Qual a melhor maneira de lidar com gente que se notoriza pela imbecilidade?

Toda semana algum imbecil anônimo ganha 15 minutos de infâmia ao falar o que não devia; a gente PRECISA participar?

Marcelo Soares
Numeralha
3 min readJun 20, 2018

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Responda mentalmente quem são os cidadãos abaixo.

  • Milton Vavassori Junior
  • Lucas Almeida
  • José Guilherme de Almeida
  • Diego Valença Jatobá

Eu não lembrava do nome de nenhum deles; da existência do último fiquei sabendo ontem. Mas li quando todos eles foram assunto.

Todos eles têm em comum o fato de terem virado notícia neste ano após se notorizarem pela imbecilidade atroz em redes sociais. Eles também têm em comum a falta de qualquer importância exceto essa breve notoriedade.

Seja machista, racista ou homofóbico, toda semana as redes sociais garantem os quinze minutos de infâmia de algum imbecil que ninguém conhecia antes. (Nem vai lembrar depois.) Raiva é um sentimento muito engajante e viralizante, como nos lembra o Jonah Berger. As pessoas naturalmente ficam indignadas com coisas imbecis e compartilhar a raiva com algo sinaliza aos seus que quem compartilhou está do lado “do bem” naquele tema. Isso gera cliques e compartilhamentos com alguma facilidade.

O problema: a sucessão de raiva desgasta. E tem quem ganhe com isso.

Como tudo o que chama muita atenção nas redes sociais vira notícia, porque ninguém quer perder alguns milhares de cliques, a fama dos idiotas e a ira santa dos indignados vazam das redes sociais para as mídias tradicionais.

Eu me pergunto pra quê, fora essa aposta no cassino do clique fácil.

Pessoalmente, sempre penso em termos de economia da atenção. Enquanto dedicamos muita atenção a alguma coisa, dedicamos menos atenção a outras. O dia continua tendo 24 horas.

Há o argumento de que é notícia. De certa maneira, é. Mas, para que as façanhas de um Diego Jatobá virem notícia, um jornalista precisa dedicar alguns minutos do seu tempo, que poderiam estar dedicados a outro assunto. Sei que quem escreve sobre trending topic não é quem escreve sobre Síria, mortalidade infantil ou cinema iraniano. Não se trata dessa comparação rasa. Pessoalmente, sempre tive a ambição de escrever textos que pudessem ser lembrados no futuro. Não me atrai a ideia de escrever textos que amanhã ninguém vai lembrar (claro, já fiz vários desses sabendo ou não). Acho que se damos importância a um tema, devia ser algo que vá ser lembrado, não que vá apenas alimentar a treta do dia e depois tchau. Mal comparando, existem diferenças bem claras entre Malala e Luísa Que Foi Para o Canadá.

Há o argumento de que é uma cultura que precisa ser denunciada para que acabe. Concordo que a imbecilidade precisa pelo menos se envergonhar e que toda consequência pra idiota é pura meritocracia. Entendo o movimento #metoo e seus congêneres. É importante dar vazão ao que era silenciado por medo de idiotas com cargo alto. Trata-se aí de abuso em relação de poder. Ocorre que, sabendo que a imbecilidade é uma das características mais democraticamente distribuídas, não sei se noticiar cada caso de imbecil anônimo que aparece nas redes sociais não equivale a enxugar gelo.

Olhando por esse ângulo, a limitação do meio impresso até parece mais ou menos uma vantagem; como não cabe tudo, é preciso ser criterioso para escolher os assuntos, não é qualquer imbecil falando o que não deve que ganha espaço. (Li recentemente um texto fascinante sobre as consequências do aumento da produtividade dos jornalistas. Dá o que pensar.)

Será que a gente não tem jeitos melhores de lidar com esses casos além de dar quinze minutos de fama a imbecis?

Não tenho opinião formada sobre isso. Só sei que me incomoda ver a timeline tomada por opiniões (óbvias) de gente inteligente sobre gente imbecil e depois abrir um site de notícias e ver o mesmo assunto.

O que você pensa a respeito?

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