Lucas Rezende
O Bloco de Notas
Published in
2 min readFeb 20, 2018

--

Eu sou Manaus

Foto do blog Rio Negro (Ray Baniwa)

Um nortista vivendo no interior paulistano, cursando uma faculdade onde todos vêm de outra cidade. Logo me vem o questionamento: até onde podem se esticar nossas raízes? Conheço muitas pessoas que largaram as terras de Ajuricaba, em específico o Forte de São José da Barra do Rio negro, em busca de um destino no sul/sudeste, ou até em outro país. Seja trabalho ou faculdade (ou ainda, cônjuges), aqui tiveram suas raízes e não mais sentem na pele o sol queimando sua tez.

A pergunta que começa este texto ecoa mais ainda quando penso sobre a relação das pessoas com sua terra natal. Será que saíram buscando algo melhor porque, infelizmente, a musa Manaus nem tudo oferece, ou saíram buscando qualquer coisa fora da terra do sol moreno?

Longe de mim, querer julgar as escolhas de alguém, o que cada um quer pra sua vida não me concerne jamais. Mas seria mentira dizer que não fico com aquele nó da garganta, tal qual se tem quando se vê o/a filho/a escarnecendo sua progenitora.

Minha alcunha entre os paulistanos colegas de classe, e futuros colegas de profissão, é justamente esta santa madre: Manaus. A primeira vez em que me chamaram de Manaus fiquei estarrecido por alguns momentos. Parece algo até meio leso, qual manauara não conhece um “Ceará”? Um “Bahia”? E por aí vai. Mas neste momento me senti por breves segundos levantando o estandarte do amazônida; do ser amazônida. Como que cada ato meu fosse indicar o que a partir dali seria o estereótipo de nortista para aquele pequeno grupo de futuros gastrônomos. Senti-me importante por alguns momentos, pelo simples fato de ser amazonense, vivendo entre os interioranos de outro estado.

Não que eu quisesse ser ali uma espécie de guru. Não ia cantar Carrapicho para eles e nem ensinar passos do Garantido ou do Caprichoso (ainda era muito cedo pra isso), mas a cada pergunta que se fazia sobre a ex-pertencente da província do Grão-Pará e Maranhão, um estágio de epifania era atingido. “Eu sou Manaus”, repetia na minha mente. Eu representava Manaus e manauaras naquele momento. Foi mais do que memorável. Representar a minha própria cultura! Logo eu, que me considero um bairrista socialmente aceito.

A lembrança deste dia estará muito bem guardada em uma gaveta na minha memória, e irá ser revisitada sempre com um sorriso no rosto. Iguais àquelas fotos antigas dos nossos pais: uma comicidade nostálgica.

E é isto, senhores, um manauara vivendo no interior paulistano e escrevendo pensamentos e crônicas, afim de não surtar em uma cidade com 2500 habitantes. Se gostar pode deixar seu aplauso (de 1 a 50), um beijo, um abraço e até.

--

--