FACÇÕES DE CLAUSTROBURGO: UMA CIDADE INGOVERNÁVEL

Mandé Malé
Nulitania
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7 min readAug 18, 2019

Há um ditado que causa rancor às partidárias da libertação feminina, mas que é muito apropriado para entendermos a ex-capital de nosso Arquiducado e suas cidades-irmãs: Renascença é uma prostituta bela, jovem e antipática. Vitória é uma prostituta velha, gorda, feia e muito simpática. E Claustroburgo é uma prostituta velha, gorda, feia e insuportável. Que deveria pagar para que você durma com ela.

Há neste contexto dantesco os que querem deitar e rolar com a cidade. E os que querem salvá-la de sua vida pecaminosa. Os que querem piorá-la, deformá-la e tê-la dócil aos seus pés. E os que querem libertá-la. Feliz ou infelizmente, em Claustroburgo muitas vezes o santo e o pecador, o bom e o mau, o justo e o ímpio, estão na mesma facção e tem as mesmas intenções.

A Ex-Capital e as Facçoes em luta

Quando Claustroburgo perdeu o posto de capital para Renascença, antigos ódios e afetos se movimentaram na política. Numerosas facções tramam pelo controle da cidade, ambicionando ocupar o vácuo de poder do Arquiducado. O Arquiduque Kodmarr IV pode ter cometido um erro crasso que o levará a ruína. Nas ruas, partidos políticos radicais organizam divisões armadas para assassinato, conspiração e tumulto. Gangues de traficantes de escravos sequestram e vendem cidadãos do arquiducado livremente para países estrangeiros. Apresentamos aqui 8 grupos que elegem, através de comitês de apoio, chantagem, Lobby, etc, membros para a câmara dos comuns do arquiducado, e tem tido poder crescente na política do local. Ao fim de nossa pequena reportagem apresentaremos um pequeno kit de ferramentas a narradores que quiserem criar estórias com essas facções.

O Partido do Despertar Nacional é uma organização ultranacionalista. Seus tentáculos se estendem por toda a Nulitânia, e seus recursos alcançam facilmente os bolsos de antigas famílias nobres ressentidas com a nova ordem de Kodmarr. Seu lema é: “Pátria Primeiro”. Reagem à discriminação comum aos nulitanos com um ódio igual e oposto, a tudo o que não é nulitano. Há boatos de laços do círculo interno da organização com antigas guildas de magos, mas isto evidentemente é uma difamação.

Balibar e os 40 barões são um caso atípico. Ao mesmo tempo uma ordem de cavaleiros sagrados do código antigo, tementes ao Sol Invicto e às leis dos sete ducados… são uma quadrilha de aventureiros. Embora exista uma ligação consanguínea entre os líderes do grupo e barões que resistiram a Kodmarr e sua partilha da Nulitânia, o grupo é muito mais uma milícia ilegal de justiceiros mercenários do que um grupo de nobres depostos tramando pelo poder. O Código Antigo e a lei dos barões diz que o bom cavaleiro nunca aceita uma causa que não acredite ser justa. Mas o Ouro fez estes homens muito crédulos…

Os Pares entre Sí são uma organização que prega a substituição da economia de mercado como por uma sociedade de guildas igualitárias e democracia horizontal. São fortes, obviamente, junto aos sindicatos. E alguns radicais insanos defendem uma revolução armada nulitana. Há muitos Nanorianos e Trasgos na facção, e neles muitas vezes se encontram os maiores defensores da revolta dos nulos...

A Corporação da Longa Distância é um escritório de exploração geográfica da Trágia, uma nação de hordas móveis onde as classes subalternas são as que se estabelecem em cidades (leia-se: assentamentos nulitanos). A Corporação nasceu de uma tribo Hobgoblins que inventou os mapas antes do primeiro elfo aprender a escrever, e já tinham calculado a circunferência do mundo quando os magos ainda defendiam que a terra era plana. Eles evoluíram pra uma companhia patrocinada pelo Canato Trasgo que patrocina expedições arqueológicas e exploração de ruínas. Há um interesse da corporação em Magia Élfica, paranormalidade, feitiçaria antiga e milagres. Eles são apelidados pelo vulgo de patrulheiros, ou Rangers.

A Guilda dos Ladrões é um poder decadente. O roubo direto é arriscado e pouco lucrativo. E os velhos chefes são conservadores, paradoxais criminosos reféns de limites morais que mesmo a lei já não respeita. Um ladrão pode tomar um doce de um garotinho. Um traficante de escravos pode roubar sua liberdade. Basta cortar sua língua, castrá-lo e vendê-lo para mansão da alegria secreta dos goblins. Ou um traficante de drogas pode lhe roubar a mente. Basta lhe dar uma dose de sorriso-do-lich misturado com um suco e lucrar centenas de vezes para o resto da vida do desafortunado rapaz, a cada crise de abstinência. Ou um industrial Tardo pode roubar-lhe toda a vida. Basta lhe dar um emprego dos 8 aos 38 anos, quando finalmente ele tropeçar e morrer triturado entre as engrenagens de uma fábrica. Qualquer que seja o negócio fora do romântico e aventuresco jogo de pungar bolsos, esconder-se nas sombras e mover-se silenciosamente, a Guilda dos Ladrões não aceitará. Roubo é visto como uma arte, e não como uma simples busca por dinheiro.

