Sem polarização, esquece viralização
Redes sociais são o reino dos “economistas de uma só mão” que Harry Truman procurava
Uma história famosa do ex-presidente Harry Truman diz que ele procurava um economista que só tivesse uma mão para assessorá-lo. Porque todos os economistas que consultava diziam “por um lado (on the one hand) isto, por outro lado aquilo”.
No último mês, descobrimos que o nazismo é de esquerda, Chico Buarque é machista e Ney Matogrosso é homofóbico. O show de Truman venceu nas redes sociais: o que cresce nas redes sociais é o que polariza, o que só tem uma mão. E não deve mudar, porque o ser humano é bugado mesmo.
Um estudo recente do Pew Research Center mostrou que quanto mais extremos seus votos (de esquerda ou de direita), mais seguidores tem um parlamentar nos EUA. Aqui, não sei se alguém já fez isso.
Em outro ambiente, o Burgos Media Watch demonstra toda semana que os engajamentos nas matérias mais viralizadas são maiores nas páginas de inclinação política mais extrema. Nesta semana, por acaso está muito mais forte na direita. (O Pedro é um sujeito elegante demais para apontar o dedo para o que é extremo, de um lado ou outro.)
Fora do ambiente do debate político, há outros tipos de polarização.
Os sites de celebridades que mais engajam são os feitos do ponto de vista do tiete. Memes, caps lock e exclamações não são incomuns. Este blog mesmo só teve um número razoável de leitores quando chamou motoristas atropeladores de terroristas motorizados. (É uma raiva sincera.)
A honestidade intelectual de muita gente que fica pelo meio do caminho acaba tendo pouco resultado. Pior: sites polarizados não raro pegam o que foi feito pelos intelectualmente honestos, dão seu molho e colhem os lucros. O Burgos comenta isso num caso específico.
O maior obstáculo é do lado da demanda. As pessoas querem torcer, ver “seu time” ganhando. Se divertem com isso. O ser humano é bugado desse jeito.
O que se pode fazer a respeito sem entrar no jogo?
