Resenha do filme “Crimes de Família”. Economia e Feminismos 2021.1 IE/UFRJ

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3 min readOct 25, 2021

Autora: Lauris Zimmer

Crimes de Família (2020)

O filme “Crimes de Família” é uma produção argentina de trama judicial. O enredo gira em torno de Alicia, uma mulher branca de classe média alta. Alicia vive com seu marido (Ignácio), sua empregada (Gladys) e o filho dela (Santi) em uma residência de luxo em Buenos Aires. Ao longo do filme, fica claro que Alicia é uma mãe superprotetora que arrisca tudo para proteger o seu problemático filho Daniel. Encarcerado inúmeras vezes, Daniel, desta vez, se depara com uma acusação de agressão, maus-tratos e abuso sexual de sua ex-mulher, Marcela. Paralelo a este drama, a produção mostra o julgamento de outra personagem, a Gladys. Nesse caso, a empregada doméstica semianalfabeta enfrenta a acusação de homicídio culposo. O enredo se alterna em fatos presentes e memórias dos personagens, as quais nos elucidam sobre a verdadeira história de cada um deles.

SPOILERS

Ao longo do filme, descobrimos que Gladys é acusada de homicídio culposo devido a um aborto clandestino realizado por ela. A personagem foi violentada por Daniel e acabou grávida. Devido ao trauma, a sua condição financeira e a uma certa pressão de Alícia — que percebera a gravidez, apesar de só descobrir o abuso por parte de seu filho depois — Gladys sentiu-se pressionada a cometer o infanicídio. Gladys é condenada a 18 anos de prisão por assassinato de primeiro grau e seu filho Santi fica sob os cuidados de Alicia. Alicia, ao descobrir os abusos de Daniel contra Gladys, desiste do filho e entrega à Marcela provas irrefutáveis, as quais contribuem para a prisão de Daniel e que, anteriormente, foram obtidas ilegalmente e escondidas pela mãe.

PONTOS CENTRAIS

Os julgamentos paralelos de Daniel, homem branco de classe média alta, e de Gladys, empregada doméstica semianalfabeta com descendência indígena, são os pontos centrais do filme e expõem a discrepância e o rigor da justiça com mulheres mais pobres. A psicóloga do filme destaca a necessidade de analisar a história e as condições de vida de Gladys, deixando claro como o julgamento contra Gladys é taxativo, injusto e impessoal.

Além disso, a violência contra a mulher no ambiente familiar também ganha destaque no filme. Na situação de Daniel e Marcela, a partir dos depoimentos da mulher, podemos analisar o desenvolvimento e a evolução de um relacionamento abusivo e a falta de apoio às vítimas deste. Já no caso de Daniel e Gladys, fica evidente o quanto um homem branco de melhor condição social pode ser ameaçador para uma mulher pobre. Nos países latino-americanos, são recorrentes situações como essa e o seu quadro se agrava quando se trata de uma mulher pobre e não-branca.

O final da trama destaca a redenção da mulher branca: Alícia, mesmo após suas más condutas, pôde reconstruir sua vida e recomeçar sua família com Santi. Enquanto Gladys, mesmo tendo sido revelados os abusos de sua infância e sua consequente incapacidade de realizar uma gestação e um parto e não ter condições financeiras de criar outra criança, continuou reclusa, pois o sistema de justiça dos homens não suporta mães que não reconhecem os seus filhos. Logo, ainda que exposta a complexidade de sua vida, a mulher

não-branca precisa ser responsabilizada pelos seus atos. Com isso, podemos notar a presença do feminismo civilizatório ou branco-burguês na trama.

Curso de extensão de Economia e Feminismos — IE/UFRJ

Professoras: Margarita Olivera e Clarice Vieira

Autora: Lauris Zimmer, extensionista e monitora

Rio de Janeiro, 24 de agosto de 2021

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Projeto de extensão de Economia e Feminismos/IE/UFRJ