A facção conhecida como O Veneno do Coração não tem tanto pudor. Chefiada por Halflings do clã dos Pés Peludos, banidos de Nanória por crimes bárbaros, essa gangue é conhecida por métodos bizarros de tortura. Eles fazem manufatura e distribuição de drogas. Através de opiários, apostas, prostituição, extorsão, assassinato, o Veneno do coração alcançou grande poder político. Muitos nulitanos votam em candidatos orientados pelo apoio da facção. Quando podem votar. E muitos respeitáveis deputados da câmara dos comuns só encontram a paz entre as pernas de uma meretriz e com os pulmões cheios de fumo verde nanoriano.

“O Clã das Correntes Inquebráveis são uma organização influente de traficantes de escravos. Antigamente, eram uma única família de mercadores Goblins, comprando servos de famílias tradicionais Anãs e exportando-as como escravos ao Canato da Trágia. Mas com o florescer de Claustroburgo e a explosão populacional, passou a agir ilegalmente: sequestro de indigentes, aliciação de pessoas com deficiência cognitiva e viciados. Todo o tipo de tortura, cirurgias de remoção da língua, esterilização forçada e lobotomia são métodos comuns para estes negociantes de almas mortas. Os Acorrentados (como se chamam os membros do clã) costumam disputar espaço e território com os traficantes de drogas do Veneno do Coração. Enquanto o Veneno é uma facção de um subtipo específico de Nanoriano (os Pequeninos Halflings, também chamados de Róbites ou Metadílios…) os Acorrentados são uma facção puramente de Goblins, Hobgoblins e Bugbears. O ódio natural das duas raças cataliza os choques violentos nas ruas.

OUTRAS FACÇÕES

Não pense, augusto leitor, que esta lista de sonhadores, assassinos, crentes, cínicos, bandidos miseráveis e nobres ambiciosos é o único elenco que age no caos das noites de Claustroburgo. Nas sombras, as lojas Arcanas disputam uma guerra entre várias casas de Magos, lutando por segredos de uma arte moribunda. Nos lares, nas fábricas, nas ruas, as mulheres congregam em torno da idéia do Sagrado Feminino, um coletivo que pretende a libertação total das mulheres de todas as raças. Pelos cantos das universidades, estudantes sussurram que uma Ordem de Bardos recrutam membros, promentendo uma arte tão revolucionária que seria capaz de subverter a própria realidade. A Igreja do Sol Invicto arquiteta sua entrada para a política enviando candidatos às listas da eleição da câmara dos comuns o ano que vem… Ouro, chantagem corrupção são seus instrumentos… E às margens da igreja, se ergue em segredo uma ordem Mística, O Paladinato, antigos cavaleiros da luz que reivindicam o poder de destruir o mal nas trevas que imperam pela cidade. A Polícia, A Nobreza, O Partido da Ordem e a temível Inquisição da Ciência Tárdica também movem seus tentáculos. Quem tomará o Poder em Claustroburgo? Por quanto tempo o Arquiduque terá sobre a cabeça sua coroa? Só o tempo dirá.

RANDONIZANDO A AÇÃO DAS FACÇÕES

Este método presume que todas as facções ajam da mesma forma e que busquem os mesmos objetivos. Decerto, é um falacioso improviso. As facções tem esquemas maquiavélicos que vão muito acima da política, bem como ainda mais baixo… todavia, um RPG, em sí, é uma falácia divertida. A lista abaixo servirá para que mestres improvisem a ação das facções de claustroburgo — ou de qualquer cidade industrial de sarjetas sujas e escuras. Em breve, se este humilde repórter sobreviver, contaremos ao mundo como cada facção tem seus próprios métodos, interesses, e vantagens para os jogadores. Bem como organizaremos tabelas próprias para cada uma.

A) Escolha uma facção rolando 1d8

1) Despertar Nacional, 2) Balibar, 3) A Justa Troca 4) A Corporação 5) A Guilda dos Ladrões 6) Os Pares 7) O Veneno da Mente, 8) Acorrentadores.

B) pense uma intenção sórdida rolando 1d6

1)Cooptar 2) Matar 3) Corromper 4) Silenciar 5) Sequestrar 6) Roubar

C) Pense em um desafortunado alvo da ação, rolando 1d20

  1. Líder operário
  2. Cientista Tardo recluso
  3. Patriarca Nanoriano
  4. Matriarca Goblinóide
  5. Prostituta de linhagem nobre
  6. Mendigo com suposto dom profético
  7. Crianças de um Internato para Superdotados
  8. Prefeito do Distrito
  9. Deputado frequentador de opiários
  10. Taverneiro com contatos no submundo
  11. Herói de Guerra
  12. Lutadora de um Ringue de Lutas Ilegal
  13. Professor de História
  14. Suposta Alquimista aposentada
  15. Jornalista-Político
  16. Aventureiro famoso
  17. Embaixador Gnoll
  18. Engenheiro Kobold
  19. Ogro comandante de espionagem internacional
  20. Nobre nulitano descendente de sangue élfico (55a geração)

D) Com quais fins? (2d6)

  • 2| Recuperar uma antiguidade élfica ou informações arcanas quaisquer.
  • 3–4| Retaliação pela ação de outra facção (role d8 na tabela A)
  • 5–6| Consolidação de influências em territórios ou grupos de influência
  • 7| Ação isolada e independente de minoria radical da facção
  • 8| Vaidade ou vingança de um agente local da facção.
  • 9–10|Iniciativa de ação em novas áreas
  • 11|Expurgo de Traidores internos
  • 12|Plano de assassinatos mais amplo. Role D20 na Tabela C.

A Seguir, falaremos de Trágia e Nanória. Oferecendo regras completas para antagonistas Goblins e Anões, de forma que possam ser usadas em outros jogos OSR, também, claro.

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Mandé Malé
Nulitania

Eu escrevo fantasia por que a realidade é ainda mais estranha do que a Ficção.