Gabriel Costa Oliveira
O Bacurau e a flor da noite
1 min readJun 14, 2023

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Noite de um 28 de Março

Preso nesse estupido quarto de hotel.

Lá fora o mundo desaba, o mundo vive sem mim.

Aqui, escuro, escuto o espirro do vizinho ao lado.

Será ele tão patético quanto eu?

Prenderam de sua cabeça tantos devaneios inúteis quanto da minha?

Tantas ideias tortas?

Sufocado pelas vontades, varo a noite.

Desejos massiços.

Vontades impraticáveis.

Sonhos de uma luxuria impossível, mas, plausível.

Cobiça pelos maduros frutos da carne.

A vontade de se entregar, de se render, de capitular sem convite.

De correr 1301 quilômetros para me ajoelhar a seus pés.

Clamar que me enrole em sua teia, me envenene e me sugue os fluidos.

Que me mate em seu ventre, que me enlasse em suas pernas, que me quebre ao meio, que me despreze, que me domine, que dance.

Vontade absoluta que me parta o coração.

Mas, de fato, é muito areia pro meu caminhão.

Sou contido. Afogado em sonhos intranquilos de tesão e sortilegio rumo em direção ao dia.

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Gabriel Costa Oliveira
O Bacurau e a flor da noite

Biólogo. Amazonida. Entusiasta da conservação e dos estudos em mudanaça climatica.