A Vida e a Existência: A Unidade de Todas as Coisas

Odilio Noronha
O Alquimista de Si Mesmo
10 min readOct 4, 2023

O que realmente significa estar vivo? A ciência e a espiritualidade nunca convergiram, mas parece que agora resolveram sentar na mesa para conversar.

Nós, seres humanos, temos uma definição intrincada do que é “vida”. Geralmente, consideramos algo como vivo se pode se reproduzir ou descende de algo que se reproduz. Exceções são feitas para invenções humanas, já que nanorobos como os xenobots, por mais que sejam biologicos e consigam se reproduzir, não são considerados seres vivos, talvez porque sentimos que isso tira o caráter misterioso tradicionalmente associado à vida. Embora o corpo humano seja uma entidade complexa, não é sua capacidade de pensar ou sentir que determina sua vivacidade, pois até uma simples célula é vista como viva, independentemente de sua consciência. Além disso, a vida não é estritamente definida pelo tipo de material de que algo é feito. Por exemplo, somos compostos principalmente de carbono, mas estaríamos dispostos a reconhecer uma forma de vida baseada em um elemento diferente, se fosse descoberta no espaço. Então, por que máquinas avançadas não são consideradas vivas? Nossa compreensão da vida é moldada por convenções, tradições e a complexidade inerente da existência. Enquanto avançamos no entendimento de nosso universo e da própria essência da vida, é crucial que reexaminemos e expandamos nossas definições, mantendo a mente aberta para as inúmeras possibilidades e formas que a vida pode assumir, seja na Terra ou além. O que definimos como “vivo” hoje pode ser apenas a ponta do iceberg em nossa busca contínua para entender nosso lugar no vasto tapeçar da existência.

Assim como uma célula não reconhece a totalidade do organismo ao qual pertence, nós também podemos ser componentes de um sistema mais amplo. Nosso ego muitas vezes nos leva a acreditar que somos únicos e destacados. Da mesma forma, no corpo, elementos como minerais e água, que não são considerados “vivos”, o mundo e o universo possuem inumeros elementos que são cruciais para o funcionamento harmonioso do conjunto.
A célula no corpo assim como o ser humano no universo podem ter:

  1. Limitações da Percepção: Assim como uma célula individual em nosso corpo pode não ter consciência do organismo maior em que reside, os seres humanos, com suas capacidades perceptivas limitadas, podem não estar plenamente cientes ou compreender completamente a vastidão e a interconexão do universo.
  2. Interdependência: Tal como as células do corpo dependem umas das outras para funções específicas e para a saúde geral do organismo, os seres humanos são interdependentes não só entre si, mas também com outras formas de vida e com o ambiente natural.
  3. Finalidade e Papel: Cada célula em nosso corpo tem uma função e propósito específicos, seja como uma célula nervosa, uma célula sanguínea ou uma célula da pele. De maneira semelhante, pode-se argumentar que cada ser humano ou cada espécie tem um papel único no “organismo” maior da Terra ou do universo.

A visão de que tudo no universo está intrinsecamente conectado vem ganhando força à medida que avançamos em nosso entendimento científico. A ciência, em sua jornada para desvendar os mistérios da existência, está convergindo para uma percepção outrora reservada à espiritualidade e religião: a unidade inerente de todas as coisas. Esse entendimento profundamente interconectado do cosmos não apenas redefine a maneira como vemos a nós mesmos e nosso lugar no universo, mas também lança uma luz sobre os profundos mistérios que permeiam nossa realidade.

  1. Origens Estelares: Popularizada por Carl Sagan, a noção de que somos “poeira estelar” refere-se à formação dos elementos em explosões de supernovas. Esses elementos se tornaram os blocos de construção da vida na Terra.
  2. Ciclo Atômico: Os átomos em nosso corpo já fizeram parte de outros organismos e entidades. Este ciclo eterno de reutilização sugere uma continuidade na matéria que compõe todos os seres.
  3. Árvore da Vida: A diversidade de vida na Terra rastreia sua origem a ancestrais comuns, ilustrando uma conexão genética profunda entre todas as formas de vida.
  4. Simbiose Química: Animais e plantas co-evoluíram de maneiras complementares, estabelecendo uma relação simbiótica que sustenta a vida na Terra.
  5. Adaptação Terrestre: A vida na Terra é um produto de incontáveis gerações de seleção natural, resultando em organismos perfeitamente adaptados ao ambiente do nosso planeta.
  6. Ilusão da Solidez: No nível atômico, a “solidez” é uma ilusão. O que percebemos como matéria sólida é, em grande parte, espaço vazio, com átomos compostos principalmente de espaços vazios entre núcleos e elétrons.
  1. Entrelaçamento Quântico: No reino subatômico, partículas podem estar entrelaçadas de maneiras que desafiam nossa compreensão tradicional de espaço e tempo. Este fenômeno misterioso sugere uma profunda interconexão no tecido fundamental da realidade.

