5 coisas que você precisa saber sobre ser / ter um líder remoto

Dannie Karam
6 min readMar 9, 2018

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Parece o trabalho dos sonhos: meu chefe mora em outro país! Que vida boa! Só que não é bem assim. Quero dizer… A vida é boa sim, porque eu adoro meu chefe, e não tô puxando saco. Mesmo. Ele sabe disso. Mas ele mora em um país e eu em outro. E eu moro em um estado, e meu time mora espalhado por aí. E assim seguimos por alguns anos já, tendo passado por contratações, demissões, erros e acertos que nos tornaram profissionais ainda mais completos. Será mesmo que isso não é motivo pra “corpo mole”?

Falei no meu texto anterior sobre como é a experiência de trabalho remoto que eu tenho enquanto colaboradora na Nuvem Shop. E como falei ainda antes, sou gestora de Branding e tenho um time pra liderar. E faço isso todos os dias, há milhares de quilômetros de distância do meu chefe e da minha equipe. Como? É o que eu explico no fim dessa minha série de 5 coisas que você precisa saber.

1. A gente conversa muito! O tempo inteiro! SÉRIO!

Se é importante manter uma boa comunicação com o seu time presencial, imagina só quando está cada um num lugar diferente? Por isso, é essencial que a gente converse sempre. Falo com todos os integrantes da minha equipe todos os dias, mais de uma vez, por vários motivos. O jeito é conversar com as pessoas tanto quanto você falaria pessoalmente.

Ou seja: se me deu a vontade de levantar e ir à mesa de alguém falar sobre o projeto, eu chamo no chat e faço acontecer do mesmo jeito.

Por isso, é importante criar os canais certos de contato. Pra coisas mais urgentes, falamos diretamente, um a um, no chat ou no Whatsapp. Já quando o assunto é mais geral, nós usamos uma sala virtual comum entre todos os integrantes, pra manter a visibilidade e todos na mesma página. Se estamos falando do início, término ou detalhes importantes de projetos, registramos por e-mail. E aí por diante.

É essencial que cada time remoto encontre a dinâmica que melhor funcione, desde que a comunicação seja extremamente presente. Do “bom dia” aos detalhes mais específicos de uma entrega, conversar é preciso. E entender também como fazer isso sem desconcentrar os colaboradores pode levar um tempinho, mas quanto mais os integrantes derem visibilidade entre si sobre suas necessidades, percepções e vontades, mais fácil chegar no comum acordo. Por isso, falem! Muito!

Ah, e dica importante. Da mesma forma que trabalhando lado a lado você consegue notar quando a pessoa não tá muito legal e tem algo acontecendo com ela, é essencial criar momentos periódicos onde se tem a liberdade de falar sobre a vida particular também caso queiram.

2. A gente entende as nossas limitações

Pra ser um time full remote, é importante entender as limitações. É claro que num evento presencial não vamos estar todos. Assim como contratar ou demitir alguém pela internet pode ser bastante delicado. Eu lembro do meu próprio processo seletivo na Nuvem Shop, que foi praticamente inteirinho online, e confesso que fiquei um pouco receosa. Como alguém que nunca me viu pode me contratar?

A verdade é que a gente vê tudo, mas com outros olhos.

A gente se foca menos nas impressões pessoais, e vai mesmo pra qualidade de um exercício, pra forma de escrita, pra postura no diálogo. Da mesma forma que pra demitir, a gente também precisa estar preparado pra entender a reação do colaborador, ser mais humano ainda com a situação e permanecer à disposição pra conversar sempre.

Também precisamos ter processos muito melhor elaborados, como a entrada de alguém na companhia. É preciso ter tudo muito claro e visual, pra que a pessoa se sinta bem recebida, além de usar e abusar de “cafezinhos virtuais” pra que possamos criar relacionamento. É quase como fazer uma amizade pela internet. Você precisa querer, se dedicar e estar disponível.

Nós entendemos que fazemos as coisas de um jeito diferente, e que precisamos compensar um pouco o que outros times podem eventualmente fazer com mais facilidade. Por isso, sim, é preciso mais atenção e muito mais intimidade com seu time e seus gestores do que numa relação “comum” de trabalho.

