Infelizmente, Pantera Negra (ainda) não superou Titanic na bilheteria

Pessoal que cobre diversões nunca nota que os preços aumentam ao longo do tempo, incrível

Marcelo Soares
Numeralha
3 min readApr 10, 2018

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Estava lendo o jornal agora e vi uma notícia incrível. Pantera Negra, o mais celebrado filme de super-heróis já feito, superou na bilheteria o filme Titanic, mais celebrado filme de choradeira já feito. Com isso, é o terceiro que mais arrecadou, atrás de Avatar e o penúltimo Star Wars.

Claramente o meu favorito entre eles é muito melhor do que os outros, portanto é no mínimo justo que tenha arrecadado mais.

Só que não é bem assim.

Quem escreve isso deve ser de humanas e não sabe fazer contas. É por isso que não repararam que, nos últimos 20 anos, os preços das coisas aumentaram um pouquinho.

Esse fenômeno, a tal da inflação, acontece até em dólar, diga-se. Ao longo do tempo, os preços aumentam mais rápido ou mais devagar, dependendo de vários fatores especialmente relacionados à economia.

Em dólar, o aumento médio dos preços em duas décadas foi de 52%. Em reais, o aumento médio dos preços no período foi de 353%.

Segundo a notícia:

Agora, “Pantera” soma US$ 665,3 milhões contra US$ 659,3 mi do filme de James Cameron — à frente deles só “Avatar” (2009), do mesmo Cameron, com US$ 760,5 milhões, e o recordista e ainda inalcançável “Star Wars: O Despertar da Força”, de J.J. Abrams, com US$ 936,6 milhões.

Fui ver no Box Office Mojo a lista completa. Primeiro, me saltou aos olhos que o número usado nas matérias se refere só à bilheteria nos Estados Unidos. No mundo inteiro, é maior — no caso da parcial do Pantera, é o dobro.

Segundo: nessa lista, apenas com preços brutos, “E o Vento Levou”, de 1939, fica em 263º lugar, com apenas US$ 400 milhões no mundo todo. Chupa, Atlanta, aqui é Wakanda!

Ocorre o seguinte: em 1939, um ingresso de cinema custava em média US$ 0,23. O dobro do preço do primeiro gibi do Batman, lançado no mesmo ano, que custava US$ 0,10. Com US$ 400 milhões, se comprava 1,7 bilhões de ingressos. Pelo ingresso de hoje, teria rendido US$ 15 bilhões.

Em 1997, quando saiu Titanic, um ingresso de cinema custava em média US$ 4,29. Era pouco mais que o dobro da primeira edição do gibi “Birds of Prey”, que custava US$ 1,99. Com US$ 2,2 bilhões. que foi a renda global, se comprava 509,7 milhões de ingressos. Pelo ingresso de hoje, teria rendido US$ 4,7 bilhões.

Em 2018, quando saiu o Pantera Negra, um ingresso de cinema custa em média US$ 9,18. É mais do que o dobro do preço de um gibi novo nos EUA, US$ 3,99. Com US$ 1,3 bilhões, que é a renda global até agora, se compram 141,6 milhões de ingressos.

A grande vantagem: Pantera Negra ainda pode ultrapassar pelo menos Titanic em número de ingressos vendidos se ficar mais tempo em cartaz. Está há apenas dois meses nas salas. Titanic ficou quase um ano. Esqueça qualquer comparação com “E o Vento Levou”.

Mal comparando, o ritmo de venda de ingressos de Titanic ao longo de um ano foi de 42,5 milhões por mês. O de Pantera Negra até agora foi de 70,8 milhões por mês.

Lógico que sabemos que depois das primeiras semanas o público reduz, então o ritmo vai caindo ao longo da estadia.

Mas, por favor, parem de me ofender comparando cifras tão distantes no tempo sem levar em conta a inflação.

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