Observando: O Poderoso Chefão
A.k.a o padrinho mais famoso da história do cinema
Primeiro, quero dizer que nunca vi um filme tão longo na minha vida. Quase três horas de duração que, por pouco, não se toraram 3 e meia num canal que tive a chance de assistir.
O filme é de 1972, contudo o contexto é de 1945, ou seja, temos uma grande influência da austeridade dos autoritários do nazismo e fascismo, incluída significativamente na personalidade dos personagens principais e dos gângsteres.
Esse longa do incrível Francis Coppola não deixa de surpreender (ainda bem) nessa quilometragem de frames incríveis que é esse filme: desde os tiroteios, passando pelos amores, um pouco de festa e muita breja, até os negócios da máfia (algumas vezes, referenciada como família, devido à descendência do dono das ações da organização criminosa) e seu tráfico influenciador em tantas áreas.
Política, polícia, meio judiciário e até jornalismo são alguns para citar. Não é nem pouco desconhecido esse tipo de estratégia de influência por aqui no Congresso e em alguns setores da polícia, mas quando se vê todo o resto que aparece na trama é como se o meio privado criminoso tivesse tanto controle sobre a região, que parece até que não existe mais poder pautado em termos de administração pública. Um dos impactos do filme é justamente esse: a potência das famílias que controlam esse sistema — como principal, a de Corleone, cujo líder é Don Vito Corleone (interpretado por Marlon Brando) e o próximo é Michael C. (Al Pacino) — é tanta que parece que não há mais fronteira entre essas duas esferas. Assim, o sistema, dentro do roteiro do filme, mostra que o poder sobre as pessoas provém de uma submissão pelos políticos a eles.
A virilidade é outra coisa que permeia o filme do início ao fim, com muitos tons de machismo também. Faz parte, afinal, é um aspecto intrínseco ao modus operandi dos gângsteres; Michael Corleone é sempre pressionado a agir com a maior frieza possível nas ações de rotina dele, como na cena em que diplomacia e assassinato se misturam.
É claro que as drogas estavam no tráfico das famílias italianas da obra, além de prostitutas e jogos de azar. Os narcóticos eram tidos, por incrível que pareça, como o pior dos negócios: eles não botavam a menor fé nos entorpecentes, achavam que denegria qualquer um que as usasse, que não valia a pena investir.
Na mesma cena em que os líderes das máfias discutem sobre esse assunto, a influência do nazifascismo no âmbito criminoso se torna evidente. Sugerem que esse negócio se restrinja aos negros, porque, para eles, são a raça mais perdida que existe. Nessa mesma cena, lembro do Neil deGrasse Tysson.
Algo importantíssimo durante o filme é como a guerra entre as famílias dos Dons (como são chamados os líderes de cada uma das máfias) vai atingindo a mais poderosa. Quando D. Corleone é atacado por um tiroteio e Sonny C. também, a tensão entre a dicotomia diplomacia-guerra começa a se arrebentar, levantando, assim, a ira de Michael C., agora líder, a dar cabo à disputa homérica.
Não há como não perceber a maneira cinematográfica de gravar os tiroteios épicos durante o filme. As imagens que ilustram esses trechos são cheios de profundidade e de técnica, algo que não se vê em qualquer filme de “porrada & pancadaria”.
Embora o lado bélico, o roteiro mostra ainda a vida amorosa de Mike Corleone. Como se diz em italiano, o cara foi atingido por um raio ao ver Apollonia, quando estava a fitá-la maravilhado. Adentrou no amor, foi até o pai dele, desposou-a e admirava com uma preciosidade igual a de quem trabalha com joias. Sem dúvidas, as cenas mais envolventes, em contrapartida a seu fim trágico.
Porém, antes de Apollonia sumir da vida de seu amado, a violência doméstica causada por ele é latente, assim como sua traição. Como era de se esperar, a bonança sempre é acompanhada de muitos ataques tempestuosos durante o longa.
O Poderoso Chefão te faz imergir numa história da máfia italiana que você nunca pensou em se meter por um momento mesmo que curto, ao mesmo tempo que te faz ver como essa influência dos Dons é movimentada; esse tipo de lobby criminoso que vemos na obra não é tão distante do que temos por aqui. JBS que o diga.