Estas descobertas, ao desafiar nossas percepções convencionais, também nos oferecem uma oportunidade: a chance de enxergar o universo, e nosso lugar nele, através de uma lente de maravilha, respeito e admiração renovados.

Memória Coletiva e a Síndrome do Centésimo Macaco

À medida que exploramos as profundezas da interconexão quântica, também encontramos fenômenos intrigantes no reino biológico que desafiam nossa compreensão. A teoria da ressonância mórfica propõe que há uma memória coletiva que permeia as espécies, influenciando a formação e o comportamento de organismos com base nas experiências passadas de outros membros da mesma espécie. Este conceito é exemplificado na intrigante observação de macacos na ilha de Koshima, no Japão, conhecida como a “síndrome do centésimo macaco”. Conta-se que, quando um número suficiente de macacos em uma ilha aprendeu a lavar batatas-doces na água para limpá-las, macacos em ilhas distantes e sem contato direto começaram a exibir o mesmo comportamento. Embora esta história específica seja muitas vezes debatida quanto à sua precisão, ela ilustra uma ideia fascinante: que informações e aprendizados podem ser transmitidos de maneira misteriosa e não local, ecoando a não-localidade observada no reino quântico. Estes fenômenos reforçam a noção de que estamos intrinsecamente conectados, não apenas no nível físico ou atômico, mas também no nível da consciência e do comportamento.

A Ciência Começa a Convergir: Não Localidade

Quando duas partículas interagem, essa propriedade é descrita pelo fenômeno no qual elas continuam a influenciar e a transferir informação mútua e instantaneamente, não importando quão distantes estejam uma da outra!

Não importa se as partículas ou os eventos físicos estão separados por bilhões de anos-luz ou um(a) em cada extremidade do Universo. Continua a existir uma comunicação instantânea, ou transferência de influência, ou informação entre os sistemas.

Os físicos foram obrigados a concluir que a não-localidade ou NÃO-SEPARAÇÃO é uma dinâmica GLOBAL ou UNIVERSAL do COSMO.

Einstein referia-se à não-localidade como “ação espectral a distância”. A intenção ocorre sem qualquer sinal local visível. Em outras palavras, a descoberta da não-localidade revela que há uma realidade invisível-aquela que conecta todos os eventos físicos do UNIVERSO.

Consciência: O Portal para Experienciar o Mundo

A consciência é frequentemente considerada a jóia da experiência humana. É o portal pelo qual percebemos, interpretamos e interagimos com o mundo ao nosso redor. Mas, em um nível mais profundo, a consciência pode ser vista não apenas como um mero produto da evolução, mas como uma ferramenta necessária que nos permite vivenciar e explorar as inúmeras possibilidades da existência.

  1. A Função da Consciência: Em sua essência, a consciência nos permite ser mais do que apenas reatores automáticos ao nosso ambiente. Ela nos dá a capacidade de refletir, ponderar e escolher como queremos responder às situações. Através da consciência, podemos imaginar cenários futuros, planejar e até mesmo sonhar acordados. Sem ela, seríamos meramente organismos reativos, limitados pela programação evolutiva.
  2. Consciência como Experiência: A capacidade de estar consciente nos dá a possibilidade única de experienciar e apreciar a beleza, a tristeza, a alegria e a vasta gama de emoções e sensações que o mundo tem a oferecer. A consciência torna possível a arte, a música, a poesia e todas as formas de expressão criativa que elevam a experiência humana.
  3. Explorando Possibilidades: A consciência também nos permite explorar e experimentar diferentes realidades e perspectivas. Podemos nos colocar no lugar de outros, imaginar mundos diferentes e até mesmo contemplar realidades que desafiam nossa compreensão atual. Ela nos dá a liberdade de escolher entre diferentes caminhos e decidir qual direção queremos seguir em nossa jornada.
  4. Consciência e a Totalidade da Existência: Se considerarmos o universo como um vasto campo de possibilidades, a consciência é a ferramenta que nos permite navegar por esse campo. Cada decisão que tomamos, cada pensamento que temos, e cada emoção que sentimos, nos permite experienciar uma fatia única desse universo infinito de possibilidades.

Em resumo, a consciência não é apenas um subproduto incidental de nossa evolução biológica. Pode ser considerada a razão pela qual existimos. Estamos aqui para experienciar, explorar e descobrir as maravilhas do universo de maneiras que só seres conscientes podem fazer. Ao entendermos a consciência dessa maneira, podemos começar a apreciar verdadeiramente a magia e o mistério da existência. E ao fazermos isso, também reconhecemos a responsabilidade que vem com o dom da consciência — a responsabilidade de usá-la sabiamente, de viver plenamente e de contribuir positivamente para o tapeçar da existência.

