Conheça a teia ministerial do Brasil
Em tempos acirrados, perspectiva pode ajudar a ter uma ideia das tendências gerais de longo prazo.
Na última semana, houve duas posses de ministros — o da Cultura, depois de protestos, e o do Planejamento, que substitui um que acabou de cair devido a gravações que mostram articulações pouco republicanas para abafar processos de investigação de corrupção.
Coletei os dados de quem ocupou os ministérios brasileiros desde a redemocratização do Brasil, em 1985, para observar alguns padrões. A principal observação que salta aos olhos é como alguns nomes estão presentes em vários governos, formando uma verdadeira teia.
Os elos da teia são os ministros que serviram a mais de um presidente. Dilma aparece em azul porque foi ministra de Lula por um período grande. Lula não aparece em azul, mesmo aparecendo como ministro de Dilma, porque o nome usado é diferente. O mesmo vale para FHC, mesmo tendo sido ministro de Itamar Franco.
Reinhold Stephanes, quatro vezes ministro, conseguiu a proeza de servir duas vezes sob Collor, uma sob FHC e uma sob Lula. Nelson Jobim foi três vezes ministro: uma sob FHC, uma sob Lula e uma sob Dilma. Celso Amorim, que empata com ele, serviu a Itamar, Lula e Dilma.
Outras observações também são interessantes. Dilma foi a presidente que mais teve mandatos de ministro — um mesmo ministro pode ter mais de um mandato. Miguel Rossetto, por exemplo, teve 4 mandatos nos governos dela. Ao longo de seu governo, desde o primeiro ano, várias trocas ministeriais ocorreram em decorrência de escândalos de corrupção e dança das cadeiras da base aliada. Nada disso lhe foi exclusividade, claro: os governos FHC também tiveram quase tantas trocas quanto.
A cadeira que mais mudou de ocupante foi a da Agricultura: foram 27 vezes desde 1985. Quatro vezes nos governos Dilma, Lula e Collor, e oito vezes no curto governo Itamar Franco. Ou um a cada dois anos nos governos petistas, um a cada seis meses no governo collorido e um a cada três meses no governo Itamar.
Em seguida vem o ministério da Justiça, com 26 trocas de ministro. Foram dez apenas nos governos FHC. É a pasta que mais mudou de ministro sob um mesmo presidente.
O político mais longevo em cargos ministeriais nos últimos 31 anos foi Celso Amorim. Ocupou três ministérios durante 4.697 dias, nos governos Itamar, Lula e Dilma. Isso equivale a quase treze anos. O vigésimo-quarto ministro mais longevo, Raul Jungmann, voltou ao governo sob Michel Temer.
Onde o bicho pega, claro, é no que eles fazem ou deixam de fazer. Nesse sentido, sempre vale ficar de olho.