3. A gente é muito transparente! Demais! Irritantemente! No bullshit mesmo!

E pra que uma demissão, por exemplo, não seja traumática quando “nem se darão ao trabalho de falarem pessoalmente” com o colaborador, é extremamente importante ser transparente. É quase ridículo como somos transparentes uns com os outros. Quero dizer… Eu sei até quando uma pessoa do time está com dor de barriga! Parece invasivo? Pode soar assim. Mas é natural, orgânico, algo que se construiu naturalmente por pessoas dispostas a trabalharem nesta cultura remota e confiarem na minha gestão.

Do mesmo modo que meu chefe também sabe até se resolvi começar a terapia ou não. E isso não serve só para o lado pessoal. Tem dias que é muito chato trabalhar, simplesmente porque ouvimos tudo que tem pra melhorar no nosso trabalho. A gente só queria um elogio, mas precisamos cultivar muito a cultura de ouvir todo e qualquer feedback.

É que a partir do momento que estamos todos remotos, todo mundo é um olho e um ouvido nosso!

Por isso, a gente tem que ouvir de tudo. Até o que não gostamos. E isso resulta em avaliações quase que repetitivas (já esperávamos tudo que íamos ouvir), em expor muito tudo que fazemos para pessoas que não necessariamente estão envolvidas no projeto, e num exercício diário de tolerância.

Sim, porque a conversa não pode ter espaço pra voltas. Precisamos ser extremamente diretos, pra garantir que não percamos tempo nos explicando, e em especial, pra ter certeza que fomos compreendidos mesmo à distância.

Então, alimentamos a verdade, nua e crua, em prol de um time mais eficiente e saudável.

4. A gente sabe que tem que fazer aquele “a mais”.

Sim, a gente sabe que tem que mostrar um pouquinho a mais que o resto. A gente tem plena consciência que ainda falta credibilidade num time completamente remoto. Quem nunca se perguntou “será que eles estão mesmo trabalhando” que atire a primeira pedra.

O importante é ter consciência disso e trabalhar muito em visibilidade e união. Um time remoto precisa ser consistente, unido, mostrar mais coerência que qualquer outro. Isso porque é comum que as pessoas atribuam qualquer falha de dinâmica de um time remoto ao fato de não estarem presentes fisicamente em um ambiente. E muitas vezes, esses mesmos problemas acontecem em outros times “comuns”, e são aceitos de maneira mais “fácil”.

Por isso, forço e reforço: a gente sabe que precisa ter um pouco mais de paciência que o normal. Estamos não só num modelo de trabalho, mas também numa missão de mostrar para o mercado que essa tendência é possível, é viável, é produtiva.

E pra educar qualquer um sobre qualquer coisa, é preciso primeiro ser um bom exemplo!

5. A gente não perde a piada! Nem a hora!

É isso mesmo. A gente não perde a piada. Precisamos nos preocupar sim com a relação interpessoal. Em manter um laço saudável, leve e até divertido com o time de trabalho. Precisamos saber que estamos ali uns para os outros, sem nos censurarmos ou limitarmos as nossas personalidades. É importante criar um ambiente confortável pra que todos dividam o máximo de suas ideias e potenciais.

A gente nunca sabe de onde vai sair o projeto que pode mudar a história da companhia.

E por outro lado, também não perdemos a hora! Somos extremamente responsáveis com atividades no calendário (uma excelente ferramenta de trabalho, por sinal, o Google Calendar), com o tempo que gastamos em uma reunião, com a nossa disponibilidade e status contínuo do nosso dia e agenda.

E vamos além do horário. Somos responsáveis com deadlines, com as expectativas externas, com sempre dar um retorno de qualquer solicitação que nos chega seja pelo canal que for… Precisamos fazer um esforço contínuo pra ter certeza que ninguém, interna ou externamente, foi esquecido. Temos que marcar lembretes, follow-ups e ser bem disciplinados porque só assim transmitiremos a confiança que precisamos para continuar trabalhando neste novo formato.

De modo geral, a gestão remota está longe de ser fácil. Mas pode ser sim viável e produtiva se houver muito envolvimento, transparência e seriedade no que se executa. E acima de tudo, muita disciplina. Compensa? Pra mim, sim! Muito. Tenho mais liberdade na minha agenda, me concentro muito melhor na minha casa, e inclusive posso acompanhar minha família nas oportunidades que têm. E aí, uno as duas coisas que mais me afetam (família e trabalho) de maneira positiva, liberando muito espaço na minha mente pra produzir e devolver para a companhia a confiança que eles depositam em mim.

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Dannie Karam

Comunicadora / Líder de Branding da Nuvem Shop / Autora do livro Edifício de Alice disponível na Amazon ;)