Pequenas inovações de grande impacto: como construímos o produto
A Gestora do time de Produto da Netshoes explica a nossa metodologia de trabalho
A Netshoes tem passado por uma série de mudanças para otimizar seus processos, tornando-se cada vez mais uma empresa de tecnologia com métodos ágeis. O objetivo final, claro, é ser mais rentável — através da melhora contínua da experiência do cliente. E aí que está a parte legal… Não é papo “para inglês ver”, acreditamos realmente que esse é o único caminho possível.
Sabemos que construir produtos atendendo este propósito é uma tarefa desafiadora, porque é extremamente viva e transforma completamente o padrão de trabalho que a maioria de nós está acostumado. As melhorias precisam ser constantes, observadas diariamente e testadas de modo contínuo para ter certeza que estamos construindo o melhor produto possível — e aqui falo não somente em termos a melhor experiência de compra online para o cliente, mas também em transformar processos internos.
Essa é a síntese do novo processo de trabalho da Netshoes, que combina conceitos de metodologias como Lean Startup, Agile e XP — muito inspirado na metodologia de trabalho de companhias como o Spotify.
Organizando o processo
Antes, muitas pessoas na Netshoes tinham ideias boas que não viraram necessariamente um projeto de sucesso, fosse devido à burocracia de processos ou por aquele não ser o momento de executar determinada tarefa, tendo em vista o direcionamento corporativo. Assim, muitas vezes as ideias de projetos resolviam problemas pontuais que não observavam o todo da empresa — e o mais essencial, que é a experiência de compra do cliente. E isso é um tema comum nas grandes empresas: ter muitas iniciativas e visões diferentes que não se conectam ou muitas vezes são pensadas por grupos diferentes ao mesmo tempo, gerando retrabalho.
Com a implementação dessa nova metodologia, a área de Produto consegue concentrar a visão da empresa, que é compartilhada conosco pelo CEO e nosso Diretor de Tecnologia, comunicar-se com todas as áreas envolvidas e traduzir os objetivos estratégicos em um produto melhor. Essencialmente, em modelo de trabalho utilizando métodos ágeis, é possível sermos rápidos o suficiente na construção de uma solução ideal, que os clientes amem, mas que utilize o mínimo de esforço possível (e, que assim, nos permita aprender mais rápido com nossos acertos e erros), ao mesmo tempo que conectamos toda a empresa em torno do mesmo objetivo, promovendo visibilidade e alinhamento.
Muito disso tem sido possível graças à agilidade que ganhamos com a nossa nova plataforma de e-commerce, que foi desenvolvida internamente por times multifuncionais (conheça a história da nossa migração de plataforma aqui).
Outro ponto essencial foi a implementação de um sistema claro de valor das iniciativas que trabalhamos: através da visão estratégica, priorizamos as iniciativas de acordo com o que traz mais valor à companhia, medidos através de uma metodologia que criamos especialmente para isso (que leva em consideração rentabilidade, alinhamento com a estratégia, satisfação do cliente e esforço). Esse foi um dos pontos-chave para comunicarmos o roadmap e objetivos estratégicos de forma melhor com todas as áreas: todos podem contribuir o tempo todo com o produto, mas sempre tendo em mente o que aquela ideia traz de valor — seja do ponto de vista estratégico, financeiro ou do cliente.
O passo a passo
Planejar, desenvolver, lançar e acompanhar. Esses são os quatro pontos essenciais do novo modelo de trabalho que está sendo compartilhado na Netshoes. De forma simples:
- Exploramos a oportunidade ou problema que estamos tentando resolver, deixando o cenário cada vez mais claro através de um planejamento prévio (porém, rápido) e criamos protótipos para avaliar a viabilidade e aderência;
- Criamos um Minimun Viable Product (MVP), ou seja, uma ideia aplicável do protótipo para testar com clientes;
- Fazemos o lançamento gradual desse MVP para todos os usuários, e por último;
- Mantemos uma gestão de compreensão do uso e melhoria contínua do produto.
Como citei anteriormente, esse processo começa com uma avaliação de valor, levando em conta ganho e esforço da iniciativa. O bacana é que, se um projeto de rápido desenvolvimento e implementação traz grandes ganhos para a empresa e clientes, ele acaba ganhando um peso maior do que os projetos que levam mais tempo de implementação. Isso, óbvio, não significa que os grandes projetos não serão feitos (e sempre procuramos quebrar grandes desenvolvimentos em várias releases e iterações), mas conseguimos priorizar e moldar melhor as filas de desenvolvimento.