Sabedoria Antiga

Nossos antigos ancestrais, embora não armados com a tecnologia e os conhecimentos científicos que possuímos hoje, intuíram essa interconexão. Muitas tradições espirituais e filosóficas ao longo da história têm proclamado a ideia de que “todos são um”. Hoje, a ciência moderna está redescobrindo e reforçando essa antiga sabedoria, revelando a maravilhosa complexidade e interdependência do cosmos. Essa ideia de unidade está presente em muitas culturas e religiões diferentes. Por exemplo, no hinduísmo, a crença de que tudo é um é expressa no conceito de Brahman, que é a essência divina que permeia tudo o que existe, no Budismo temos a Originação Dependente, não há nenhuma partícula de seu corpo que não seja dependente do próprio universo, ou profundamente preso a ele, todos os átomos do corpo estão ligados a este universo, são muito antigos, bilhões de anos. A maioria dos átomos dentro dos corpos de vocês são anteriores à existência do Sol, do nosso Sol e do nosso sistema planetário.

O “Caminho do Meio” (ou “Majjhima Patipada” em Pali) é um conceito central no Budismo, e refere-se a uma abordagem equilibrada para a vida e a prática espiritual. O Buda ensinou o Caminho do Meio como uma alternativa aos extremos da autoindulgência e da autonegação. Aqui estão alguns pontos principais sobre o Caminho do Meio:

  1. Origem: A ideia do Caminho do Meio foi apresentada pelo Buda em seu primeiro sermão após sua iluminação, o “Discurso do Girar a Roda do Dharma” (Dhammacakkappavattana Sutta). Ele descreveu a jornada espiritual como evitando dois extremos: o da indulgência sensual e o da automortificação.
  2. Evitando Extremos: O Buda experimentou ambos os extremos em sua própria busca pela iluminação. Ele viveu uma vida de luxo como príncipe e depois uma vida de austeridade como asceta. Ao perceber que nenhum desses caminhos levava à verdadeira compreensão ou libertação, ele optou por um caminho equilibrado, o Caminho do Meio.
  3. Significado Mais Amplo: Em um sentido mais amplo, o Caminho do Meio pode ser visto como uma abordagem equilibrada para todos os aspectos da vida. Isso significa não se apegar a opiniões e visões extremas, mas encontrar um equilíbrio em tudo.

O Caminho do Meio pode ser aplicado em muitas situações da vida diária, seja ao lidar com conflitos, tomar decisões ou abordar desafios. Significa evitar reações extremas, seja excessiva reatividade emocional ou completa apatia.

O Caminho do Meio é um convite para abordar a vida com equilíbrio, compreensão e sabedoria. Ao seguir este caminho, os praticantes buscam desenvolver uma mente calma e clara, cultivando qualidades como compaixão, bondade e discernimento. Ao fazer isso, eles se movem em direção à libertação do sofrimento e à realização da verdadeira paz e felicidade.

Essa Base do equilíbrio que o caminho do meio nos trás, é também vista em várias outras tradições, como por exemplo no triskelion dos celtas, ele prega o processo tendo em vista a importancia de cada etapa, crescimento pessoal, desenvolvimento humano e progresso espiritual, todas em eequilibrio, dentre várias interpretações do triskelion, essa é uma das que mais gosto.

Conclusão

A verdadeira beleza do universo não reside apenas nas estrelas distantes ou nas complexidades do átomo, mas na profunda interligação de tudo que existe. Essa revelação não é apenas um testemunho da maravilha da ciência, mas também um chamado à introspecção. Cada ação, cada pensamento, cada sentimento tem seu lugar nesse vasto tapeçar cósmico.

À medida que avançamos em nossa jornada de compreensão, torna-se imperativo reconhecer e honrar nossa posição no grande esquema das coisas. Não somos meros espectadores passivos, mas participantes ativos, cocriadores de nossa realidade. Diante dessas revelações, é evidente que a separação é mais uma ilusão criada por nossas percepções limitadas e nosso Ego forte. Acredito que como em nosso exemplo inicial das células, é importante que cada um exerça seu papel único na terra. Qual é o papel da consciência nisso? Como podemos, conscientemente, moldar nosso futuro e o do universo? Não estamos aqui simplesmente para nos desconectar da Terra e fortalecer nossa conexão com nosso eu interior mais elevado, não teriamos precisado de uma experiência terrena para isso, mas sim para buscar um equilíbrio e vivenciar as experiências na terra da melhor forma possível, até que naturalmente, em alguma das nossas existencias, a iluminação possa ocorrer de forma suave deve ser o voo para um passaro, ou nadar para um peixe.

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