Redução da pobreza extrema pode ter regredido 11 anos

Dados publicados hoje pelo IBGE contam só parte da história; série do Banco Mundial sugere retrocesso preocupante

Marcelo Soares
Numeralha
2 min readDec 5, 2018

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O IBGE publicou hoje a Síntese de Indicadores Sociais, um pout-pourri anual de interessantes dados sobre o Brasil. Chamo de pout-pourri porque cada ano tem uma seleção diferente de dados, raras vezes chega a formar uma série histórica.

É o caso dos dados sobre pobreza extrema. O IBGE mostra que ela aumentou de 2016 para 2017, mas não tem uma série histórica mais longa para ver a tendência de longo prazo — telefonei para pedir, depois de procurar no site, e foi o que me informaram. E é o prazo mais longo que pode contar a história inteira, porque houve todo um debate sobre se reduziu ou não reduziu a pobreza na década passada.

Talvez seja possível ter uma ideia disso utilizando um padrão internacional, adotado pelo Banco Mundial: quem tem renda inferior a US$ 1,90 por dia (ou R$ 140 por mês) é extremamente pobre. Esse padrão tem falhas, porque o dólar flutua muito. Mas é o padrão internacional, o que permite uma comparação importante. Diz a nota do IBGE:

Já o contingente de pessoas com renda inferior a US$ 1,90 por dia (R$ 140 por mês), que estariam na extrema pobreza de acordo com a linha proposta pelo Banco Mundial, representava 6,6% da população do país em 2016, contra 7,4% em 2017. Em números absolutos, esse contingente aumentou de 13,5 milhões em 2016 para 15,2 milhões de pessoas em 2017.

Não tenho como afirmar se esse dado é comparável ao dado registrado no Banco Mundial, por isso coloquei numa linha à parte. De qualquer forma, são descritos da mesma maneira. Pode haver alguma diferença na metodologia, mas já adianto que a fonte deles é o IBGE.

Veja aqui os dados do Banco Mundial.

No gráfico abaixo, a linha azul mostra o que o Banco Mundial informa. A linha laranja é o que o IBGE divulgou hoje. Se os dados forem comparáveis, voltamos ao ponto de 2006, revertendo com MUITA força a partir de 2014 uma trajetória de queda na pobreza extrema que vinha desde os anos 90, com uma subidinha ou outra. Seria um retrocesso de 11 anos.

Em setembro, a FGV divulgou estudo dizendo que a pobreza tinha regredido aos níveis de 2011. Eles lembram que há muito tempo a pobreza não aumentava por mais de três anos seguidos.

Se a medida for como a do Banco Mundial, podemos ter regredido outros cinco anos além do que a FGV viu.

Reitero que só poderemos comparar com um pouco mais de certeza quando o Banco Mundial atualizar seu banco de dados. Não sabemos quando será.

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