Conhecendo algumas vertentes do Feminismo. Curso de Economia e Feminismos 2021.2 IE/UFRJ

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5 min readDec 15, 2021

Autora: Larissa Ezequiel

Não existe um feminismo único. A universalização das mulheres tende a apagar as suas especificidades e a retirar espaços de fala e participação. Cada vertente vai problematizar e analisar as situações de opressão dos corpos feminizados desde diferentes perspectivas, gerando construções teóricas especificas e práxis políticas diferentes, ainda se em muitos momentos podem coincidir em ações de luta concretas. Entre os vários feminismos: liberal, radical, marxista, socialista, ecossocialista, negro, interseccional, autónomo, cyborgue, anarcofeminismo, queer, transfeminismo, lesbico, descolonial, pos-moderno, popular, favelado, islámico, ecofeministas, da igualdade, da diferença, institucional, entre muitos outros, hoje vamos focar nos seguintes:

feministas radicais

As feministas radicais surgem em um momento de contradições da sociedade norte-americana no final dos anos 1960. Mesmo os Estados Unidos tendo a ideia da universalização dos princípios e ideias liberais, eram uma sociedade extremamente racista e imperialista. Sendo assim, as feministas radicais oriundas do movimento estudantil, antirracistas e pacifistas, afirmavam que os homens tinham uma forma contínua e sistêmica de explorar e oprimir as mulheres. Diferente do que se especula no senso comum, “feministas radicais” tão pouco tem a ver como caráter drástico e brusco em suas ações, mas sim, estavam atrás da “raiz” da opressão, que segundo elas, era o patriarcado estrutural. Dessa forma, entendendo que a teoria patriarcal define a superioridade dos homens e utilizando-se do sexismo para ratificar essa afirmação, as mulheres só conseguiriam superar esse cenário através do fim do patriarcado. O feminismo radical cria uma teoria política e social com o intuito de olhar historicamente a opressão sistemática exercida pelo patriarcalismo. Entendendo isso, assumem que a mulher foi o primeiro grupo oprimido da sociedade humana e o patriarcado está na raiz de toda a violência que ocorre com as mulheres desde os primórdios.

Há duas escritoras nessa corrente que lançaram, no mesmo ano, dois livros que se tornaram conhecido pelo feminismo radical. Sendo, Kate Millet (1934–2017) que publicou sua tese de doutorado na Universidade de Colúmbia com o título “Política sexual”, onde discorre sobre a política patriarcal no controle da sexualidade feminina. Já a Shulamith Firestone (1945–2012) publica o livro “Dialética do sexo: o caso da revolução feminista” que discute o patriarcado presente em Freud, Reich, Marx, Enfels e Simone de Beauvoir. Ambas foram importantes no adicional cultural quando se difunde movimentos distintos de libertação das mulheres nos Eua. Feministas radicais discutem sobre a prostituição, a pornografia e anúncios que utilizam do corpo da mulher como objetos sexuais, sendo assim, afirmando que não podem ser escolhas individuais ao entender que são frutos do sistema patriarcal. Os ideais do feminismo radical se espalharam rapidamente na Europa. Nos diais atuais, suas bandeiras estão relacionadas ao combate à prostituição e à pornografia.

feministas marxistas

A tradição marxista e a luta de classes trazem um novo horizonte para essa vertente ao analisar como o modo de produção capitalista favorecem o domínio dos homens sobre as mulheres. Ainda no século XIX, os escritos de Marx, Engels, Bebel, Lafargue e Lenin afirmavam que as mulheres são oprimidas durante a história. Logo, concluíam que a emancipação das mulheres só iria ocorrer com o fim das relações de produção sob o modo de produção capitalista, que está pautada na utilização não remunerada da força de trabalho feminina dentro do lar e na reprodução da vida. Sendo assim, entendendo que a opressão que ocorre é coletiva a todas as mulheres (em uma perspectiva diferente das feministas liberais, que tem um cunho mais individual), as feministas marxistas apresentam soluções que se tornam políticas públicas importantes na URSS e no Estado de Bem-Estar Social europeu. O êxito da Revolução Russa em 1917 faz a luta das mulheres socialistas eclodir em todo mundo.