No contexto de negócio, essa metodologia se explica facilmente: desenvolver um produto custa muito tempo e dinheiro. Então, é necessário ser capaz de criar, testar, falhar e melhorar rapidamente.
O gráfico acima ficou famoso quando o Spotify compartilhou como constrói seus produtos — e toda pessoa que trabalha com tecnologia sabe que é absolutamente verdade. Tentamos, desta forma, minimizar o risco de lançar um produto “errado” (que não resolva possíveis problemas, ou não atenda a expectativa, ou o cliente não use, etc) com planejamento, conhecendo sobretudo o cenário, o mercado e como podemos encantar o cliente com a solução proposta.
Para começar esse trabalho, o PO responde “As 5 Perguntas”: por que devemos construir isso? O que vamos melhorar? Quais são as metas e objetivos? Quais as hipóteses? Quais os ganhos para clientes e empresa? Isso ajuda a termos um panorama e traçarmos as hipóteses (por ex: Projeto X vai aumentar a conversão em Y% no ponto Z do funil de adição do carrinho). Essas hipóteses são importantíssimas — através delas validamos na etapa de Acompanhamento se o que pensamos estava correto, e vamos balizando com o tempo a valoração dos projetos, melhorando então a priorização inicial.
Ainda na etapa de Planejamento, o PO constrói também o Press Release, que é uma proposição de valor focada em dados. Com esse estudo inicial em mãos, o PO começa a conectar as partes: UX, Desenvolvimento e demais áreas que tenham envolvimento com o projeto. Começa então o desenho da solução e posterior validação.
Com o protótipo final validado, vamos para a etapa de Desenvolvimento — que deve durar o menor tempo possível, devido ao alto custo operacional (por isso, novamente, a etapa de Planejamento é importante). Seguimos as rotinas de metodologias ágeis e empoderamos bastante o time para tomada de decisões — o “como” o projeto é construído é totalmente decisão das Squads.
Por fim, temos a fase de Acompanhamento, em que colocamos o produto em produção para poucos usuários, medimos a performance e podemos ajustar se for o caso ou virar para 100% dos usuários se tivermos melhoria. Costumamos também fazer um report geral da performance após 3 semanas de lançamento para todos os interessados de diversas áreas — é aquele momento que bate o sentimento de “dever cumprido” (mas o dever continua, porque acompanhamos esses dados para sempre) e é bastante recompensador.
Estamos implementando todo esse novo processo desde o ano passado e, com a virada da nova plataforma, adotamos em quase todos os times — está virando rotina e começa a ficar perceptível para todos. Continuamos evoluindo (diariamente!) para azeitar cada vez mais o método. Hoje conseguimos rodar em paralelo vários projetos estratégicos, colocar rapidamente no ar e testá-los — repara que tem sempre novidade nas nossas lojas, é deploy que não acaba :)
Pode parecer difícil e que há muitas etapas, mas fato é que esse método nos permite construir produtos complexos em tempo recorde. Nas próximas semanas temos um projeto bastante estratégico saindo do forno e vamos contar como foi o passo-a-passo com essa nova metodologia!
O papel do Product Owner: o olhar 360
O PO é um papel bastante central neste processo: ele é o guardião da visão do produto, quem contextualiza todos os projetos e faz com que as prioridades da empresa estejam alinhadas com as equipes de desenvolvimento e implementação — olhando para todas as áreas e necessidades da companhia.
Ser PO é também saber dizer não com propriedade e embasamento — uma vez que chegam diversas ideias, oportunidades, necessidades, problemas, BUGs todos os dias para ele avaliar. Para isso, o PO precisa estar sempre embasado em dados e ser focado em métricas e resultado, assim como ser transparente com sua visão de roadmap, comunicando e alinhando a todos. É uma avaliação 360 graus que beneficia o caminhar da companhia.
Tem sido bastante animador participar disso tudo como Product Manager, auxiliando os Product Owners nessa jornada de transformação e conseguir acompanhar as evoluções, seja por ser uma das responsáveis por implementar a cultura ágil na empresa ou por poder ajudar a direcionar toda a criatividade presente dentro da Netshoes.
O mais incrível é aplicar métodos conhecidos por funcionar muito bem em startups e ver essa transformação em uma empresa tão grande, que é inovadora a ponto de conseguir quebrar velhos padrões, permitir espaço para errar, caso isso signifique uma busca constante para a melhoria da experiência dos clientes e dar empoderamento ao time, construindo desta forma um dos produtos mais legais com os quais já tive contato.