Observando: Your Name

Sobre entender um ao outro numa aproximação distante

Jefferson Tafarel
O b s e r v a n d O
3 min readDec 20, 2017

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Mitsuha e Taki, personagens principais do filme (foto: Toho/Reprodução)

O que liga uma pessoa a outra? Em Kimi no na wa, de título inglês Your Name (2016), essa questão é respondida através da antítese entre calmaria do interior nipônico, na fictícia Itomori, e o cotidiano urbano característico de Tóquio, mais especificamente, entre Mitsuha e Taki. Os dois se conectam através de uma ligação mágica, chamada Musubi (結び), que é a ligação além do tempo e espaço que conecta as pessoas no filme (a avó de Mitsuha diz que amarrar fios ou dar nós também definem Musubi, dizendo que é o “fluxo do tempo”).

“Trançar fios é Musubi. Conectar pessoas é Musubi. […] Então os fios trançados […] representam o próprio fluxo do tempo. […] Nós-musubi. É o tempo.”

— Avó de Mitsuha

Por causa disso, algo especial acontece entre eles: eles trocam de corpos a cada dia. Num dia podem acordar em seus corpos, no próximo podem estar um no corpo do outro. Isso faz com que se entendam, ajudem-se e se envolvam íntima e profundamente, com o desenrolar da trama. Tudo isso é motivado por um desejo fortíssimo da Mitsuha de ir morar no Japão, que acabou sendo realizado, por tabela, através do garoto de Tóquio.

Depois de se acostumar a viver a vida um do outro, Mitsuha vai entendendo que a vida amorosa de Taki não é muito preparada para dar um passo a frente, então, o faz por ele: convida a sua companheira de trabalho para um encontro. Quando ele acorda no seu próprio corpo e percebe o que a garota de Itomori fez, fica nervoso, mas o encontro acontece mesmo assim. Por mais que não tenha sido muito bom, essa ajuda foi o suficiente para que Taki sentisse uma certa gratidão pelo que a garota fez. Então, decide ir atrás dela.

A busca que vai ao fundo da essência da vida de Mitsuha dá ao filme, dirigido e roteirizado por Makoto Shinkai e lançado esse ano no Brasil há cerca de dois meses, a sua melhor qualidade. Isto é, a descoberta que os personagens tem um do outro, resultando numa empatia une os dois de tal maneira que não aguentam mais estar separados — querem apenas olhar nos olhos um do outro.

Chegar ao ponto de ajudar uma pessoa que não faz nem ideia de quem seja, orientado-a no fluxo de tempo da Mitsuha nas decisões erradas que tomou no passado (no filme, isso é possível) é outra característica marcante da trama. Se o amor da sua vida tivesse te ajudado quando mais precisou durante a vida, antes mesmo de te conhecer, com certeza você teria não só um simples amor, mas um sentimento transcendente e sem fim.

Apesar da estética*, filmografia e roteiro bem desenvolvidos, a animação não foi indicada a nenhum Oscar, no ano passado. Uma pena, porque nos dias atuais precisamos algo semelhante a essa conexão com pessoas de lugares que não conhecemos, para poder entender melhor os problemas que existem a nossa volta, sem falar dos outras qualidades que o longa-metragem apresenta.

Mitsuha observando o cometa Timat, um encanto breve (Foto: Rotten Tomatoes/Reprodução)
  • (*) e x t r a: boa parte das localidades são reproduções (muito bem tracejadas na animação) de partes reais do Japão, em especial de Tóquio. Veja no link abaixo (em inglês):

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Jefferson Tafarel
O b s e r v a n d O

Jornalista. Brinca com Python e explora bases de dados públicas de vez em quando, expondo suas investigações por aqui. Gosta de gatos e alho-poró.