Diferente das feministas radicais, que acreditavam que a fonte da desigualdade de gênero era advinda do patriarcado, as feministas marxistas afirmavam que o capitalismo é a fonte da desigualdade. Os escritos de Juliet Mitchell, principalmente “Mulheres, a revolução mais longa” deu propriedade para as mulheres entenderem que a estrutura econômica do sistema capitalista está pautada na responsabilização das mulheres por afazeres domésticos e a não remuneração desses serviços, enquanto os homens livres dessa responsabilidade dos cuidados da reprodução da vida, estavam integralmente disponíveis para o mundo do trabalho.

feministas culturais

Essa vertente emerge nos anos 1990, a parti dos temas culturais mais amplos que não interessam somente as mulheres. Entendem, que a mulher, como outros grupos sociais têm muitas diferenças entre si e entre os homens. Recorrem ao essencialismo para afirmar que como as mulheres estão voltadas para a questão da reprodução da vida, tendem a ter características voltada a isso. Sendo assim, são mais doceis e menos violentas.

As feministas culturais enaltecem essas características que foram reprimidas pelos homens e acreditam que tantos os homens quanto as mulheres são prejudicadas pela supremacia masculina das relações sociais, que é dominada pela concorrência e conflito. Segundo a visão das feministas culturais, o mundo seria mais harmônico com um maior poder das mulheres. As feministas culturais incorporam questões voltadas a identidade racial e sexual, fazendo suas propostas expandirem nas últimas décadas, a intenção era construir uma sociedade tolerante.

feministas negras

Por mais que a luta das mulheres negras no Ocidente remetem a opressão durante aos anos da escravidão. O feminismo negro tem seus marcos com Sojourner Truth (1797–1883) intitulado “E eu não sou uma mulher negra?” pronunciado em 1851 na Conferência dos Direitos da Mulher em Akron, Estados Unidos. A parti desse momento, mulheres negras norte-americanas e abraçam novas propostas. Um feminismo totalmente diferente é percebido a parti do momento em que mulheres negras entendem que o feminismo era composto majoritariamente por mulheres brancas e de classe média e que nunca houve um recorte racial que abrangesse a luta das mulheres negras. Mulheres negras como Angela Davis e a romancista Alice Walker, ambas nascidas em 1944 ganharam popularidade.

No Brasil, contamos com Lélia Gonzalez (1935–1994), que foi pioneira do feminismo negro, antropóloga, professora e fundadora do Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial. No Rio de Janeiro, Lélia e Jurema Batista assim como tantas outras mulheres negras dos movimentos negros e da favela deram início ao grupo feminista Nzinga — Coletivo de Mulheres Negras. Tal coletivo reuniu mulheres negras e projetou nomes femininos nos espaços políticos. Lélia era extremamente critica a visão eurocêntrica que era predominante em nossa sociedade e estuda sobre mulheres negras, indígenas e como a visão patriarcal age de maneira diferenciada.

feministas interseccionais

Do feminismo negro, surgiu a corrente intitulada como feminismo intersecional com os escritos de Kimberlé Williamns Crenshaw, nascida em 1959. Com as análises feitas das leis contra a discriminação, ela concluiu que tratavam de forma diferenciada a questão de raça e gênero. Sendo assim, tais leis ignoravam que o gênero e raça estão inter-relacionadas e que deveria ser levado em conta tal inter-relação nas decisões judiciais.

Referência: MELO, Hildete P.; THOMÉ, Debora (2018). Mulheres e Poder. FGV

Curso de extensão de Economia e Feminismos — IE/UFRJ

Professoras: Margarita Olivera e Clarice Vieira

Autora: Larissa Ezequiel, aluna de Serviço Social, extensionista e monitora

Rio de Janeiro, 15 de Dezembro de 2021

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Projeto de extensão de Economia e Feminismos/IE/UFRJ