Mãe, acadêmica e trabalhadora: são incompatíveis?

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3 min readFeb 20, 2021
Art: Nina Millen

Na nossa sociedade, machista é patriarcal, há diversas formas de oprimir as mulheres e subalternizá-las. A maternidade é um mecanismo de manter a dominação dos homens sobre as mulheres e faz com que elas tenham dificuldade com relação à mobilidade social. As mulheres, quando se tornam mães, são culpadas pela sociedade pelo grande número de tarefas que são designadas e esse discurso é dito recorrentemente. Segundo dados do IBGE, o Ensino Superior é composto por 57,1% de mulheres entre 18–24 anos. O INEP também aponta que o sexo feminino predomina no Ensino Superior tanto no modo ensino à distância quanto presencial. A partir dos dados estatísticos apresentados, é importante refletir se as faculdades públicas realmente oferecem a estrutura necessária para proporcionar um ambiente acolhedor para as discentes que são mães, como fraldário, brinquedoteca, auxílio-creche, aleitamento materno etc. O ambiente acadêmico transforma a maternidade em um empecilho e impõe obstáculos para a mulher estar na academia ou no mercado de trabalho. Tal fato ocorre porque não existe uma organização da estrutura social a fim de introduzir a mulher nesses espaços.

Com essas questões em mente, deve ser feita uma discussão sobre os espaços que a mulher deve e pode ocupar, pois é possível ser mãe, trabalhadora e acadêmica, mas para isso, é necessário que haja um enfrentamento através da luta por direitos e uma nova organização da estrutura dessa sociedade, que é machista e opressora. As construções de gênero têm papel muito importante nessa dificuldade das mulheres e mães terem acesso e se manterem no âmbito público da sociedade. Enquanto os homens são criados para trazer sustento para o lar, as mulheres são criadas com o discurso de que elas devem se responsabilizar pelos filhos e pelas tarefas domésticas. Assim, os homens ingressam no mercado de trabalho e as mulheres ficam com a obrigação de cuidar da casa e dos filhos, ou seja, o homem ingressa na esfera pública e a mulher fica restrita à esfera privada.

Quando as mulheres conseguem ingressar na academia e se tornam mães, há muita dificuldade em mantê-las nesses espaços e isso se deve a diversos fatores. Como já mencionado, um dos fatores é o fato de as instituições de ensino não proporcionarem estruturas para acolher as mulheres que se tornaram mães e os seus respectivos filhos. Não há espaços para troca de fraldas, o auxílio-creche possui um valor muito baixo e abrange uma minoria e, além disso, poucas instituições oferecem creches e quando oferecem, também há poucas vagas. Ainda, no corpo acadêmico, as mães ainda sofrem muito preconceito e são vistas por uma parte dos docentes como pessoas que tiveram as suas capacidades abaladas e limitadas.

No mercado de trabalho também há muitas dificuldades que as mães enfrentam, não só para conseguirem a vaga, mas também para conseguirem oportunidades e reconhecimento. Enquanto o homem se preocupa apenas em manter as condições materiais, a mulher que ingressa no mercado de trabalho possui jornada dupla. Essa jornada se dá porque além do seu emprego, é imposto que ela também deve se responsabilizar pelas tarefas domésticas e os filhos, que são indivíduos que dependem da mãe não só na alimentação, mas também na educação e formação como seres humanos — como também dependem da figura paterna. Algo que deve ser pensado é que os filhos devem ter a sua criação compartilhada pela mãe e pelo pai. Isto é, o pai tem tanta obrigação quanto a mãe no que diz respeito à educação e ao cuidado dos filhos.

Logo, devem ser criadas condições de permanência, reorganização de estruturas das instituições e um debate acerca da maternidade para que as mães tenham o seu lugar no âmbito público e os seus direitos garantidos. É importante frisar que o pai deve ter um papel fundamental na criação dos filhos, agindo ativamente e não deixando toda a responsabilidade da criação dos filhos sobre a mãe. A mulher deve ter garantia dos direitos e dos espaços, visto que, ao contrário do que muitos pensam, a mulher tem plena capacidade de ser mãe, estudar, trabalhar e desempenhar funções na esfera pública.

Grupo: Maternidade.

Rita de Cássia Ripardo Lopes e Sarah Bastos Motta

Projeto de Extensão de Economia e Feminismos 2020.PLE

Coordenadoras: Caroline Santos e Margarita Olivera.

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Projeto de extensão de Economia e Feminismos/IE/UFRJ