Homofobia, lesbofobia e heteronormatividade

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3 min readJun 25, 2022

Por Willian Binsfeld

Junho é mundialmente conhecido como o mês para celebrar a luta contra a discriminação dos grupos que compõem a comunidade LGBTI+. A escolha deste mês como marco para a comunidade não é aleatória, deve-se à revolta iniciada no bar Stonewall Inn, em Nova Iorque no dia 28 de junho de 1969, onde um grupo de frequentadores reagiu à constante violência e extorsão policial contra gays, lésbicas e travestis que ocupavam o espaço. De Stonewall até os dias atuais, o movimento LGBTI+ se organizou e conquistou espaço na luta por diretos. Entretanto, o preconceito e a discriminação às pessoas não heterosseixuais permanecem até hoje. Você conhece os principais tipos de discriminação enfrentados pelas pessoas LGBTI+ no Brasil e no mundo?

Entre os tipos de discriminação mais comuns estão a homofobia e a lesbofobia. A recorrência dessas discriminações deve-se à sua relação com o machismo e a heteronormatividade que estruturam nossas sociedades. Confira a seguir quais são as características da homofobia e lesbofobia, além da sua relação com a heteronormatividade.

A homofobia é o termo utilizado para designar o conjunto de atitudes discriminatórias e de hostilidade expressas na repulsa e desejo de punição aos homossexuais. A homofobia é, portanto, uma forma de controle social exercido sobre todos os homens através da educação masculina, aprendida e incorporada em espaços sociais diversos (como a escola, igreja, clubes, bares etc.). Tais espaços estruturam as relações entre masculino e feminino de maneira hierarquizada e, ao privilegiar determinados comportamentos masculinos tidos como viris, também reprimem e punem quem nega ou diverge de tal virilidade, taxando-o de homossexual e, portanto, inferior na hierarquia de gênero. Os espaços sociais onde a masculinidade é aprendida são denominados pelo sociólogo francês Daniel Welzer-Lang de “casa dos homens”. Nesses espaços a violência torna-se uma prática pedagógica para o aprendizado de gênero.

No caso das mulheres, a lesbofobia também é um tipo de estigmatização relacionado ao controle social exercido sobre a sexualidade feminina: “sob o pretexto da feminilidade, as mulheres devem escolher uma aparência que assinale sua interiorização dos códigos estéticos pensados pelos homens, e adotar diante deles uma atitude submissa e não concorrencial quanto ao poder.” (MOLINIER e WELZER-LANG, 2009, p.102). As mulheres cuja sexualidade escape do controle masculino são estigmatizadas como lésbicas, independentemente de suas práticas sexuais. A este tipo de estigmatização denominamos lesbofobia. O estigma sobre a sexualidade feminina contribui para a manutenção da relação desigual de poder entre os gêneros e, consequentemente, colabora com a subordinação da mulher, tendo a violência como principal instrumento de controle e o estigma como mecanismo de coerção à expressão da identidade lésbica.

A heteronormatividade, por sua vez, é caracterizada como a “crença na superioridade da orientação heterossexual e à consequente exclusão, proposital ou não, de indivíduos não heterossexuais de políticas públicas e organizacionais, eventos ou atividades” (IRIGARAY, 2011, p. 45). É por isso que a heteronormatividade, ao negar manifestações culturais e sociais não heterossexuais, opera como importante ferramenta para disseminação da homofobia e da lesbofobia nos diferentes espaços sociais onde o gênero é expressado, como os ambientes de trabalho, escola, família, clubes etc.

Compreender o papel dos estigmas sociais relacionados à sexualidade é fundamental na busca de estratégias de enfrentamento à heteronormatividade. Além disso, essa compreensão abre espaço para questionar a hierarquia de poder imposta sobre os gêneros e sexualidades dissidentes. Um caminho necessário para a construção de uma sociedade mais igualitária e menos violenta com seus habitantes, em que haja espaço para as diferentes manifestações de afeto e expressões de gênero.

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Então confira mais informações nas referências desta publicação:

IRIGARAY, Hélio Arthur Reis Orientação sexual e trabalho revista GV Executivo, Fundação Getúlio Vargas, v. 10, nº 2, jul/dez 2011.

HANBURY, Nina; NASCIMENTO, Moysés Marllon; SALZTRAGER, Ricardo O legado da patologização da homossexualidade In: Quando LGBTs invadem a escola e o mundo do trabalho, Pinheiro, Diógenes; Reis, Cládia (org.), Unirio, 1ª edição, Rio de Janeiro, 2020.

Projeto de Extensão de Economia e Feminismos 2022.1

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Núcleo de Estudos e Pesquisas Economia e Feminismos (NuEFem), Instituto de Economia, UFRJ

Coordenadoras: Margarita Olivera e Clarice Menezes Vieira

Participantes do projeto:

Amanda Recke, Giovanna Moncorvo, Jamille Torres Rosario, Jun Shimada, Karen Talyssa, Luisa Rouxinol, Marieli Moraes Pereira, Nicolas Gonçalves Martins, Willian Binsfeld.

Bolsista de Extensão: Luisa Rouxinol, Carla Vanise Oliveira

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Projeto de extensão de Economia e Feminismos/IE/UFRJ