Cruel World
Dirijo ao som da canção que te dediquei, os acordes ricocheteiam o meu peito e o calor sobe até a nuca, é como se a batida estivesse na mesma sintonia que eu. Canto com os vidros abertos, sei que ninguém pode me ouvir, mas não quero ser ouvida, quero apenas essa sensação de liberdade.
A pista vazia me lembra os nossos sábados a tarde, parecia que a rodovia era toda nossa. Parávamos em qualquer acostamento e brincávamos de gato e rato no capô do seu carro, parecíamos jovens, selvagens e livres.
-Por que? — você me perguntou naquela ultima conversa e eu respondi — Porque fazia sentido, me lembrava exatamente como tudo era — Mas, eu não te contei que no final ela estava feliz e era isso que eu buscava depois de tudo. Mas, é só uma canção.
Está tudo acabado e eu ainda dirijo, suas mãos não estão mais entrelaçadas na minha, mas ainda posso enxergá-las segurando esse volante. Eu juro que tentei — por Deus, como eu tentei! — li até o seu manual, deixei que me conduzisse, me transformei no que seria adorável aos seus olhos, fiz o que tinha que fazer, mas mesmo assim acabou.
Eu a sinto ricochetear até arder e escorrer em minhas bochechas. Com os meus óculos de sol e batom vermelho, aumento o volume e desço cada vez mais o pé direito.