Mulheres (In)Visíveis 2018

Ricardo Mello
O Bonde
Published in
4 min readSep 11, 2018

O primeiro banco de imagens a destacar a diversidade da mulher brasileira ganhou novas fotos, agora sob o olhar da fotógrafa Helen Salomão, retratando — de maneira não estereotipada — a população mais velha, com deficiência e lésbicas. Essa é a nova edição do Mulheres (In)Visíveis, projeto lindo da 65/10 que teve o Coletivo 47 como cenário.

Para produzir as fotos (que estão disponíveis aqui: https://adobe.ly/MulheresInvisiveis18), os idealizadores do projeto, Adobe e 65/10, investiram mais de um mês de pesquisa e planejamento, incluindo investigação online com o universo que seria retratado e consultoria da Cléa Klouri, da Hype60+ e Fatine Oliveira, designer e autora do blog Disbuga, além do coletivo Catsu Street e do envolvimento da própria Helen. “Que não fosse um olhar estrangeiro — essa sempre foi nossa maior preocupação e nosso maior cuidado. Todo o processo buscou trazer as mulheres para o diálogo e para que construíssemos, todas juntas, o entendimento de como elas queriam ser representadas. A constatação de que 65% das mulheres brasileiras não se identificam com a forma como são retratadas na propaganda é um indicativo de que precisamos mudar”, explica Thais Fabris, fundadora da 65|10.

E foi pra Thais que eu e o Guilherme S. R. Nicolas fizemos algumas perguntas pertinentes ao projeto. Confira:

Coletivo 47: Qual o objetivo da 65/10? E a maior conquista?

Thais Fabris

Thais Fabris: A 65/10 é uma consultoria criativa especializada em mulheres. Estudamos as mudanças no comportamento das mulheres e as demandas dos movimentos sociais e traduzimos para o mundo corporativo. A partir disso, ajudamos empresas a gerarem soluções melhores para as mulheres.

Nos mais de 3 anos da 65/10 já trabalhamos com marcas globais como Unilever, Nestlé e Ambev. Criamos projetos de alcance global para promover nossas causas, como a Cerveja Feminista. Estabelecemos parcerias com a Adobe e outras marcas na criação do primeiro banco de imagens que mostra mulheres invisíveis para a publicidade, o Mulheres (In)visíveis (http://mulheresinvisiveis.com/). E junto com Nescau e Ogilvy Brasil, criamos a campanha Meninas Fortes (https://vimeo.com/207499583) e conquistamos o único (até hoje) leão em Glass Lion de um marca brasileira no Festival de Cannes. Tudo isso nos enche de orgulho, mas a maior conquista mesmo é a rede de mulheres incríveis que nós construímos e a força que conseguimos ter quando estamos juntas.

C47: De onde surgiu a ideia para o projeto Mulheres (In)Visíveis?

TF: O Mulheres (In)Visíveis nasceu junto com a 65|10, quando ainda trabalhávamos como criativas em agências de publicidade e víamos a dificuldade de encontrar imagens nos bancos de imagem que refletissem toda a diversidade das mulheres brasileiras.

C47: Quais dificuldades vocês encontraram nesse projeto?

TF: Encontramos muito mais portas abertas do que fechadas. Na primeira edição, que fizemos sem patrocínio, tivemos parceiros e parceiras oferecendo todo tipo de estrutura para fazer o projeto acontecer. Na segunda edição, tivemos o patrocínio da Adobe e tudo fluiu mais fácil.

C47: Que mercado vocês quiseram atingir com esse projeto? E como ele tem respondido?

TF: Mais que a venda das fotos, o objetivo do projeto é gerar discussão sobre por que deixamos de representar tantas mulheres. Temos conseguido cumprir esse objetivo de gerar conversa: a primeira edição foi tema do Jornal da Cultura e do programa Encontro com Fátima Bernardes, a segunda já saiu no Buzzfeed…

C47: Como combater o machismo estrutural na publicidade? Como mudar o conceito de que a idealização da mulher “vende mais”?

TF: Esse modelo já não funciona e isso se reflete no baixo engajamento de campanhas e até mesmo nas vendas. As marcas estão em busca de novos modelos, tentando se adaptar à realidade atual. Não é nem tanto o caso de combater, é mais ajudar quem não quer ficar pra trás.

C47: Como a 65/10 ajuda as empresas a de fato enxergarem as mulheres? Quais resultados uma empresa pode esperar ao retratar a mulher de maneira adequada?

TF: Nossas soluções passam por pesquisa, análises dos movimentos de mulheres, projetos especiais e co-criação junto com nossos clientes e também com outras mulheres especialistas de suas áreas que compõem nossa rede de apoio e trabalho. Nós trazemos o público-alvo pro processo criativo e isso faz toda a diferença na mensagem final. O resultado é uma aproximação das marcas com a realidade das consumidoras, que faz com que a identificação aumente.

C47: Como a situação atual da mulher brasileira e, por consequência, do feminismo influencia a missão da 65/10 e o projeto Mulheres (In)Visíveis?

TF: O Brasil é um dos países mais atrasados do mundo em relação aos direitos das mulheres. Estamos no topo dos rankings de violência doméstica, estupro, feminicídio, casamento infantil, gravidez precoce… Ao combater a violência simbólica na comunicação, fazemos o que está ao nosso alcance para mudar esse quadro. O Mulheres (In)Visíveis passa por aí: excluir mulheres da comunicação é anular essas mulheres da sociedade, como se elas não existissem ou consumissem. É uma das violências que precisam acabar.

O Coletivo 47 tem muito orgulho de ter servido de cenário pro projeto Mulheres (In)Visíveis

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