Ver e ser visto

Lucas Rezende
O Bloco de Notas
Published in
3 min readAug 21, 2018
Photo by Lily Banse on Unsplash

O restaurante deixou de ser um local simplesmente com o intuito único de restauração para ser um espaço para ver e ser visto.

A frase acima relata muito bem o atual cenário em que muitos restaurantes estão se tornando, ou ainda, que o próprio consumidor está criando para esses lugares.

Claro que aqui não se fala em qualquer restaurante, por exemplo, essa frase jamais poderia se referir ao self-service em uma rua movimentada de um bairro comercial. Pelo fato de que ali todos procuram um almoço rápido, barato, aceitável em nível de qualidade e que seja perto do seu local de trabalho.

A diferença entre o cenário agora comentado e o que a frase inicial sugere é justamente este: a demanda. A frase trata dos estabelecimentos de demanda criada, aquela em que se cria a necessidade do público pelo seu produto.

Inúmeros são os fatores que levam as pessoas a frequentar restaurantes, e que vão muito além de serviço e comida, e entre esses fatores pode-se citar o status criado por se frequentar este ou aquele restaurante: o estabelecimento da moda, o que saiu em tal revista, o que tal famoso postou foto frequentando, ou que a blogueirinha da cidade está divulgando. Este é verdadeiramente o ver e ser visto.

E para justificar a importância do ver e ser visto, cito aqui a pirâmide de necessidades de Maslow. Na base da pirâmide proposta pelo psicólogo estão as necessidades fisiológicas (comer, beber, abrigo, ar). Quando as necessidades deste nível estão contempladas é quando se passa para o nível acima, o das necessidades de segurança e seguridade (proteção, ordem, estabilidade), que quando atingidas, chegar-se-á às necessidades sociais (afeição, amizade, pertencimento). Quando superadas estas, teremos as necessidades do Ego (prestígio, status, autoestima). E é este patamar que endossa a frase analisada. As necessidades do ego podem ser intrínsecas e extrínsecas: quando intrínsecas voltam-se para dentro, remetem a autoestima, sucesso, satisfação por se fazer algo, e quando extrínsecas, incluem o prestígio, reputação, status, o reconhecimento dos outros.

O ver e ser visto é uma realidade que nem sempre nos damos conta. Uma faculdade inerente e oculta do ser, quase egoística, que nos persegue até que atinjamos o último degrau da pirâmide: a autorrealização, onde situa-se a moralidade, a autoaceitação e a compreensão dos fatos ao seu redor.

Essa pirâmide analisa todas os tipos de necessidades do ser humano, mas usando o exemplo de restaurantes imaginemos as seguintes cenas: Na primeira cena, você passa por mim na rua, eu estou em um bar, sozinho, com uma garrafa de algum whiskey caro na minha frente, e um copo com poucas pedras de gelo. O que você imaginaria de mim? “Nossa, esse deve tá comemorando algo” ou “como eu queria estar” ou outras coisas seguindo esta linha de pensamento.

No segundo cenário, imagine eu novamente sozinho no bar, desta vez com uma garrafa de alguma cachaça mediana e um copo de dose. Será que surgiria o mesmo pensamento da cena anterior? Ou algo mais depreciativo e negativo seria associado a esta situação?

Não vou nem entrar no mérito de como a bebida é uma grandíssima formadora de status (acredite, ela é!), quero apenas salientar nestas situações como é nítido o status alheio aos nossos olhos.

Quis aqui levantar alguns pontos para começar a pensar onde nos vemos situados nesta pirâmide de necessidades, e de que forma nosso lugar na pirâmide define nossa escolha sobre qual restaurante frequentar, qual produto escolher no supermercado, qual dieta seguir, e isto apenas para citar os exemplos mais banais e cotidianos.

Para escrever este post usei ideias de Marcelo Traldi e de Leon Schiffman, nos lirvos: “Tecnologias gerenciais de restaurantes” e “Comportamento do consumidor” respectivamente.

É isto pessoas, um manauara vivendo no interior paulistano e escrevendo pensamentos e crônicas, afim de não surtar em uma cidade com 2700 habitantes. Se gostar pode deixar seu aplauso (de 1 a 50), comentário e/ou crítica, aqui e nas outras redes.

Um beijo, um abraço e até.

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