Bitcoin - o que é e a sua evolução
A bitcoin é o nome da primeira moeda digital baseada numa rede de pagamento descentralizada, sustentada através de “Peer to Peer” (utilizador para utilizador), ou seja, é suportada pelos seus usuários, sem a existência de uma entidade central, o que permite a transferência de dinheiro entre qualquer pessoa a nível mundial sem a necessidade de um serviço centralizado, como um banco ou o “PayPal”.
Hugo Costa em efconsulting.pt
Em maio de 2010, na Florida, Laszlo Hanyecz comprou duas pizzas avaliadas em cerca de 25 dólares, por 10000 bitcoins (BTC). Esta transação entrou para a história como sendo a primeira vez que a bitcoin foi utilizada para comprar algo, atribuindo-lhe o primeiro valor concreto: cerca de $0.0025 por BTC.
Desde aí, o valor da bitcoin já atravessou períodos de elevada volatilidade. O primeiro ocorreu em julho de 2010, quando avançou de $0.008 para $0.08, em apenas cinco dias. Em fevereiro de 2011, foi atingida pela primeira vez a paridade com o dólar (1$ = 1 BTC) e, em julho do mesmo ano, ocorreu o pico da primeira grande subida da bitcoin, acima dos $30. O movimento foi suportado pela crescente popularidade do Silk Road, um mercado negro online. Seguiu-se uma queda superior a 90%, até próximo de $2 em novembro de 2011.
Daí até ao início de 2013, houve uma fase de maior acalmia nos preços, com uma valorização gradual até $13. Contudo, 2013 revelou-se um dos anos mais agitados até hoje para a bitcoin, sendo a partir daqui que a sua negociação ganhou maior notoriedade. A moeda subiu até $266, registados em abril de 2013, num período em que a crise bancária no Chipre resultou em duas semanas com os bancos encerrados e os levantamentos limitados. A desconfiança no sistema bancário tornou mais atrativo deter uma moeda que não estivesse sob o controlo de nenhum Governo, não só no Chipre mas também a nível internacional. Esta é uma questão que, ainda hoje, se revela crucial para a valorização da bitcoin.
A subida não foi duradoura e, no espaço de poucos dias, os preços caíram de novo até $70. Contudo, no último trimestre de 2013 a bitcoin subiu como nunca antes e em novembro ultrapassou pela primeira vez a marca de $1000. Esta subida deveu-se ao aumento da popularidade da bitcoin na China, com a entrada no mercado de várias bolsas e novos utilizadores — até hoje, a China dita grande parte da ação ocorrida nos preços da moeda. A volatilidade foi significativa nos meses seguintes, com a bitcoin a oscilar entre $500 e $1000. Os preços iam sendo influenciados pelos rumores de má gestão e insegurança na bolsa japonesa Mt. Gox, que na altura era a mais utilizada a nível mundial. A insolvência e encerramento confirmaram-se em fevereiro de 2014, despoletando uma queda nos preços até à zona de $400, que se prolongou de forma gradual até ao início de 2015 — aí negociaram abaixo de $200. Até novembro do mesmo ano, os preços estabilizaram entre $200 e $300, mas iniciaram aí uma tendência de alta que prevaleceu até 2017.
Em 2016, o desempenho da bitcoin (+124%) superou o de todas as moedas convencionais, sendo vários os fatores que se podem destacar para justificar a sua valorização: a depreciação da moeda da China (yuan) e as medidas de controlo de capitais no país, o “Brexit”, a desmonetização na Índia (retirada de circulação das notas mais valiosas para reduzir o dinheiro sujo), a hiperinflação na Venezuela, assim como a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais norte-americanas. Estes eventos têm em comum o facto de serem potenciadores de instabilidade e incerteza, o que atrai o interesse quer das pessoas, quer de fundos de investimento e outros investidores institucionais, para ativos alternativos ou de “refúgio”.
A performance da bitcoin em 2016 foi também muito superior à do ouro (+8%), um ativo tido como “seguro” e com o qual a moeda é frequentemente comparada. Contudo, nos últimos dois anos a correlação entre os dois instrumentos foi negativa, o que não implica que a bitcoin não esteja a ser utilizada como ativo de “refúgio”. Na verdade, poderá sugerir que alguns participantes do mercado têm estado a substituir o ouro pela bitcoin como instrumento a deter em períodos de maior instabilidade.
“Refúgio” ou não, a bitcoin tem contrariado todas as sentenças de “morte” que lhe foram dirigidas nos últimos anos, nomeadamente após cada queda sofrida. A sua resiliência tem sido notória e, no primeiro dia de 2017, voltou a superar os $1000, três anos depois da última vez.
Hoje, as duas pizzas que Laszlo Hanvecz adquiriu em 2010 valeriam 10 milhões de dólares.