Observando: O Lobo atrás da Porta

O desenrolar de um efeito borboleta que culmina num sequestro

Jefferson Tafarel
O b s e r v a n d O
3 min readMay 1, 2017

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Cena do filme O Lobo atrás da Porta (2013); Leandra Leal (acima) interpreta Dália, Silvia, Rosa

A tríade responsabilidade-culpa-traição constrói a trama do filme de Fernando Coimbra, mesmo diretor de Castelos de Areia que está no catálogo da Netflix (conta a história de um soldado que se arrepende de ir lutar na Guerra). Nele, Sy(i)lvia (interpretada por Fabiula Nascimento) é feita de joguete inocente por Rosa (Leandra Leal) e Bernardo (Milhem Cortaz), que nunca sabe o que se passa e tem sua filha levada por um cúmplice (Thalita Carauta) da amante do marido.

O longa conta com várias cenas em flashback — trazendo um dossiê de tudo que acontece ao longo do relacionamento com a amante e todo o processo que leva ao crime — deixando-o assim, em formato descontinuado, para que quem assista junte as partes do ocorrido e fazendo-o se aprofundar nos detalhes da obra.

Empregando atitudes hipócritas e iludindo sua esposa, o marido de Sylvia consegue manter um relacionamento duplo com Rosa, cujo primeiro encontro o faz ir atrás dela para transar “sem envolvimento emocional”. A vida dupla segue até que a filha de sua mulher, Clara, é sequestrada: tudo armado em cima de uma traição, um sexo casual fora de um relacionamento monogâmico, cujo pivô é o próprio Bernardo.

Além disso, a proximidade de Rosa com a menina, em uma determinada cena do filme, é a marca do encontro com algoz num ápice de manipulação, isto é, a poucos metros da mulher que tinha o plano de destruir seu relacionamento, Sylvia não é capaz de cogitar que uma pessoa tão dócil consiga executá-lo.

Machismo

Um quase estupro e uma (possível) gravidez não desejada exibem toda a veia machista do personagem principal. Por raiva e com uma atitude sutil de sua amante, ele a ameaça veementemente, xingando-a e fazendo-a entrar num desespero psicológico torturante.

Quanto ao embrião extra-conjugal, Bernardo se posiciona com a sua “atitude de macho” (que utilizou, para justificar o que tinha feito, ao delegado) quando Rosa avisa que pode estar grávida: culpa de todo jeito ela, com uma boa dose de gaslighting, afirmando que ela iria arruinar a sua família com essa novidade, deixando de lado sua atitude de usá-la para obter prazer — e o espermatozoide que ajudou a fecundar.

Violência Policial

Rapidamente, o delegado (Juliano Cazarré) expõe a maneira como a polícia investiga os culpados e se for estuprador, agressor de criança ou idoso, ninguém tem pena, então, merece apanhar, sem demora. O problema mais evidente na fala da personagem é que com violência, mesmo que não se saiba se são inocentes ou não, os acusados apanham. E isso é bem presente em muitas das ações policiais. Felizmente, não em todas.

O que mais fica claro no filme é que o lobo atrás da porta é alguém que age como herói protetor, responsável e valoroso, mas no fundo é falsário e atormentador, mesmo falando da sua culpa e traição.

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Jefferson Tafarel
O b s e r v a n d O

Jornalista. Brinca com Python e explora bases de dados públicas de vez em quando, expondo suas investigações por aqui. Gosta de gatos e alho-poró.