagem e rehipotecação, tão característicos do mercado financeiro pós 1991.

Dez anos depois, nem a economia nem o bitcoin envelheceram como Satoshi provavelmente esperava.

Através do quantitative easing, os Estados (em especial o americano) absorveram e mitigaram o grotesco passivo e ônus da crise, assumindo sob suas asas boa parte do prejuízo, por conseguinte alavancando-se no lugar dos bancos. Afinal, o rating dos EUA por exemplo, emissor de dólar, é absurdamente superior ao de mesmo um Goldman Sachs. Não houve crash, no Brasil inclusive falou-se à época da famigerada ‘marola. No fundo o que ocorreu foi distribuir o impacto ao longo dos anos subsequentes, e a economia global, muito em virtude disso está severamente fragilizada. Mas não quebrou sistemicamente, pelo menos ainda.

Já o BTC enfrentou hard forks, bolhas de preço, e demais eventualidades naturais de algo tão game changing e ao mesmo tempo tão novo. Todavia, continuou firme. São 10 anos de funcionamento interrupto. O Bitcoin foi do 0 ao bloco 556.931 com transações verificadas, irreversíveis e imutáveis, blindadas a qualquer ação humana e computacional. Hoje suas maiores ameaças não são mais os 1 mi BTC que Satoshi supostamente possui, e que no começo tanto assustavam os que cedo adotaram a moeda. E sim a consolidação da capacidade de mineração, efetivamente prejudicando a descentralização bem como as incursões do mercado financeiro na moeda, pretendendo ‘papelizá-la’, transformar em instrumento negociável nas grandes casas como CBOE e NYSE, ameaçando a finitude da moeda na prática.

Todavia, Satoshi foi e segue sendo um gigantesco visionário. O impacto do Bitcoin e blockchain na economia, relações sociais e até mesmo relações antropológicas de valor ainda não é mensurável de forma clara pelas lentes da História. O mundo ruma para outra crise em um horizonte próximo, e talvez vejamos a profética mensagem do Genesis Block ser mais atual do que nunca novamente.

E, não obstante os acidentes de percurso que definitivamente virão, com o BTC cada vez mais sendo severamente testado como alternativa às moedas fiduciárias e o sistema bancário, esperemos que os próximos 10 anos desta jovem moeda entrando na adolescência sejam ainda mais interessantes e revolucionários!

Questões a resolver e desafios não faltam, como brevemente mencionado acima. Nesses 10 anos da primeira transação, também faço meus votos sinceros e escrevo este artigo de forma que a comunidade não esqueça a que e porquê veio o bitcoin. Afinal, as rodas da história não perdoam e a janela de oportunidade para realmente revolucionar está aberta.

Feliz 10 anos bitcoin! Fasten your seatbelts and HODL!